
Prezados leitores, escrevo esta coluna ao final de outubro. A grama do jardim onde moro, em Jaboticabal (SP), já está bem verde. Muitas regiões do Brasil já plantam com segurança, porém, alguns de nossos clientes ainda sofrem com pouca água. É verdade: as chuvas transformam paisagens, uma benção para bovinos, pecuaristas e para a vida.
Ouço relatos e tenho também a percepção de que as chuvas têm mudado um pouco seu comportamento em diferentes regiões por onde ando, com estações menos definidas durante o ano, o que é natural para este antigo planeta de aproximadamente 4,54 bilhões de anos. A velha Terra já passou por mudanças de clima bem mais radicais, todas por influências naturais, já que a existência do Homo sapiens data de aproximadamente 300 mil anos. Começamos a ocupar o planeta azul bem devagar até a revolução agrícola, momento em que o crescimento da população humana passou a ser exponencial, até chegarmos aos atuais 7 bilhões de habitantes.
Atualmente, a inclinação da Terra é de 23°26’21’’, entretanto esse valor não é fixo. A obliquidade oscila entre 22° e 25° em um ciclo que leva, aproximadamente, 41.000 anos. Será que pequenas alterações na inclinação, em ciclos menores de tempo, são suficientes para mudar o regime de chuvas em determinadas regiões? É importante pensar que a água é cíclica e que sua quantidade praticamente não se altera. O que muda são suas proporções de estado – sólido, líquido e gasoso. Assim, se chove menos em uma região, deve estar chovendo mais em outra. Se chove menos em um período do ano, pode ser que a compensação venha em outro.
Fico inconformado com notícias sensacionalistas dizendo que, para produzir um quilo de carne, o bovino consome um volume absurdo de água, como se ela não retornasse para natureza pela evaporação da urina, suor, fezes e mesmo quando o animal morre e se decompõe. Mudando de tema, a política de um país, continente ou mundo também vive de ciclos, ora virtuosos, ora desastrosos.
O Homo sapiens, por sua vez, aumenta assustadoramente em número, escancarando seu espírito predador e transformando o cenário como a casta que mais influencia a natureza e o equilíbrio entre
as populações das diferentes espécies – que baita responsabilidade. O primeiro bilhão de habitantes na Terra aconteceu por volta dos anos de 1.800. Estima-se que, nos próximos 49 anos, a atual população dobre de tamanho. Para atender a essa demanda, a agropecuária terá de se reinventar, ganhar eficiência e aumentar a produção de forma sustentável.
Cumprindo seu papel, a pecuária e a agricultura se transformaram nas últimas décadas. Já vimos esse filme antes. Cerca de 10.000 anos a.C, aconteceu a primeira revolução agrícola, quando o ser humano passou de coletor e caçador para agricultor e criador, atividades que permitiram a organização em cidades e o aumento da população – mais uma vez falamos de ciclos.
O complicado é refletir sobre o limite desse crescimento, pois estamos longe de atingi-lo na minha ou na sua existência. A sustentabilidade entre população, produção e preservação de recursos não renováveis será um grande desafio para os próximos séculos. Voltando ao tema da pecuária atual, vejo uma bela qualidade zootécnica no pescado, que, por ser pecilotermo, sangue frio, não gasta energia para termorregulação corporal. Também enxergo vantagens no zebu, com capacidade de digerir gramíneas tropicais “pouco” exigentes em nutrientes e que fazem a fotossíntese utilizando energia solar – energia limpa. Vale ressaltar que o capim sequestra carbono, fazendo com que o sistema de produção seja equilibrado.
Quando digo que as gramíneas tropicais não são tão exigentes, não quer dizer que se bem adubadas/cultivadas não produzam mais, assim como quando falo que o zebu é rústico, também sabemos que é possível prenhezes aos 14 meses e altos ganhos em peso e acabamento nos machos.
A pergunta a ser respondida é: quanto custa, em dinheiro e recursos, esse aumento de produtividade? Qual é o sistema de produção ideal, no sentido de ser mais sustentável no equilíbrio de input de insumos e produção? E, mais uma vez reforço, além do lucro, pensar em sustentabilidade é extremamente importante quando o olhar é a médio e longo prazo.
É necessária toda esta reflexão para projetarmos a genética zebuína do futuro? Na seleção de gado, posso dizer que já acompanhei alguns ciclos ditados por modismos empíricos ou mesmo pela ciência, que também evolui e quebra paradigmas num processo
dinâmico. Além de filosofar de vez em quando, nós, do agro, seguimos firmes no afã de produzir alimento com segurança, qualidade e sustentabilidade.
Na genética bovina, o sucesso, em médio prazo, das próximas linhagens depende em antecipar quais serão as próximas tendências nesse complexo quebra-cabeça que determinará o futuro do ser humano e a sua relação com as espécies utilizadas para produção de alimento.
Vamos que vamos