Coluna Palavra de Produtor, escrita pelo engenheiro-agrônomo em Tangará da Serra/MT, especialista em administração de empresas, autor do livro Reflexões de um Alemão Cuiabano, Rui Alberto Wolfart.
A contribuição científica brasileira no campo da produção sustentável é tamanha que cabe um tratado como referência global. A junção das peças desse arcabouço de tecnologias, de espécies vegetais e de microrganismos gerou uma revolução silenciosa cujos resultados precisam ser amplificados. Inicia-se com as plantas de cobertura de solo, fundamentais para o manejo ecológico dos mesmos, como já dizia a saudosa professora Primavesi, com a dinâmica física/química/biológica gerada pelo uso dessas diferentes espécies como as braquiárias, leguminosas e outros, que os resultados de pesquisas científicas vêm demonstrando crescentemente.
Segundo diferentes estudos da Embrapa Soja, didaticamente explicados pelo pesquisador Henrique Debiasi, entre outros, somente com o uso de braquiárias ocorre a formação de, aproximadamente, 9 toneladas por hectare de massa seca da parte aérea e de outras 6 toneladas por hectare de massa seca de raízes. Ainda há o concurso de plantas como as crotalárias e estilosantes, promovendo a fixação de nitrogênio.
“A contribuição científica brasileira no campo da produção sustentável é tamanha que cabe um tratado como referência global“
Essa associação de espécies para cobertura de solo turbina o sistema pelos efeitos na estruturação do solo, aumentando a porosidade, aeração e a consequente retenção da água das chuvas, possibilitando a penetração profunda de nutrientes, bem como seu transporte para a camada superficial e permitindo reciclagem de nutrientes como o potássio. A quantidade já conhecida dessa matéria seca permite determinar o quanto de carbono foi sequestrado somente nesse tópico do conjunto produtivo, tão importante para o cumprimento de metas ambientais brasileiras.
A não mobilização dos solos com gradeação e a consequente diminuição da temperatura da superfície deles propiciam a proliferação de bactérias, fungos e vírus nessa camada superficial com matéria orgânica, o que encadeia outros resultados benéficos, como a redução do uso de “químicos” nas lavouras.
A utilização das sementes de forrageiras, principalmente as braquiárias, também provocou resultados importantes à indústria sementeira.
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Em 2002, a partir da parceria firmada entre Embrapa e empresas dos estados da Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo, com o objetivo de atuar “em prol da pesquisa para o lançamento de novas cultivares de forrageiras e tecnologias para diversificar e fortalecer o desempenho da agropecuária nacional”, foi fundada a Associação para o Fomento à Pesquisa de Melhoramento de Forrageiras (Unipasto). Os últimos dados do emprego dessas sementes são surpreendentes. A mudança nesse mercado também demonstra o avanço no processo denominado integração lavoura-pecuária (ILP).
Hoje, 68% dessas forrageiras são destinadas à agropecuária e apenas 32% para a pecuária tradicional.
Todavia, há uma lacuna na oferta de sementes de plantas de cobertura no que tange às leguminosas. Falta organização desse segmento quanto à sua oferta para atender a demanda da agricultura.
As mudanças derivadas do conhecimento vêm provocando esse terremoto nos mercados de “insumos” empregados no campo brasileiro. Lembremos que o Plano Agricultura de Baixo Carbono – ABC deveria receber efetivo compromisso do Governo Federal, com a dotação de recursos vultuosos para a sua implementação, abandonando a retórica dos discursos ambientais, comuns aqui e mundo afora, quando se trata da produção de alimentos com componentes de sustentabilidade.