Por Ivaris Júnior
Para alguns, o futuro começa amanhã. Para os mais ansiosos, em minutos. Para o setor de nutrição animal, é iminente, principalmente mediante os compromissos assumidos pelo Brasil na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26), na Escócia.
Objetivos
O principal deles é reduzir a emissão de metano em 27% até 2026 e em 43% até 2030. O outro é alcançar a neutralidade de carbono até 2050, antecipando em dez anos a meta inicial. Além de erradicar o desmatamento ilegal até 2030.
A preocupação está em acelerar a produção e a oferta de alimentos que possam melhorar a digestibilidade dos ruminantes. Pois são fortes emissores de metano, o principal gás gerador do efeito estufa. Ou seja, juntamente com o gás carbônico (CO2) e com o óxido nitroso (N2O), tem alto poder de aquecimento, além de demorar de 10 a 12 anos para se dispersar na atmosfera.
“Reduzir esses lançamentos, que se dá em grandes volumes diariamente, é vital e de grande contribuição. Nesse sentido, trabalhar a dieta dos animais de importância econômica é urgente. Todo o setor está em mobilização, sob pena de perder a janela e ter de sair do mercado”, alerta Ariovaldo Zani, CEO do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações). A entidade reúne as indústrias fabricantes de rações para animais, exatamente as protagonistas nesse processo.
Inovação
Para tanto, muito estudo e inovação estão em curso também nas instituições de pesquisa e nas universidades. Outras entidades representativas, como a Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais (Asbram), não deixam por menos e acertam o passo.
Seu presidente, Daniel Moreira Arruda Guidolin, está atento e credita a capacidade de fornecer respostas às necessidades de mitigação dos gases de efeito estufa (GEE) às possibilidades financeiras e de investimento das empresas. “Mais recursos disponíveis para pesquisa acelerarão esse tempo”, lembra.
Zani ilustra o cenário compartilhando um episódio por ele vivido há 14 anos, em uma reunião da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), quando ouviu um alerta de um pesquisador dinamarquês. O executivo conta que o especialista pedia muita atenção às comparações de produtividade entre o gado leiteiro brasileiro e o europeu ou o norte-americano, pois a emissão de GEE já era muito maior por litro de leite coletado aqui, nos trópicos.
“Na época, eram 2 mil litros/lactação contra 20 mil das outras estrangeiras”, lembra. O pesquisador não parou por aí, conta, e projetou que a referida improdutividade logo seria precificada pelo mercado internacional. E estava certo. Com esperança, o CEO registra: “O setor até melhorou, mas a distância ainda é muito grande. Porém tudo isso pode mudar com dietas mais eficientes e genéticas mais apropriadas às nossas condições de exploração”.
Nova perspectiva
O Brasil possui o maior plantel de bovinos produtivos do mundo. Contudo, em função de características inerentes à pecuária, como o porte corporal, o metabolismo orgânico e a grande produção de dejetos (urina e fezes) dos animais, o País tem um verdadeiro telhado de vidro à disposição dos ambientalistas de plantão. A questão é fisiológica e não cabe reportar aqui.
O mundo e a Embrapa estão cientes de que quanto melhor a dieta do boi, menos ele polui. Mas nela reside a explicação básica para começar a desmistificar e a tratar a questão sob outra ótica.
A diferença entre um animal criado no Hemisfério Norte e um criado no Hemisfério Sul está na distinção dos insumos utilizados e na reação ao ambiente. Deve-se, portanto, pensar na redução de emissão de GEE por quilo de carne produzida. “As pessoas precisam comer, e as estratégias para mitigação dos gases devem considerar este fato”, ressalta Zani. Por isso, a percepção deve ser outra.
Ciclo curto
A pecuária intensiva, de ciclo curto, polui menos frente ao boi criado somente no pasto? A resposta é sim. O primeiro pode sair de cena com idade entre 18 e 24 meses, enquanto o outro ficará, na melhor das hipóteses, 36 meses no sistema.
A diferença de tempo é importantíssima no entendimento de quem polui mais. O primeiro ganha meio ciclo, o que significa uma produção de carne muito maior (mais quilos). Mas e a pegada de carbono? Claro que a do primeiro é muito maior.
Contudo, em nova comparação, diluindo o consumo de carbono pelo volume de GEE emitido, os animais de ciclo curto continuam muito mais sustentáveis. Apresentam reduções que chegam a 30%. Os resultados provêm de contas matemáticas, reconhecidas até mesmo por ambientalistas.
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