A escassez de contêineres e a falta de espaço em navios trazem prejuízos nas exportações do agronegócio. O aluguel das caixas apresentou alta superior a 600%. Bem como o frete marítimo, que custa até cinco vezes mais caro do que antes da pandemia.
A situação tende a começar a se regularizar a partir de janeiro próximo. No entanto, normalização só vai acontecer no segundo semestre de 2022.
Tudo isso se reflete em custo ao consumidor final. Enquanto a inflação sobe no mundo todo por conta do problema de logística.
As exportações brasileiras de aves, ovos e suínos registraram prejuízo de US$ 436,9 milhões, de janeiro a julho. Os dados são da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Bem como no setor de café, cujo impacto foi de US$ 500 milhões entre maio e agosto. No tabaco, foram US$ 170 milhões entre junho e julho.
Expectativa
A previsão de normalização em 2022 é do diretor executivo da Associação Brasileira dos Terminais Retroportuários e das Transportadoras de Contêineres (ABTTC), Wagner Souza. Em entrevista exclusiva ao Portal A Granja Total Agro, o representante da entidade afirma que acompanha o problema desde o início do ano.
Dados de autoridades portuárias mostram que, em Santos, por exemplo, o volume movimentado de contêiner subiu entre 20% e 22%. “Contatamos os armadores, transportadores marítimos para buscar um prognóstico do que acontece e perspectiva de melhora”, conta Souza.
Produção
A produção das embalagens havia parado durante a pandemia. Agora, não dá conta da demanda, visto que as atividades comerciais estão voltando com força.
Então, o mercado de contêineres prioriza grandes portos exportadores, como Ásia, EUA e Europa, que são mais rentáveis. Mas, para ele, o problema principal não é a carência de caixas, mas o aumento nas exportações.
“O que se tem não é falta de contêiner e, sim, excesso de demanda de cargas de importações e exportações. O patamar dessa alta não tinha sido previsto.”
Wagner Souza
Causas
Entretanto, Altair Baptista, CEO da TFA Cargo – empresa associada à Associação Brasileira de Logística (Abralog), discorda. “Os fretes subiram porque teve o lockdown, e armadores tiraram alguns navios de rota.”
Segundo ele, quando o mundo começou a retomar a rotina, houve grande procura e faltou embalagens. Para Baptista, foi o que ocasionou a alta no valor do frete.
Por outro lado, ele ainda cita o acidente com um navio no Canal de Suez, que prejudicou o tráfego marítimo. O cargueiro encalhou provocando engarrafamento de mais de 400 embarcações por 120 milhas (cerca de 193 quilômetros). Desse modo, paralisou a hidrovia e causou dificuldades para as linhas de abastecimento mundial por 12 dias em março e abril.
“Além disso, tem o problema do gargalo nos EUA, onde caminhoneiros e profissionais de terminal fizeram greve. Os navios estão saindo lotados e falta contêiner”, relata.
O tempo de viagem aumentou em dez dias para algumas linhas. Segundo Souza, um exemplo é a rota Brasil-Ásia. “No ano passado, tivemos situação favorável no Brasil. Enquanto o mundo inteiro parou, o País seguiu exportando commodities.”
Soluções
Atualmente, com o retorno dos mercados, houve acréscimo no número de navios, além das embarcações de linha. “Entretanto, é um problema generalizado e mundial. Nos Estados Unidos, os portos estão operando 24h ao dia para escoar as mercadorias. Na Europa, há falta de caminhoneiros e de veículos”, explica Souza.
No porto de Los Angeles, o problema começou a ser resolvido. Conforme Baptista, a estimativa para os próximos meses é de que a situação se normalize e os valores dos fretes comecem a cair.
“Porém não tenho perspectiva de que os preços dos fretes voltem ao patamar antes da crise.”
Altair Baptista
Fotos: Arquivos pessoais e Porto de Rio Grande
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