No evento Pré-COP29 – De Baku a Belém, promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) na quarta, 9, em Brasília, o presidente da Comissão Nacional de Meio Ambiente da CNA, Muni Lourenço, apresentou os principais destaques do posicionamento da entidade que será levado à 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-29), que ocorre em novembro, em Baku, no Azerbaijão.
Segundo Lourenço, o documento reflete os anseios e pontos de vista do agronegócio sobre as principais pautas da agenda climática mundial, como o financiamento climático, a meta global de adaptação, mercado de carbono e acordos multilaterais não negociados.
“Contamos com a contribuição inestimável das Federações de Agricultura e Pecuária Estaduais que também colaboraram com a elaboração desse documento”, disse.
“Sem dúvida alguma, nosso posicionamento reafirma o assunto meio ambiente como uma pauta prioritária para esta casa e para o produtor rural brasileiro.”
O dirigente destacou que a CNA considera o agro como um setor crucial para o cumprimento das metas do acordo do clima e da Agenda 2030.
Para ele, tem sido uma constatação nas conferências do clima que o agro brasileiro tem posição determinante no cumprimento das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) do Brasil e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Brasil, parte da solução
Outro ponto do documento trata do grupo de trabalho de Sharm el-Sheikh, instituído na COP 27, no Egito, em 2022.
Para o presidente da comissão da CNA, o grupo será uma oportunidade de mostrar o agro brasileiro como parte da solução para o enfrentamento das mudanças climáticas globais, dado que o Grupo aborda questões ligadas à Agricultura e Segurança Alimentar.
“Nós defendemos no posicionamento que se aprove o plano de trabalho do grupo de Sharm el-Sheikh, que abrange a criação do portal online que centralizará os projetos sobre agricultura e segurança alimentar e abrangerá a definição de temas de workshops e elaboração de relatórios”, explicou.
Mais sobre o agro brasileiro e o meio ambiente em Os avanços em sustentabilidade da pecuária brasileira apresentados em conferência mundial
“Consideramos que esse portal será importante não só para a troca de experiências entre os países, mas para fomentar oportunidades de cooperação e financiamento climático.”
Muni Lourenço afirmou ainda que o posicionamento da CNA traz uma perspectiva sobre a COP 30, em Belém/PA, em 2025.
Na avaliação do presidente, a discussão na próxima conferência do clima na região amazônica deve estar além da preocupação com a floresta, e deve levar em consideração também aspectos sociais e econômicos.
“Temos que ter também ações concretas para promover o desenvolvimento econômico, social e sustentável para mais de 20 milhões de brasileiros que vivem naquela região”, lembrou.
“A COP 30 marcará os dez anos do Acordo de Paris e será onde os países apresentarão a nova ambição climática para o período 2031-2035. A expectativa é a que a nova NDC brasileira seja embasada por políticas setoriais e ampla participação do setor produtivo na sua elaboração”.
Em relação à NDC, Lourenço enfatizou que o Brasil precisa mostrar liderança com um novo compromisso ambicioso e, ao mesmo tempo, compatível com a capacidade de implementação dos diferentes setores da economia.
“É preciso que o setor agropecuário consolide cada vez mais suas práticas sustentáveis no cenário internacional e viabilize fontes de financiamento das ações de adaptação e mitigação”, ressaltou.
Lourenço lembrou ainda que a CNA estará novembro no Azerbaijão, acompanhando de perto os trabalhos da COP 29 e mantendo interlocução com os negociadores brasileiros em benefício do agro.
“Compromissos claros e concretos”
“Esperamos que desse grande evento decorram compromissos claros e concretos que atendam à necessidade da humanidade e do mundo, promovendo a sustentabilidade ambiental, a inclusão social e a melhoria da qualidade de vida da população”, destacou.
O evento contou ainda com o painel ‘O que o agro espera da COP 29?’, com a participação do coordenador de Sustentabilidade da CNA, Nelson Ananias Filho, como mediador, do consultor Rodrigo Lima, sócio-diretor do Agroícone, e do professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Daniel Vargas.
Os painelistas reforçaram a importância do agro brasileiro se posicionar como parte da solução para as mudanças climáticas, levando para a conferência do clima as tecnologias sustentáveis de agricultura de baixo carbono e as ações de mitigação e adaptação.
Além disso, pontuaram que os países participantes devem discutir não apenas ações de mitigação, mas também olhar para a segurança alimentar, geração de emprego e renda, e outras frentes impactadas pelas mudanças climáticas.
Lima citou a criação do portal online a partir do grupo de trabalho de Sharm el-Sheikh onde os países poderão mostrar para o mundo quais são seus desafios na agropecuária em relação às mudanças climáticas e o que precisa ser feito.
“Os países da América Latina querem recuperar pastagens para produzir carne de baixo carbono. Ou seja, continuar produzindo alimentos de forma mais eficiente e adaptada”, revelou Lima.
O consultor acredita que a agropecuária traz soluções para diversos setores da economia e para a própria agropecuária.
“Estamos em um momento de consolidar a visão de que as agriculturas do mundo trazem soluções para a crise climática”, afirmou.
“O momento é muito oportuno para construirmos cada vez mais soluções de agricultura na visão de cada país. Precisamos produzir de forma eficiente, reduzindo impactos.”
Protagonista tropical
Para Daniel Vargas, o mundo hoje vive uma “crise da diplomacia climática” e a COP 29 será um espaço para os países se “ajudarem e tentarem resolver”.
Na visão do especialista, será o momento de o Brasil mostrar o que está fazendo, os esforços da Embrapa em desenvolver tecnologias e dar exemplo como país protagonista do “mundo tropical”.
Vargas disse ainda que apesar da crise climática, o Brasil não é parte dessa tensão.
“Inclusive o mundo nos enxerga como árbitros ou mediadores dessas tensões globais, tanto é que sabemos das expectativas que teremos no território nacional no próximo ano”, falou.
O especialista enfatizou que é necessário olhar as NDCs além da mitigação e que o Brasil só vai diminuir as emissões à medida que a economia crescer.
“Acredito que é muito importante que o debate brasileiro também seja como estamos e iremos promover remoções e sequestro de carbono”, afirmou.
“A NDC é uma nota promissória diante do mundo, com data e critérios que podem vir a ser executados. A depender do que colocamos como compromisso, estamos transferindo para o povo brasileiro a responsabilidade de arcar com custos que o país assume perante o planeta. Diante disso, o debate tem que mostrar a NDC como modelagem de compromissos para o desenvolvimento do país.”
O coordenador de Sustentabilidade da CNA, Nelson Ananias Filho, destacou que há um grande desafio pela frente, a partir da COP 29, com a definição dessas NDCs.
“O Brasil tem resultados de mitigação que precisam estar refletidos na NDC e não a NDC limitar esses resultados a partir de números e dados que muitas das vezes nem sabemos de onde vem,” ressaltou.
“Então, a NDC precisa refletir e ser construída a partir daquilo que você tem que depositar nela. Isso é uma grande preocupação que teremos a partir dessa COP 29 e que teremos ainda na COP 30.”
O coordenador acrescentou que a conferência em 2025, no Brasil, definirá os novos compromissos climáticos do país que pautarão a economia brasileiro a partir de 2031, com o agro sendo um grande contribuinte, “com suas obrigações, mas trazendo grandes oportunidades.”
Para assistir na íntegra o evento da CNA ‘Pré-COP29 De Baku a Belém’, acessar o link abaixo