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Home»Pecuária»Marca no couro e na memória
Pecuária Atualização:03/06/2022

Marca no couro e na memória

Pedro HameisterPublicado por Pedro Hameister03/06/2022Atualização:03/06/2022Nenhum comentário12 Min de Leitura
Foto: Divulgação

Identificação a ferro e fogo interfere negativamente no manejo de longo prazo, no desempenho do rebanho e na imagem da pecuária brasileira no mundo

Mateus Paranhos da Costa, Jaira de Oliveira, Ana Luiza Mendonça Pinto e Janaina Braga

São apenas 2 a 3 segundos de contato do ferro em brasa com a pele do animal, mas o suficiente para causar uma queimadura de segundo ou terceiro grau, com marcas permanentes que vão além do couro e chegam à memória do animal. Marcar a fogo é método mais antigo para identificação de bovinos, quer seja como prova de propriedade, para identificar indivíduos, para marcar o mês e ano de nascimento ou ainda para fins de controle sanitário dos rebanhos, como é o caso da exigência na face das bezerras vacinadas contra a brucelose.

A preocupação com a questão do bem-estar dos animais de produção é crescente no mundo todo e, como não poderia deixar de ser, também aqui, no Brasil. Por conta disso, a prática de aplicação da marca a fogo nos bovinos tem sido alvo de críticas por parte da sociedade e usada por organizações não governamentais de proteção animal para criticar as cadeias produtivas da pecuária brasileira, inclusive quando aplicada conforme as recomendações do Ministério da Agricutura (Mapa). Por exemplo, em 2016 a organização PeTA (People for the Ethical Treatment of Animals) lançou uma campanha criticando a marcação a fogo de bezerros recém-nascidos e quando as bezerras são vacinadas contra brucelose (ver em https://investigations.peta.org/calves-face-branded-leather-car-interiors/).

Não há como negar que a aplicação da marca a fogo é, por si só, dolorosa e estressante para os bovinos. Como esperado e comprovado por estudos científicos, durante e após a marcação em vacas e bezerros, há elevação da temperatura local por até sete dias. A reação é natural frente ao manejo correto. Por outro lado, se o mesmo for realizado de maneira errada, a situação pode ser agravada, ocasionando feridas abertas que, muitas vezes, demoram a cicatrizar, ampliando o risco de infecções e de infestação por parasitas.

Não há como negar também que os bovinos possuem a capacidade de lembrar das experiências vividas, afinal de contas possuem boa memória e é, justamente por isso, que se tornam mais reativos aos manejos, dificultando o trabalho, inclusive, nos manejos dolorosos. Essa é uma questão particularmente relevante quando esse tipo de manejo é realizado em períodos sensíveis da vida dos bovinos, como no caso dos seus primeiros dias de vida e durante o processo de desmama.

Se estamos cientes dos efeitos negativos da marcação a fogo para o bem-estar dos bovinos e para a imagem das cadeias produtivas da bovinocultura de vários países, a pergunta que fica é: por que ainda hoje seguimos a utilizando como método predominante para a identificação dos bovinos, sendo muitas vezes aplicada já nos primeiros dias de vida dos bezerros?

Essa é uma realidade que oferece muitas oportunidades de mudanças, conforme preconiza o projeto “Redução da Marca a Fogo, Por Uma Nova Marca para a Pecuária”. Encabeçada e apoiada por um grupo de empresas e instituições atuantes no setor (BE.Animal, Grupo ETCO e Agropecuária Orvalho das Flores, com apoio da MSD Saúde Animal, Allflex Livestock Inteligence e JBS), a iniciativa já registra avanços Brasil afora. Todas as fazendas integrantes do projeto reduziram expressivamente o número de marcas aplicadas em seus animais, seguindo o exemplo da Agropecuária Orvalho das Flores (localizada em Araguaina/MT). A propriedade, há mais de cinco anos, reduziu de nove para um o número de marcas a fogo, mantendo apenas a obrigatória (da vacina contra brucelose nas bezerras). Vale lembrar que, na Orvalho das Flores, a maioria das marcas eram aplicadas nos períodos sensíveis da vida dos bezerros, sendo quatro nos primeiros dias de vida (o carimbo de mês e ano de nascimento) e a maioria (com exceção da brucelose) no dia da desmama.

Resultados semelhantes foram alcançados nos rebanhos das três fazendas de cria que participam do Projeto Redução da Marca a Fogo (São Clemente/SP, Rio Corrente Agropastoril/ MS e Cambury/MT) e que mantêm apenas uma ou duas das marcas inicialmente aplicadas – a da brucelose e a da fazenda. Isto implica a redução de pelos menos sete marcas por animal, ou seja, em um rebanho com nascimento de mil bezerros por ano, são sete mil marcas a menos, que representa, além de redução no sofrimento dos animais, uma diminuição expressiva das horas de trabalho e do risco de acidentes.

Embora ainda existam alguns desafios a serem superados como, por exemplo, a mudança das regras atuais que exigem a aplicação de marcas a fogo nas bezerras vacinadas contra brucelose e a alta ocorrência de roubo de gado em várias regiões de nosso país, fica claro que é possível realizar uma redução expressiva no número de marcas a fogo aplicadas sobre o corpo dos bovinos.

Como fazer?

Quando a aplicação da marca a fogo for extremamente obrigatória ou necessária, deve ser realizada muito cuidado e atenção, evitando-se agravar os problemas causados pelas queimaduras. Por exemplo, não se deve aplicar aplicá-la em dias de chuva nem em locais do corpo dos animais que estejam molhados ou cobertos com lama ou excrementos. Nesse caso, atenção especial deve ser dada as fêmeas, pois, quando estressadas, urinam com maior frequência, molhando as caudas que, ao serem agitadas, molham também as pernas traseiras, onde geralmente são aplicadas as marcas.

Adicionalmente, devem-se colocar as marcas nas pernas dos bovinos, abaixo da linha do ventre, como prevê a Lei No 4.714, de 29 de junho de 1965, pois, além de preservar defeitos na área a parte mais valorizada do couro (o grupon) é uma das partes do corpo dos bovinos com menor concentração de receptores de dor.

Fazendas que substituíram a marca a fogo por métodos menos agressivos de identificação individual relatam que, além dos benefícios para os bezerros, que ficam menos estressados durante a realização dos manejos de rotina, foram notadas alterações importantes no comportamento dos vaqueiros, que passaram a desenvolver o seu trabalho com mais atenção e cuidado, tanto com os animais e como com si mesmos. Esses resultados são fruto de uma mudança de atitude frente a um manejo de antiga tradição.

A marca a fogo é uma agressão à pele do animal, independente da idade e da forma aplicada. No entanto, torna-se ainda mais grave quando ocorre em bezerros recém-nascidos, que têm a pele muito mais fina que a de animais adultos, e, nos locais de aplicação da marca, têm músculos ainda pouco desenvolvidos. Eles também estão em um período de aprendizagem, o que os faz altamente sensíveis às experiências vividas no longo prazo. Na prática, a marcação nos recém-nascidos definirá a forma com que reagirão a manejos futuros, podendo resultar em distúrbios reprodutivos, sociais ou comportamentais e, nos casos mais graves, chegar à rejeição do bezerro pela mãe.

O primeiro manejo dos bezerros é, por sua natureza, estressante, principalmente quando é conduzido sem cuidado e com práticas agressivas, dentre elas a aplicação de marcas a fogo. Como esse manejo é geralmente feito: nos primeiros dias de vida dos bezerros os vaqueiros fazem o rodeio das vacas recém-paridas e um deles, montado a cavalo, laça um dos bezerros e o leva (às vezes arrastando) até o local onde os outros vaqueiros se encontram, separando-o de sua mãe. Em seguida, outro vaqueiro realiza a contenção manual do bezerro, colocando-o deitado no chão (algumas vezes sem nenhum cuidado) para realizar os procedimentos de manejo, que geralmente envolve a cura do umbigo, a injeção de um medicamento antiparasitário e as aplicações de marcas a fogo, conhecidas como “carimbo”, que identificam, com três ou quatro dígitos (geralmente, posicionados na paleta direita ou na face do bezerro) seu mês e ano de nascimento. Durante esse manejo, os bezerros experimentam as sensações de medo, desconforto e dor, que são muito intensificadas quando os procedimentos de manejo não são realizados com cuidado, resultando também em maior risco de acidentes, que podem resultar em ferimentos ou até na morte dos bezerros.

Fazer a adoção das boas práticas de bem-estar animal com os bezerros recém-nascidos, com certeza, minimiza esses riscos. Vale lembrar que esse primeiro manejo oferece uma grande oportunidade para que se forme uma relação de confiança entre vaqueiro e bezerro, já que o bezerro bem acolhido e bem cuidado irá confiar no vaqueiro, facilitando a realização de manejos futuros. Um passo importante nesse sentido, é eliminar o uso de marcas a fogo para a identificação do mês e ano do nascimento dos bezerros, que podem ser substituídas por métodos menos agressivos, combinando, por exemplo, o uso de tatuagem com brincos de identificação coloridos.

Bezerras marcadas na face

A Instrução Normativa no 10, de 3 de março de 2017, do Mapa, estabelece o Regulamento Técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (PNCEBT). Seu artigo 12 obriga a “…marcação das fêmeas vacinadas entre três e oito meses de idade, utilizando ferro candente. […] no lado esquerdo da cara”. É importante reconhecer que a face é uma das áreas do corpo com maior sensibilidade a dor e, por conta disso, não deveria ser usada para a aplicação da marca a fogo.

É agravante o fato de a aplicação da marca a fogo na face das bezerras requerer a contenção da cabeça delas com as mãos, de forma a assegurar sua total imobilidade e posicionamento para tal. A situação é altamente geradora de estresse e desconforto, tanto para elas como para os vaqueiros que realizam a contenção, pois ficam expostos ao calor irradiado pelos ferros de marcação e pela fumaça inalada após a aplicação.

Marcação na desmama

É ainda frequente aplicar marcas a fogo que identificam a fazenda e o animal no momento em que se realiza a desmama dos bezerros. O argumento utilizado para justificar a realização simultânea desses manejos é a economia de tempo, uma vez que os bezerros já estão no curral, facilitando a realização do trabalho. Entretanto, essa prática não leva em conta o fato de eles ficarem mais estressados quando práticas aversivas são realizadas ao mesmo tempo, resultando em maior risco de perda de peso e de desenvolverem doenças infecto contagiosas e parasitárias.

Para minimizar esses riscos, devemos reduzir o estresse causado pela desmama, evitando realizar práticas aversivas no mesmo dia em que os bezerros são desmamados e adotando práticas de manejo que levam em conta o bem-estar dos animais, como é o caso da desmama lado a lado.

Também há a possibilidade de se adotar estratégias de manejo e métodos de identificação que minimizem o estresse causado pela aplicação. Conforme citado anteriormente, tudo começa no primeiro manejo dos bezerros, quando são tatuados com o número de identificação individual e recebem furos na orelha para posterior colocação dos brincos. Quando essas práticas são realizadas corretamente, é assegurada uma identificação individual permanente (a tatuagem) e há redução dos riscos do desenvolvimento de bicheiras e de orelhas tronchas no local da colocação dos brincos. Mais tarde, com os furos já completamente cicatrizados, são colocados os brincos, sendo recomendado combinar um brinco visual com outro eletrônico para melhorar o controle do rebanho. Vale relembrar que a combinação de cores dos brincos de identificação permite controlar o mês de nascimento dos bezerros, reduzindo ainda mais o número de marcas a fogo.

Iniciativas de mudança

Existem várias iniciativas para eliminar a aplicação da marca a fogo na face dos bovinos para fins de controle sanitários no mundo, como o caso dos Estados Unidos (EUA), onde marca a fogo é usada para o controle da vacina contra brucelose foi substituída por uma tatuagem. A ação confirma o compromisso do USDA (United States Department of Agriculture) de avaliar continuamente as regras para identificação de forma a garantir que os métodos recomendados sejam tanto humanitários quanto efetivos para o controle de doenças dos animais de produção e para o propósito da saúde pública. No Brasil há iniciativas semelhantes, buscando encontrar soluções para que não seja necessária o uso da marca a fogo na face das bezerra. Porém, essa prática ainda é exigida por algumas associações de criadores para fins de registros genealógicos e pelo Mapa para o controle da vacinação de brucelose.

Consideramos que uma alternativa mais progressista seria substituir as marcas a fogo por métodos de identificação eletrônica, como se deu no caso da Associação Canadense dos Criadores de Angus, que passou a utilizar a tatuagem combinada com a identificação eletrônica para o registro dos animais. Aí está um bom exemplo a ser seguido por diversas associações de criadores brasileiras que ainda exigem a aplicação. Algo semelhante também poderia ser feito no caso do controle de vacinação da brucelose em nosso país.

Assim, considerando que já existem métodos alternativos à marcação a fogo para identificar as bezerras vacinadas contra brucelose, é preciso que o Mapa considere revogar a obrigatoriedade da marca a fogo e a substitua por outra forma de identificação que seja ao mesmo tempo eficaz para o propósito da defesa sanitária, porém menos prejudicial aos animais. É preciso lembrar que à Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa também compete normatizar sobre o bem-estar dos animais de produção (Decreto 10.253/2020, artigo 21, III, h), o que deve servir como incentivo para que, no contexto do PNCEBT e de outros programas, busque conciliar a necessidade de identificação dos animais com métodos que não cause sofrimento aos bovinos.

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Pedro Hameister
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