Há um ano, cá estávamos a comentar sobre o tsunami chamado pandemia. Falávamos da alta velocidade das mudanças, do “novo normal” e de como a pecuária brasileira foi brilhante durante 2020, um dos períodos mais difíceis da história da humanidade.
Ao mesmo tempo, apresentamos expectativas e projeções para o ano vindouro – no caso, este. E todos os especialistas foram unânimes ao indicar: “O mercado está pagador, mas quem chega primeiro bebe água limpa”.
Água limpa
E chegamos. Bebemos água limpa até dia 4 de setembro, quando dois casos Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), considerados atípicos pela Organização Internacional de Epizootias (OIE), deram à China – país mais populoso do mundo – o motivo que precisava para pressionar o Brasil – dono do maior rebanho bovino do mundo – por melhores preços à carne. A dita sabedoria milenar chinesa conseguiu derrubar o mercado interno por algum tempo.
Com estoque inflado e consumo reprimido, o criador soltou a boiada no pasto, arrefecendo a oferta no gancho. Também voltou a embarcar gado vivo, como no Rio Grande do Sul, onde foi preciso contar com fêmeas para suprir a falta de machos, como conta o leiloeiro Marcelo Silva, da sulista Trajano Silva Remates.
E como quem não dá assistência perde a preferência, enquanto os chineses se alimentam das carnes uruguaias e argentinas, o Brasil negocia com outros países. Até o fechamento desta edição, a China havia permitido, ao menos, a entrada de cargas certificadas em data anterior ao embargo.
Diferencial
Fica-nos claro que a pecuária brasileira, em linhas gerais, carece de gestão, profissionalismo, mão de obra, qualidade genética, padronização de carcaças etc. Entretanto, possui algo que nenhuma outra no mundo tem: o pasto, uma arma sustentável, economicamente viável e com grande potencial de expansão.
Se não temos poder de barganha com relação a preço, temos o pasto para soltar os animais. Se não temos condições de acompanhar a valorização das commodities para engordar o gado a alto grão, temos a suplementação a pasto. Se faltarem grãos, temos a integração lavoura-pecuária para produzi-los no verão e alimentar o gado no inverno.
Há quem diga que a atividade nunca mais será a mesma depois de o Brasil negociar com os asiáticos. Podendo ser considerada uma antes da China (a.C) e outra depois da China (d.C).
COP26
A marcação temporal faz sentido, mas fica mais completa, e até correta, se também agregar a COP26, realizada ao final de outubro, na Escócia. O evento, no qual o Brasil se comprometeu a reduzir a emissão de metano em quase 30% até 2030, dentre outras metas, traz muita lição de casa e mudará, logo ali, as relações de toda a cadeia produtiva da carne.
Preparem-se! Abram as porteiras, que 2022 d.C está chegando! Confira o mapa completo da pecuária do “novo normal” no Guia do Criador 2022, que traz avaliações e projeções dos mais respeitados analistas do mercado pecuário brasileiro. Também conta com a lista dos vencedores do troféu Touro de Ouro 2021, com as marcas, produtos e serviços escolhidos por quem realmente faz do Brasil o maior exportador mundial de carne bovina.