Luciane Barbosa Farias, a “Dama do Tráfico Amazonense”, se encontrou duas vezes com assessores do ministro da Justiça de Lula, o comunista Flávio Dino, nas dependências do ministério em 2023. Seu nome, porém, não consta nas agendas oficiais da pasta.
A “Dama do Tráfico” foi condenada em segunda instância a 10 anos de prisão por formação de organização criminosa, lavagem de dinheiro e associação para o tráfico, mas está recorrendo em liberdade. E, nas ocasiões de suas visitas ao ministério da Justiça, ela apresentou denúncias contra o sistema prisional amazonense na condição de presidente da ONG Associação Instituto Liberdade do Amazonas, que defende os direitos dos bandidos condenados daquele estado, como é o caso de seu marido.
“Tio Patinhas”
Clemilson dos Santos Farias, conhecido também como “Tio Patinhas”, é um dos líderes do Comando Vermelho. Ele é casado com a “Dama do Tráfico” desde 2012 e foi condenado a 31 anos de cadeia pelos mesmos crimes da esposa. Por anos o “Tio Patinhas” foi considerado o maior procurado pela polícia do Amazonas até ser finalmente capturado às 18h30 do dia 11 de dezembro de 2022, enquanto “coroava” a mulher, que estava sentada em um “trono” dentro de uma igreja protestante, durante uma espécie de ato simbólico. Na operação, a polícia ainda apreendeu 235 kg de “super maconha” (skunk), munições calibre .36 e um RG falso.
Investigações da Polícia Civil indicam que o “Tio Patinhas” ordenou, em 2017, o assassinato da esposa de um dos líderes da “Família do Norte” (FDN), uma facção rival ao Comando Vermelho em Manaus/AM, como resposta a um suposto atentado que teria sofrido em 2015. Contudo Adriana Monteiro da Cruz, irmã da mulher que ele queria matar, acabou assassinada por engano na ação. Ele ainda responde por esse crime.
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Clemilson também é investigado por financiar a fuga em massa de 35 presos do Centro de Detenção Provisória de Manaus em maio de 2018. Ele foi preso no mês seguinte e, em julho daquele mesmo ano, foi transferido para um presídio de segurança máxima federal. Apesar disso, em 2019 um homem foi encontrado morto em Manaus, enrolado em papelão, com um cartaz sobre o seu rosto onde se lia “Devia ao Tio Patinhas”.
Em 2020, Clemilson foi transferido de volta para Manaus. E, em 25 de janeiro de 2022, a juíza Rosália Guimarães Sarmento revogou a sua prisão e ordenou a expedição de um alvará de soltura para o meliante, que foi solto no dia 26. Já no dia 27, porém, o Ministério Público recorreu da decisão e o desembargador de plantão expediu um novo mandado de prisão preventiva, levando a recaptura do criminoso em dezembro do ano passado.
ONG de fachada
Segundo a Polícia Civil do Amazonas, a ONG de Luciane, fundada em 2022, lava dinheiro para o tráfico. Conforme relatório, a organização serve como uma fachada para o Comando Vermelho, que paga todas as contas da Liberdade do Amazonas, quais sejam aluguel, luz, internet, contador, funcionários e até gasolina.
Apesar de já ter sido condenada, a “Dama do Tráfico” disse, em nota, não ser ligada a nenhuma facção criminosa e que está sendo “perseguida” por ser mulher de bandido. E ainda afirmou que, no Brasil, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), uma pessoa só pode ser considerada criminosa após o trânsito em julgado. Ou seja, caso tenha dinheiro para recorrer, há grandes chances, no entender dela, de que só possa ser considerada criminosa após ser julgada pelo próprio STF.
Governo Lula
A “Dama do Tráfico” se encontrou com o secretário Nacional de Assuntos Legislativos de Flávio Dino, Elias Vaz, a 19 de março deste ano, tendo, inclusive, posado para uma foto com ele – a qual foi postada em seu perfil no Instagram. E mais tarde, no dia 2 de maio, reuniu-se com o secretário nacional de Políticas Penais do Ministério da Justiça, Rafael Velasco Brandani, ao lado de quem posou para uma foto que foi publicada no perfil da sua ONG.
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Vaz tem uma longa carreira na política, tendo sido vereador por 18 anos, sempre filiado a partidos de extrema-esquerda, como PSOL, PV, PSTU e PSB. Já Velasco trabalhou com Dino durante a gestão do comunista no Maranhão e foi, inclusive, elogiado pelo ministro quando do anúncio de sua nomeação, a 27 de dezembro de 2022, ocasião na qual Dino afirmou que ele tinha “experiência na área (da segurança pública), em Minas Gerais e no Maranhão”.
Dino na Maré
Coincidentemente, seis dias antes de a “Dama do Tráfico” ter ido pela primeira vez ao Ministério da Justiça, Flávio Dino adentrou a favela Nova Holanda, que fica dentro do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro/RJ, e é controlada pelo Comando Vermelho, facção à qual pertence o “Tio Patinhas”, marido de Luciane. Segundo informou, à época, a Gazeta do Povo, o ministro não contava com proteção policial. E ainda: fontes internas da Polícia Militar teriam contado à Gazeta que a entrada de Dino na Nova Holanda jamais poderia ocorrer sem a permissão dos traficantes do Comando Vermelho.
Também à época, a pasta de Dino informou que membros da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Civil e Polícia Militar teriam participado da segurança o do ministro. Contudo a reportagem da Gazeta afirma que os agentes de segurança envolvidos eram poucos e que estavam fora da favela e em inferioridade bélica em relação aos narcotraficantes.
Estadão
A reportagem que originou toda essa repercussão foi inicialmente publicada pelo jornal O Estado de São Paulo nessa segunda-feira (13). Apesar, porém, de todas essas informações, tal qual Lula à época do caso do Mensalão, a pasta de Flávio Dino disse que “não sabia de nada” (em relação aos encontros da “Dama do Tráfico” com assessores de Dino no Ministério da Justiça).
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