Muitas mensagens foram passadas durante a abertura da Bahia Farm Show nesta terça-feira, em Luís Eduardo Magalhães, e nem só com palavras. O palanque dos discursos contou com a presença do presidente Lula, depois da ausência do alto escalão do governo na Agrishow. A plateia foi restrita e, conforme circulou em redes sociais, quem entrou teve que passar por aprovação dos organizadores. Chamou a atenção um trecho do discurso de Lula, em que atribui o sucesso do agronegócio brasileiro à ajuda do governo, pontuando ações de seus primeiros mandatos. Estaria Lula minimizando os esforços privados de todo o setor produtivo que vem alavancando a economia brasileira nas últimas décadas?
“Todo o mundo precisa do governo – pequeno, grande e médio – precisa. Se não é o Estado colocar dinheiro, o agronegócio não estaria do tamanho que está.”
O evento de abertura começou com Lula e boa parte dos presentes no palco com o boné do Banco do Brasil. O símbolo por trás do uso do boné pode ter a ver com o ocorrido na Agrishow. Na época, em abril, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que sentiu-se desconvidado a participar da feira pela presença do ex-presidente Jair Bolsonaro. Por consequência, o Banco do Brasil retirou o patrocínio da feira paulista, mantendo apenas o atendimento operacional das linhas de crédito. E, poucos dias depois, Lula confirmava presença na feira baiana para “fazer inveja aos mau-caráter de São Paulo (sic)”.
Nas falas da abertura da Bahia Farm Show, poucas autoridades tiveram espaço. O primeiro a falar foi o jovem prefeito de Luis Eduardo Magalhães, eleito pelo DEM e hoje integrando o União Brasil, Júnior Marabá. Ele foi seguido pelo único representante do agronegócio nos discursos, o presidente da Associação dos Agricultores Irrigantes da Bahia, Odacil Ranzi. Logo depois veio o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, o governador da Bahia, o Jerônimo Rodrigues e, por fim, Lula.
Fávaro iniciou sua fala fazendo um mea-culpa sobre o que dizem sobre o agro brasileiro no exterior. Afirmou que em cinco meses percorreu o mundo abrindo mercados para o agronegócio brasileiro. “Não vão colocar a pecha nos produtores brasileiros como criminosos que destroem o meio ambiente. Não é essa a realidade. Temos que combater os poucos que cometem crime ambiental e tiram a competitividade e o respeito de todos os outros.” E completou que ninguém tem um código ambiental tão exigente “e cumprido” pelos produtores.
O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, tentando pacificar os ânimos com o agro, pregou a união de todos e dizendo que a bandeira do Brasil é uma só. Rodrigues pontuou que as pessoas enxergam no agro apenas os grãos, mas que toda a economia, indústria, hotéis e comércios são movimentados pelo que o setor produz.
Por fim, Lula trocou de boné e iniciou seu discurso totalmente voltado para a claque presente. Pontuou política, disse que o Brasil havia virado uma “máquina de mentiras”, referindo-se ao governo anterior, e por vários minutos da fala, citou companheiros de partido na administração federal e da longevidade do PT governo estadual baiano.
Ao tentar elogiar a participação da Bahia na Independência do Brasil, Lula errou a data da proclamação da Independência do país, ocorrida em 7 de setembro de 1822. “O Dom Pedro decretou a Independência em 27 de abril de 1822 (sic), diz o livro de história, que foi no riacho Ipiranga. Mas a verdade é que a independência brasileira aconteceu aqui na Bahia em 2 de julho, quando definiram a expulsão dos companheiros portugueses.”
Lula rendeu-se aos resultados do agronegócio no PIB?
E, a exemplo de Fávaro e Rodrigues, Lula falou em pacificação e união. Depois de ter acusado o agro de maldoso, fascista e mau-caráter em outras ocasiões, o presidente dedicou bons minutos do discurso para tentar afagar o setor. “Quanta tecnologia tem em um grão de soja! É bobagem dizer que soja não é alimento, pois galinha come soja, porco come soja, milho. É bobagem ficar discutindo o que não precisa ser discutido.”
Depois, Lula fez uma comparação com futebol e levantou a plateia. E partiu para dizer que o Brasil precisa da agricultura e da indústria e que precisa do pequeno produtor e do agronegócio. ”São duas coisas necessárias. O Brasil precisa dos dois, os dois ajudam o Brasil.”
Por fim, Lula falou sobre as cargas de carnes brasileiras que estão no oceano, a espera de desembarque na China, que ainda não autorizou a entrada do produto, após o embargo devido ao caso atípico de vaca louca no início do ano. “Coitado do Fávaro”, disse Lula ao afirmar que o ministro tentava, sem sucesso, conseguir a liberação do produto. “Liguei para o Xi Jinping, e o Alckmin ligou para o vice. Se Deus quiser essas pessoas vão poder receber o dinheiro que merecem.” Segundo ele, o produto precisa desembarcar lá, para baratear o custo da carne, porque o povo quer comer picanha.
O que você achou do discurso de Lula?