No acumulado de janeiro a setembro/2021, as exportações do agronegócio gaúcho alcançaram o maior nível desde 1997. Em termos nominais, sem considerar a inflação, os embarques para outros países somaram US$ 11,5 bilhões.
A alta chegou a 42,7% em valor. Ou seja, incremento de US$ 3,4 bilhões em termos absolutos. Este montante representa 74% de tudo o que foi vendido pelo Rio Grande do Sul a outros países no período. O recorde para os nove primeiros meses do ano tinha ocorrido em 2013 e fora de US$ 10,8 bi.
As informações integram o boletim Indicadores do Agronegócio do RS, divulgado na manhã desta quarta-feira (10/11). O responsável pelo estudo foi o Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), e elaborado pelos analistas Sérgio Leusin Júnior e Rodrigo Feix.
“A soma janeiro-setembro/2021 é maior dos que as vendas externas observadas em 2020 – considerando todo o ano. E um pouco abaixo do ano completo de 2019, que foi de US$ 12 bilhões.”
Sérgio Leusin Júnior
Destaques
Quanto aos setores, o complexo soja (US$ 6,1 bilhões), carnes (US$ 1,8 bilhão), produtos florestais (US$ 1,1 bilhão), fumo e seus produtos (US$ 849,7 milhões) e cereais, farinhas e preparações (US$ 458,6 milhões) foram os principais destaques. Soja novamente foi a responsável pelo maior crescimento (mais US$ 2,5 bilhões; +70,7%), seguido de produtos florestais (mais US$ 401,3 milhões; +60,1%) e carnes (mais US$ 310,4 milhões; +21,2%).
Entre os produtos específicos de venda, a soja em grão (mais US$ 2,0 bilhões; +69,2%), farelo de soja (mais US$ 325,9 milhões; +58,4%) e celulose (mais US$ 277,7 milhões; +62,9%) avançaram em comercialização.
“Até setembro o Rio Grande do Sul exportou um volume equivalente a 60% da produção de soja colhida no território. Nos próximos meses, a comercialização irá concorrer com a soja norte-americana, o que pode gerar pressões nos preços no mercado internacional.”
Sérgio Leusin Júnior
No entanto, segundo o economista, ainda não há expectativa de queda nos preços para o mercado doméstico. Os valores seguem firmes aqui porque os níveis de estoques no Brasil estão baixos, juntamente com a alta dos preços dos portos e a desvalorização cambial.
Motivos
A produção recorde da oleaginosa em 2021, em contraste com a estiagem que prejudicou o cultivo no ano passado, é uma das explicações para o desempenho no período. “Uma parcela significativa do crescimento observado é explicada pelo retorno à média dos níveis de produtividade da safra20/21, somada à variação nos preços médios do produto em dólar, fruto da dinâmica do mercado internacional”, explica.
Alguns fatores empurraram os preços das commodities agrícolas para níveis não observados desde 2013. Embora os estoques globais estivessem dentro da normalidade no início da pandemia, em 2021, as safras foram menores em importantes países produtores. Além disso, houve gargalos logísticos e reduções temporárias de exportações por países produtores, pelo medo do desabastecimento.
Também teve o fator China, que passou a alimentar seus rebanhos com uma parcela maior de grãos na dieta, elevando o consumo. Além disso, a desvalorização do real frente ao dólar e a demanda doméstica fraca, principalmente de carnes estimularam as exportações.
“Então foi um conjunto de circunstância que propiciaram este incremento bastante intenso das exportações. Não só para a soja, mas a alta dos preços também se verificou nos produtos florestais, notadamente para a celulose.”
Leusin explica que, em 2020, o uso de papel para escritório caiu bastante em função do trabalho em home office. “Já neste ano, com o avanço da vacinação e reabertura em diversos países, observou-se uma liquidação dos estoques em vários países. Isso gerou uma corrida da commodity a partir do segundo trimestre. Se compararmos o preço da celulose deste ano com o do ano passado, quase dobrou.”
Segundo o economista, as perspectivas continuam favoráveis para o consumo de celulose. “Não se vislumbram muitos fundamentos para a queda nos preços.”
Trimestre
No terceiro trimestre/21, as exportações aumentaram 59,5% na comparação ao mesmo período do ano passado. Ou seja, somaram US$ 4,8 bilhões. O valor enviado ao exterior no período foi o maior de toda a série histórica, iniciada em 1997, superando a marca anterior, registrada no terceiro trimestre de 2013.
Esses números são de termos nominais, sem considerar a inflação. Já em termos absolutos, o incremento nas vendas de julho a setembro foi de US$ 1,8 bilhão.
Entre os setores mais representativos do agronegócio no Estado, o complexo soja registrou vendas de US$ 2,9 bilhões no período, 60% do total comercializado no segmento, uma alta de 105,1% na comparação com igual período de 2020.
Além do complexo soja, os setores de carnes (US$ 645,4 milhões; +25,1%), produtos florestais (US$ 461,9 milhões; +101,1%), couros e peleteria (US$ 115,8 milhões; +52,3%) e máquinas agrícolas (US$ 106,7 milhões; +59,4%) apresentaram desempenho positivo no terceiro trimestre. Por outro lado, fumo e seus produtos (US$ 249,4 milhões; -29,9%) e cereais, farinhas e preparações (US$ 112,9 milhões; -27,5%) registraram baixas nas vendas.
No complexo soja, a alta no trimestre é explicada pelas vendas do grão (mais US$ 1,3 bilhão; +112,1%), do farelo (mais US$ 98,4 milhões; +42,9%) e do óleo (mais US$ 85,5 milhões; +393,6%). No setor de carnes, as exportações de carne de frango (mais US$ 86,4 milhões; +38,7%) e carne suína (mais US$ 29,5 milhões; +17,7%) sustentaram o resultado. Nos produtos florestais, o desempenho da celulose (mais US$ 183,6 milhões; +125%) foi o principal responsável pelos números positivos.
Benefícios ao Estado
O agronegócio acaba gerando riquezas a uma série de outros setores. Quase 200 municípios gaúchos têm na agropecuária a sua principal atividade. Segundo o pesquisador, principalmente nesses locais o reflexo econômico é muito maior. O mercado imobiliário e o varejo dessas cidades são bastante impactados.
Outro segmento beneficiado com o saldo positivo do agro é o de máquinas e implementos agrícolas. “Com mais dinheiro, o produtor troca o maquinário e investe em tecnologia. Isso se reflete em mais empregos nesse setor.” O RS é o grande produtor de maquinário, o resultado não só daqui mas de todo o Brasil influencia no aumento de vagas laborais.
Em relação à geração de renda, ele afirma que o setor das carnes é o que mais emprega no agronegócio. “Somente no abate de animais são aproximadamente 60 mil trabalhadores.”
Desde 2018, a demanda chinesa por carnes impactou significativamente as cidades com frigoríficos. “Embora para algumas haverá impacto negativo por causa do embargo.” No entanto, ele acredita que o embargo não dure muito mais porque a carne brasileira é mais barata que as dos concorrentes. “Não vale a pena financeiramente para a China manter esse embargo. A carne bovina está se incorporando à dieta chinesa, entrou no gosto deles.”
Arroz foi o vilão
Na contramão da tendência, o arroz (menos US$ 155 milhões; -40%) registrou a principal queda no acumulado do ano. No trimestre, também liderou a diminuição nos números do setor de cereais, farinhas e preparações (menos US$ 54,7 milhões; -37,3%). Já o fumo não manufaturado (menos US$ 86,8 milhões; -28,1%) foi o responsável pelo desempenho negativo da indústria fumageira.
Uma conjuntura atípica do ano passado fez com que as exportações de arroz subissem. “Produtores como Índia e Tailândia restringiram suas exportações. Além disso, houve maior número de pessoas almoçando em casa, o que fez o consumo disparar no ano passado. Foi quando o grão ganhou protagonismo”, pontua.
Entretanto, em 2021, não houve restrição a vendas externas, a questão cambial deixou de ser tão relevante. “Aí começou o movimento de baixa nas negociações.” Embora o arroz gaúcho seja um produto muito bom, desejado no mercado internacional, é mais caro que o indiano ou o tailandês. Portanto, acaba sem competitividade.
Destinos
Quanto ao destino das exportações do agronegócio nos nove primeiros meses do ano, a China permanece líder com alta de 64,8% nas compras gaúchas, o que representou 52,2% do total comercializado pelo Rio Grande do Sul.
A lista segue com a União Europeia (11%), Estados Unidos (3,9%), Coreia do Sul (3,2%) e Arábia Saudita (1,9%). Os cinco destinos representam 72,2% do total.
Em relação aos principais destinos das exportações, a China segue na liderança, responsável por 56,7% de tudo que o agronegócio do Rio Grande do Sul vende para outros países. A nação asiática registrou um crescimento absoluto de US$ 1,3 bilhão (+93,5%).
A sequência do ranking é composta pela União Europeia (10,2%), Estados Unidos (4,1%), Coreia do Sul (2,3%) e Emirados Árabes Unidos (1,7%). Esses cinco destinos são responsáveis por 75% do total das vendas.