A escolha das culturas, a estratégia de plantio e a comercialização dos produtos vão depender do interesse de cada gestor. Há propriedades que optam pela Integração Lavoura-Pecuária (ILP) para solucionar questões pontuais do pasto, outros transformam as atividades por completo. Alguns proprietários resolvem vender os grãos, outros arrendam a lavoura.
Plano e equipe

Não existe fórmula pronta, cada produtor deve ter em mente quais são os seus objetivos comerciais e ter consciência da realidade econômica e estrutural de sua produção. Neste universo, somente há uma verdade: só terão sucesso aqueles que tiverem um plano definido e estiverem munidos de uma equipe capacitada.
Os especialistas alertam: a implementação de um sistema de integração deve ocorrer aos poucos, em moderados hectares e com o amparo de uma assistência técnica. Querer comprar uma colheitadeira top de linha ou plantar em um espaço extenso podem ser grandes erros para quem está começando.
“O produtor tem que ter muita noção do fluxo de caixa e isso tem que ser tecnicamente planejado em tempo e espaço. O planejamento de estrutura e maquinário vai ser uma consequência deste planejamento”, avalia o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
“A produção não pode ser totalmente integrada de um ano para um outro. A entrada da agricultura tem que ser gradual.”
Paulo Carvalho
O auxílio de profissionais qualificados e experientes pode ser decisivo na transação do sistema. “Às vezes, o pecuarista não se dá conta, mas é diferente de um agricultor, por exemplo, que tem muito mais tecnologia, está muito mais ligado na lavoura”, diz o pesquisador da Embrapa Gado de Corte Roberto Giolo.
Segundo ele, é interessante que o produtor busque um técnico para fazer isso. “Porque imagina um pecuarista que mal e mal tem um tratorzinho com uma grade. Se for plantar, tem que alugar máquina, ou vai precisar de parceria com vizinho que a tenha.”
Diversificação
Adotar um sistema rotacionado é uma estratégia indicada para o pecuarista que busca recuperar o pasto degradado com a ILP, mas que ainda planeja diversificar os seus ganhos. O ideal é dividir a área em glebas e recuperá-las aos poucos até fechar o ciclo estipulado.

“Ele divide a terra, por exemplo, em cinco piquetes. Vamos supor que tenha mil hectares e, a cada ano, vai renovando uma área de 200 hectares. Em cinco anos, ele terá renovado todo o pasto. Imagina, a cada ano ter 200 hectares de um pasto top de linha. Um pecuarista mais para frente faz isso”, explica Giolo. De acordo com o pesquisador, desta forma, a produtividade do pasto é muito maior do que se ele tivesse apenas adubando.
No sistema de integração, aconselha-se plantar a lavoura durante o “período das águas” e a pastagem antes do início da fase de seca. Ele explica que o pasto normal começa a ficar ruim em maio, já um de integração vai estar verdinho, pronto para o pastejo.
“Este é outro benefício da integração: além de ser um pasto melhor, você vai ter um pasto melhor em um período que ele costuma estar ruim.”
Paulo Carvalho
Grãos
No entanto, o tempo de cultivo de cada produto deve ser levado em conta para que a colheita ocorra no momento exato para a próxima atividade. Os grãos mais comuns de serem utilizados nas integrações são a soja, seguida do milho e sorgo. Há propriedades também, dependendo da região do país, que cultivam feijão, trigo, algodão, arroz, girassol. Estas culturas têm sido empregadas com sucesso em rotação, consorciação e/ou sucessão com forrageiras.
Para o professor da USP Moacyr Corsi, no entanto, antes de escolher qual plantio será usado na lavoura, o produtor deve estudar as possibilidades e conhecer suas especificidades. “Ele tem que buscar um pacote que seja capaz de desenvolver. Se executa parcialmente um pacote tecnológico, ele pode ficar frustrado com o retorno econômico”, afirma. Ressalta, ainda, a importância de se fazer associações entre os produtos.
“O milho para silagem tem em média 90 a 120 dias de cultura, o grão úmido 120 e o milho para grão vai precisar de 150 dias. ‘Puxa, qual o interesse de saber tudo isso?’ Porque se plantar milho para silagem, vai liberar a área dele ali para fevereiro ou março (na região central do país). Então, já semeia o capim, exatamente quando começa o declínio da produção de forragem no pasto. Daí ele já tem uma área nova para integrar”, destaca.
Corsi ainda exemplifica que, no caso da soja, o produtor poderá utilizar uma variedade mais precoce para liberar aquela área antes. “Entre 100 a 120 dias, por janeiro ou fevereiro; e começar a plantar a pastagem.” Tudo vai depender dos objetivos de cada gestor e do mercado da região.
Lucro
O valor de venda do produto e custos operacionais também pode influenciar a escolha da cultura pelo pecuarista. O pesquisador da Embrapa Gado de Corte Roberto Giolo destaca que a comercialização da soja pode pagar toda a implantação da pastagem e ainda sobrar verba. No entanto, o lucro com a venda do milho, que exige uma adubação mais elaborada, pode cobrir apenas uma parte.
De qualquer forma, um pecuarista, ao adotar a ILP, deve se conscientizar que as suas atividades irão se modificar, e elas não podem se sobressair sobre a outra. “A maior parte das pessoas, e mesmo profissionais técnicos, acabam tempo uma noção de rotação de cultura, como se fosse uma rotação de pasto e agricultura, ao invés de um olhar sistêmico”, afirma o professor da UFRGS Paulo Carvalho. Isso quer dizer que elas passam a depender uma da outra para garantir, cada vez mais, o êxito da produção.
“O produtor deixa de ser pecuarista, mas não é que ele se torne agricultor. Passa a ser um administrador de sistema de produção integrado.”
Paulo Carvalho
Rendimento
Da mesma maneira que a lavoura contribui na produtividade da pastagem, esta também colabora no rendimento das culturas de grãos. O segundo ciclo da lavoura, por exemplo, será mais produtivo do que o primeiro. Isso ocorre porque as raízes do pasto ajudam a fixar mais carbono no solo.
“Quando você coloca a lavoura de novo depois da rotação, os dados mostram de 2 a 15 sacas a mais de lavoura. Não é só o pasto que fica melhor, mas a lavoura também”, avalia Giolo. Essa é a importância da sucessão da alternância: quanto mais ciclos o sistema tiver, maior vai ser a qualidade do solo e, consequentemente, a eficiência da integração.
Texto: Laura Berrutti
Fotos: Grupo Valim