O Jornal Valor Econômico, referência no jornalismo de finanças e negócios no país, estampou capa promocional nesta quinta-feira. Um anúncio de página inteira, do Banco do Brasil, elogiando a pecuária nacional. “É tempo de valorizar a agropecuária brasileira” e “somos referência mundial em sustentabilidade”, diz a peça publicitária, ilustrada com uma boiada a pasto.
Para os desavisados, uma campanha para divulgar os resultados do Banco para o setor, já que traz também números de recursos aplicados na agropecuária sustentável (R$ 112,4 bilhões).
Polêmica
Mas para quem está acompanhando a polêmica dos últimos dias, depois de uma ação de marketing do Bradesco nas redes sociais, pode parecer uma resposta. Em uma reação imediata, muitos pecuaristas do país inteiro encerraram suas contas no banco em função da peça que sugeria a “segunda sem carne” como forma de reduzir a emissão de metano. O vídeo, estrelado por influenciadoras digitais, foi tirado do ar pouco tempo depois.
Para a consultora Lygia Pimentel da Agrifatto, esses bancos trabalham muito forte no financiamento do agronegócio. “O próprio Bradesco tem linhas muito importantes para o setor”, afirma.
Mesmo avaliando que a instituição “se perdeu no marketing”, Lygia aponta que pode não ter sido acidental, já que existe um contador de carbono dentro do aplicativo. Segundo ela, o Banco do Brasil e outros bancos estão aproveitando essa debandada de clientes do agro do Bradesco.
Mas no fim das contas, avalia a consultora, o que vale é a taxa. “O Bradesco vai voltar a se estruturar no setor, mas valeu o aprendizado, eles ficarão mais cuidadosos no marketing”, conclui.
Reação desproporcional?
Mesmo diante da carta aberta do Bradesco, na qual o banco reitera seu apoio ao agronegócio brasileiro (leia a íntegra logo abaixo), nos grupos de Whatsapp e perfis de redes sociais, a reação do agro tem sido forte. São muitas as reproduções de correspondências enviadas por produtores, lideranças e outros envolvidos na pecuária à sede da instituição.
Além disso, vem crescendo em diferentes regiões a promessa de uma “segunda com carne” em frente a agências do Bradesco. É o caso de Araguaína, na região do médio Norte do Tocantins, que concentra mais de cinco milhões, das nove milhões de cabeças de gado no estado.
Churrasco
O presidente do Sindicato Rural da cidade, Wagner Martins, afirma que já está organizado um churrasco para mil pessoas na segunda-feira, em frente à agencia do Bradesco.
“É um protesto pacífico, mas precisamos mostrar à sociedade que a pecuária brasileira é sustentável, que o boi come as gramíneas, que sequestram carbono. A conta da pecuária é positiva para o meio ambiente”, explica.
Martins acredita que o movimento tende a crescer durante a próxima semana em todo o país. “Teremos não só a segunda sem carne, mas a terça, a quarta ou quantos dias forem necessários. Essa desinformação precisa encerrar, temos que esclarecer população”.
Carta do Bradesco
CARTA ABERTA AO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO
Ao longo de seus quase 79 anos de história, o Bradesco sempre apoiou de forma plena o segmento do agronegócio brasileiro, estabelecendo parcerias sólidas e produtivas. Tal opção é baseada em sua crença indelével nesse segmento enquanto vetor de desenvolvimento social e econômico do País.
Contudo, nos últimos dias, lamentavelmente, vimos uma posição descabida de influenciadores digitais em relação ao consumo de carne bovina, associada à nossa marca.
Importante dizer que tal posição não representa a visão desta casa em relação ao consumo de proteína animal. Pelo contrário. O Bradesco acredita e promove, direta e indiretamente, a pecuária brasileira e, por conseguinte, o consumo de carne de origem animal.
Diante do ocorrido, medidas foram imediatamente tomadas, incluindo a remoção do conteúdo do ambiente público e ações administrativas internas severas. Dessa forma, reiteramos nossas desculpas pelo fato ocorrido e reforçamos, mais uma vez, nossa crença irrestrita na pecuária brasileira.