A alta no valor dos combustíveis ao consumidor é atribuída, por alguns, à crise econômica brasileira. Entretanto, outros culpam o ICMS – imposto estadual. Afinal, esta crise é um fenômeno nacional ou a alta da cotação do barril do petróleo é o principal problema?
Para responder à dúvida, o presidente do Sulpetro*, João Carlos Dal’Aqua, concedeu entrevista exclusiva à Thais D’Avila, para o portal A Granja Total Agro. Segundo ele, a questão “fatalmente” é reflexo da conjuntura mundial, ainda mais reforçada pela lei da oferta e procura.
“O barril do petróleo é uma commodity negociada no mercado internacional. O Brasil está inserido nele, visto que importa e exporta esses produtos. Para se ter uma ideia, em outubro de 2020, o barril custava US$ 37. Atualmente, está mais de US$ 80. E com sinalizações de subida.”
João Carlos Dal’Aqua
Cenário
Portanto, Dal’Aqua reforça que o problema não é apenas nacional. “A questão está agravada porque, para importar o produto, cujo preço é em dólar, temos uma paridade bastante desfavorável.”
Hoje a moeda norte-americana está por volta de R$ 5,50. “Só isso já é um cenário muito difícil”, explica.
Segundo ele, tirando a carga tributária e a paridade cambial, o Brasil está longe de ter o barril mais caro do mundo. Ocupa a 90ª posição no ranking mundial de mais caros e a 78ª no ranking dos mais baratos. Os dados são da Global Petrol Prices.
Agronegócio
O diesel é um insumo extremamente importante no agronegócio. “Além da alta no preço, há dificuldade de produtos.” Então, o agro, assim como o setor de transporte, é afetado. “Sem contar que o biodiesel está bem mais caro do que o diesel fóssil. E isso impacta no custo.”
“Há ainda mais um componente: a cadeia produtiva da soja, que é um dos principais fornecedores do biodiesel. Se impactar isso, também aumentará o valor do farelo. Na verdade, tudo está conectado ao agro.”
João Carlos Dal’Aqua
Ele destaca que o processo do mercado do petróleo é mundial. “Entretanto, o Brasil tem a característica de acrescentar biocombustível (álcool na gasolina e biodiesel no diesel), interligando o setor ao agrícola.
Segundo ele, há preocupação com o abastecimento de diesel pela dificuldade de trazer este produto e fornecê-lo. “As distribuidoras já estão sinalizando falta. E esse movimento tende a se agravar em novembro e no final do ano”, prevê.
Oferta e procura
No início da pandemia baixou a demanda por combustíveis. “Os produtores regularam suas produções.” Então, veio o aquecimento da economia mundial. Além da entrada do inverno nos países que mais consomem esses produtos.
“Hoje, há maior procura do que oferta. E as decisões do setor energético demandam tempo. Não são imediatas”, explica. Por isso, segundo Dal’Aqua, a situação não deverá se normalizar tão cedo.
Não é uma questão fácil de ser resolvida. “Terá de ser superada com todos os órgãos, com todos os agentes envolvidos e preocupados nesse sentido.”
Turbulência
De acordo com o presidente, a turbulência internacional está se refletindo aqui. “As distribuidoras e agentes que importavam direto, além da Petrobras, não o estão fazendo neste momento. Pois ainda há defasagem cambial. Ninguém vai trazer um produto para vendê-lo mais barato.”
Ele ressalta que o setor de distribuição está fazendo o possível para ajudar a vencer a crise. “Mas é um problema estrutural, mundial. Ninguém vai sair ileso de uma pandemia. O mercado vai ter de buscar equilíbrio e depende do tempo de maturação”, sentencia.
Evento
Acontece nesta quinta-feira, 28, o evento on line Sulpetro Junto com o Revendedor. Será às 16h, nas redes sociais do sindicato.
Foto de capa: Freepik
* Sulpetro é o sindicato que representa os revendedores dos postos de combustíveis no RS