O embargo chinês à carne bovina brasileira completa hoje 46 dias. Ofício do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) autorizou, ontem, às empresas exportadoras estocagem da proteína vermelha. Desta forma, fabricantes e processadores poderão manter os produtos congelados por até 60 dias.
Para isso, os estabelecimentos deverão dispor de estrutura de funcionamento contínuo dos equipamentos de frio dos contêineres. Também têm de realizar monitoramento frequente e diário de seu funcionamento e temperatura interna. No final da circular, reforça que novas produções destinadas ao mercado chinês sejam suspensas.
Ritmo lento
No entanto, o presidente do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados do RS (Sicadergs), Ronei Lauxen, afirma que o documento não traz alterações na prática. “As indústrias já tinham parado de produzir, justamente em função do embargo. Então, não muda muito em relação ao que já vinha acontecendo.”
Ele conta que o setor tinha expectativa de receber ofício liberando a produção para o comércio exterior. “Infelizmente, está demorando muito mais do que se imaginava. O que é preocupante”, falou, em entrevista exclusiva à Thais D’Avila.
“Em relação às unidades do Rio Grande do Sul, temos três plantas que são do Marfrig, (em Alegrete, Bagé e São Gabriel). Sofrerão um impacto, sem dúvida, bastante grande.”
Ronei Lauxen
Preços
Embora a queda nos valores não tenha chegado às gôndolas, o produtor de todo o Brasil está recebendo cerca de 15% a menos pela proteína vermelha. “Para a indústria, também caiu. Além disso, o consumidor interno segue assustado com os preços, e a demanda está reduzida”, alerta Lauxen.
O impedimento da China coincidiu com a grande oferta de gado para abate. No Brasil, chega a época de plantio e é preciso tirar o gado do campo, o que pode pressionar ainda mais o movimento de baixa.
Ele vê a atitude como meramente comercial. “O Brasil foi muito transparente com a China, junto à OIE. Além disso, o estado sanitário se manteve. Então, acredito que a atitude da China é muito mais comercial, pois risco sanitário não existe.”
Mercado
Segundo Zilmar Moussale, diretor executivo do Sicadergs, o corte de exportação de carne para a China representa muito. “As exportações não estavam bem. Quando apareceu a China, revolucionou o mercado, e o preço do boi aumentou absurdamente. As três unidades da Marfrig saíram às compras.”
Com esse movimento, o boi subiu em relação ao que era. Cada unidade mata em torno de 700 a 800 animais por dia. “O valor subiu. Isso ficou ruim para os que não exportam. Visto que o mercado varejista está muito recessivo”, explica.
Apesar disso, ele relata que a Marfrig tem grande capacidade para estocar este produto. “Além do espaço nas câmaras, muita carne já está na água, viajando em navios para a China.”
O ofício também autoriza a colocar a carne em contêineres. Estes devem permanecer nas plantas habilitadas pela China. Temperatura e condições de armazenamento das cargas têm de ser monitoradas.
Transferência
As empresas poderão emitir o Certificado Sanitário Nacional (CSN) para transferir estoques, desde que seja para um frigorífico autorizado pela China. Para Moussale, a atitude chinesa é um absurdo. “Acredito que logo se normalize esse mercado, visto que o final do ano está chegando.”
Ele diz que os chineses começaram a gostar de carne bovina e estavam comprando muito. “O governo chinês provavelmente aproveitou isso para forçar a queda.”
Imagem: Porto de Itajaí/Divulgação