Há 50 anos, quando o grupo Vittia iniciou as atividades, a agricultura brasileira dava os primeiros passos rumo à importância que tem atualmente no cenário mundial. Hoje, a empresa – que atua no segmento de defensivos biológicos e inoculantes – tem o pioneirismo na abertura de capital na Bolsa de Valores brasileira para uma empresa do segmento, ocorrida em setembro. Com foco em tecnologia e na busca por soluções que agreguem sustentabilidade e outros atributos ao produtor, mira na busca por tecnologias e investe pesado em pesquisa e desenvolvimento. Um exemplo é a unidade de São Joaquim da Barra (SP) que recebeu investimentos de R$ 100 milhões em plena pandemia. Confira a entrevista do CFO do Grupo, Alexandre Frizzo à jornalista Thais D’Avila.
Comparando as trajetórias do agro e do grupo, o crescimento foi proporcional?
O Grupo Vittia teve uma trajetória de progresso consistente ao longo de toda sua história, crescendo, assim, mais do que o agro no Brasil. Não só tem esse histórico de evoluir acima do segmento do agronegócio, mas também a perspectiva de continuar com esse ritmo de crescimento. Isso em função da nossa estratégia de estar sempre trazendo novas tecnologias. Sabemos que precisamos produzir mais com menos. Ou seja, otimizar o uso das nossas áreas agrícolas. E o grupo busca justamente isso, trazer novas tecnologias para que o produtor possa aumentar a sua produtividade por hectare. Por isso que a gente acaba crescendo mais do que simplesmente o avanço orgânico do agro. A demanda por alimento no mundo sobe. Mas, acreditamos que, aqui no Brasil, ainda dá para aumentar muito a produtividade por hectare, sem contar com o avanço em novas áreas, que geralmente são menos propícias para agricultura e exigem investimento maior, pois são áreas marginais. Desta forma, crescemos mais do que o agro. E essa é nossa expectativa para os próximos anos: continuar trazendo novas tecnologias, continuar elevando o nível de produtividade da agricultura brasileira.
O segmento de frutas e hortaliças registrou um aumento na procura por insumos biológicos em 2021 em relação ao ano passado. É uma tendência? Tem espaço para crescer e pode atender à demanda?
É uma realidade. Assim como a gente observa essa demanda crescente em outros segmentos, a parte de frutas e hortaliças é um segmento que, sem dúvida, pode se beneficiar muito dos insumos biológicos. Eles são alinhados com as principais práticas de sustentabilidade. Hoje temos nossa linha cadastrada para agricultura orgânica. Apresentamos soluções que são efetivas no controle de pragas, mas que também são alinhadas com as melhores práticas de sustentabilidade. Ou seja, elevamos a qualidade do alimento que vai à mesa do consumidor sem comprometer a relação de custo-benefício, de produtividade e custo do agricultor. Existe muita oportunidade ainda nesse segmento. Mas demos espaço grande de melhoria no segmento tradicional ou os não-orgânicos, por assim dizer. Vemos na Europa esse uso já muito intenso, principalmente em casa de vegetação, em produção de estufas, que é mais comum em função do frio. Já, aqui no Brasil, essa tecnologia de estufa não é tão adotada, mas a gente vê que a qualidade dos produtos biológicos hoje é boa o suficiente se trabalhar em ambiente aberto. Por isso, que vemos essa expansão, não só no segmento de frutas e hortaliças, mas também em outros, como a parte de grãos, cana-de-açúcar, entre outros.
“Queremos trazer soluções com sustentabilidade agregando também tecnologias que aumentem a produtividade.”
Você acredita que há uma tendência de busca por soluções mais sustentáveis apenas pelo aspecto ambiental, ou o segmento de bioinsumos oferece benefícios adicionais?
Sempre chama a atenção o aspecto sustentável. Este é um pilar importante da tecnologia. Mas, sem dúvida, não é só isso. A tecnologia que vem com essa nova onda de bioinsumos não é apenas alinhada com as melhores práticas ambientais, ela tem outros benefícios ao produtor. Traz uma nova ferramenta dentro do conceito que chamamos de manejo integrado de pragas, que estão ficando cada vez mais resistentes às moléculas químicas. Trazemos um novo elemento, que é o biológico, nessa equação de controle. Ele vai ajudar a superar algumas barreiras que o próprio químico já estava com dificuldade. Então, fazendo esse manejo integrado de pragas, traz uma ferramenta muito poderosa. É por isso que o biológico tem se desenvolvido e chegado como uma nova solução. Porque não adianta só endereçar a questão de sustentabilidade. Tem que se elencar a questão econômica do produtor. Sabemos que, se for para endereçar só sustentabilidade, está se falando na agricultura orgânica, que ainda é um nicho de mercado onde o custo de produção é alto. Em função disso, o preço para o consumidor é caro. Sabemos também que nem todo o mundo consegue pagar, e que não consegue suprir sua demanda de alimentos só com orgânicos. Então, precisamos, sim, trazer soluções alinhadas com a sustentabilidade. Entretanto, que também seja muito efetiva sob o ponto de vista de custo-benefício.
O pioneirismo – em ser a primeira empresa de bioinsumos a abrir capital no Brasil – ajuda ou atrapalha?
Eu acho que tem aspectos positivos e aspectos negativos nesse pioneirismo. Em relação aos negativos, eu acho que foi principalmente nessa etapa de preparação e acesso ao investidor, que é o desafio de educar o mercado, explicar sobre o nosso negócio, sobre essas tecnologias. Isso, sem dúvida, é um desafio muito grande, quando investidores não têm outras empresas para comparar. Agora existe um lado bom do pioneirismo: ele traz um outro olhar para nossa companhia. Rompemos uma barreira no mercado de capitais. E isso chama atenção não só do mercado investidor, mas do nosso mercado de consumidores, do mercado agrícola como um todo. Ajuda para chamar atenção às tecnologias que estão vindo ao campo. Claro, ajuda-nos, por ser um principal expoente, e vai ajudar o setor como um todo.
“Nosso objetivo é disseminar os bioinsumos no Brasil.”
O bom desempenho médio das empresas do segmento agro na B3 contribuiu de que forma para a empresa decidir fazer o IPO?
Sem dúvida, o desempenho ajuda. Entretanto, não foi, digamos, um fator de decisão para nós. Tínhamos o nosso projeto, começamos a construir essa ideia no final de 2019, talvez junto ou até antes de algumas empresas que vieram ao mercado. Juntamente com Boa Safra, Três Tentos, Agro Galaxy e a Jalles Machado, tivemos um processo conjunto de educação para os investidores. Então, como estávamos ao mesmo tempo vendendo as nossas histórias, acho que uma empresa ajudou a outra nesse processo. Mas a nossa ideia de trazer a Vittia a mercado não teve relação com essas outras. Foi sim o nosso objetivo de buscar uma solução que pudesse alavancar e perpetuar a nossa companhia. Acreditamos que há uma oportunidade muito grande pela frente nos próximos anos. E, sem dúvida, trazer o mercado como sócio vai nos ajudar nesse caminho. Foi isso que vimos quando iniciamos o processo de abertura de capital: trazer a empresa para um outro patamar para que possamos brigar com os grandes, com empresas multinacionais, nesse segmento de insumos.
Em plena pandemia a empresa, investiu em pesquisa e ampliou atividades com a inauguração da maior fábrica da América Latina. Como foi a tomada de decisão para a manutenção dos projetos com uma crise sanitária mundial em curso?
O período de pandemia foi muito difícil para nós gestores. Passamos algumas semanas tentando entender qual seria a nova realidade pós-pandemia. O nosso projeto sempre foi de longo prazo. Acreditamos muito nas tecnologias que trazemos ao mercado. Sempre cito que iniciamos a construção desta planta quando muito pouca gente falava em bioinsumos no Brasil. Fizemos a aquisição da Biovalens, em 2017, e já começamos a concepção desta planta, nessa escala, em 2018. Dados de mercado de 2018 apontavam que os bioinsumos representavam apenas R$ 300 milhões de faturamento no segmento. Mas acreditamos na tecnologia e olhamos para o longo prazo. Na pandemia, sem dúvida, passamos algumas semanas avaliando, mas sem cortar nenhum investimento. E a partir do momento em que entendemos que o agro teria impacto limitado, continuamos o dia a dia. A empresa sempre se manteve capitalizada e teve bastante conforto para o projeto.
Quais os próximos passos? Para onde mira o olhar do Grupo Vittia?
Temos um desafio muito grande pela frente, que é disseminar os bioinsumos no mercado brasileiro. É um mercado gigante e a gente tem como objetivo ser a empresa referência nestes insumos no Brasil. É um objetivo bem desafiador, dado o tamanho deste mercado hoje no Brasil. Só em termos de defesa, é um mercado de cerca de R$ 70 bilhões. Quando se fala em nutrição de plantas, o mercado é de um porte semelhante. Então, estamos falando de um segmento gigantesco, onde temos muito trabalho pela frente. Por isso, continuamos buscando novas tecnologias, tanto através do nosso departamento interno de pesquisa e desenvolvimento, mas também olhando oportunidade de aquisição de empresas e startups. Temos a missão de trazer novas tecnologias para o agro, seja da nossa plataforma, com uma tecnologia desenvolva por nós, ou a que algum empreendedor desenvolveu e que pode ser de grande valia para agricultura brasileira e mundial.