Desde o final do ano passado é notada uma mudança do ciclo pecuário no Brasil, que tem se confirmado a cada mês de 2022. “Agora é um período de maior oferta no mercado, isso traz uma maior disponibilidade de carne e, consequentemente, causa uma pressão para os preços da arroba”, avalia Thiago Trento, pesquisador de Pecuária de Corte da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT).
Em relação ao abate de bovinos, em 2022 houve incremento de mais de 5% em relação ao mesmo período do ano passado (janeiro a agosto). Esse aumento vem principalmente do abate das fêmeas, que cresceu nesses meses quase 12%, um indicativo de virada de ciclo.
Outro indicativo está nos preços de reposição em Mato Grosso, que estão recuando desde o final do ano passado. “Tudo indica que a bovinocultura está passando por um processo de mudança, com maior oferta e consequentemente isso traz uma maior pressão sobre os preços”, acrescenta Monique Melânia Kempa, coordenadora da inteligência de mercado do Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária).
Desafios da virada do ciclo pecuário
O principal desafio para os pecuaristas vai ser em relação ao custo de produção, neste ano há uma estimativa de crescimento de 37% para cria, 19% para recria e engorda e 29% para o ciclo completo. O aumento é significativo e traz atenção para o produtor, que precisa ter os custos calculados e se proteger no mercado futuro para não ficar refém das oscilações de preços.
Já, em termos de demanda, é preciso uma contextualização sobre o que fica dentro de Mato Grosso, o que vai para outros estados e o que segue para exportação. “Nos últimos anos, sempre vimos um cenário de 80% da produção de carne bovina ficando no mercado interno e 20% sendo embarcados a outros países. Com a entrada mais forte da China, em 2021, já vimos um cenário diferente, mudando a relação para 65-35%, respectivamente”, destacou a coordenadora.
Para 2022, 40% são estimados para exportação e 60% para o mercado interno, posto que o consumo per capita de carne bovina do brasileiro está caindo. A Conab estima 24,8 quilos por ano, ou seja, o menor patamar dos últimos dez anos. Esse número vem diminuindo desde o começo da pandemia, com a desaceleração econômica. Como 2022 não teve entrada de auxílios do governo, houve retração de quase 11% em relação a 2021.
Existem, ainda esse ano, alguns eventos que podem auxiliar na demanda da carne bovina. Entre eles estão as eleições que injetam mais dinheiro na economia e para novembro a Copa do Mundo, que pode auxiliar com mais confraternizações e aumento do consumo doméstico.
E dezembro, que é sazonal, com as festividades de final de ano e a entrada do 13º salário, também podem contribuir para elevar a demanda. “A expectativa é de que se houver uma recuperação econômica em 2023, aliada à perspectiva de maior oferta de carne, podemos ter um potencial de melhora na demanda doméstica, mas ainda está um cenário bem nebuloso”, conclui Monique. De janeiro a agosto deste ano Mato Grosso foi responsável por 3,2 milhões de animais abatidos.
Área de pesquisa é importante
Para enfrentar esses desafios, Trento afirma que a Fundação MT, que é referência em pesquisas agronômicas, possui agora uma área de estudos em pecuária. “Dessa forma é importante divulgar informações de pesquisas em desenvolvimentos e finalizadas, para que o pecuarista possa replicar isso em sua fazenda e, assim, alavancar sua produtividade individual e por área, sem a necessidade de agredir o meio ambiente, ou seja, sem abrir novos pastos”, finaliza.