A Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) afirma que o anúncio da União Europeia de restringir as importações de commodities agrícolas é uma afronta. A proposta da UE proíbe importação de produtos do agro ligados ao desmatamento. Para a Aprosoja Brasil, o projeto é um “protecionismo comercial disfarçado de preocupação ambiental.”
Segundo nota divulgada nesta terça-feira, é disso que se trata a medida anunciada pela União Europeia. “É uma afronta à soberania nacional. Coloca a conversão de uso do solo permitido em lei na mesma vala comum do desmatamento ilegal, que já é punido pela legislação ambiental brasileira.”
A preocupação dos produtores é de que após o cumprimento de exigências pelas indústrias da UE, toda a soja produzida no Brasil seja obrigada a obedecer a regra. “Independentemente se será consumida pelas aves e suínos no Brasil ou China.”
MRE acompanha o avanço dos projetos
Em entrevista após a reunião da Frente Parlamentar da Agricultura, Alexandre Peña Ghisleni (foto ao lado), diretor do departamento de agronegócio do Ministério das Relações Exteriores, disse que o projeto apresentado pela Comissão Europeia no Parlamento Europeu ainda está em fase de discussão. Precisa ser analisado, bem como o do parlamento britânico. “Fica difícil tomar um posicionamento sem saber o que vai ser cobrado, na prática”, pontua.
Ele afirma que o Brasil vai tratar o tema com muita atenção, pois “pode provocar danos indevidos ao agro brasileiro e nós queremos apenas que seja a regra do comércio internacional”. Ghisleni ressalta: “Não podemos opinar sobre a política ambiental de outro país. Mas o que queremos é que o comércio internacional se dê de forma justa, não discriminatória, em atenção às normas da OMC. Vamos acompanhar o processo e os próximos passos.”
Conforme o presidente da Frente Parlamentar da Agricultura, Deputado Sérgio Souza (MDB PR), o parlamento europeu caminha para um regramento onde não haja desmatamento ilegal. “No Brasil, precisamos fazer o dever de casa. E é coibir e punir quem comete esse crime de desmatamento ilegal”, afirma.
No entanto, Souza defende que, ao instituir as regras, é preciso deixar claro quem faz a supressão de mata – se é legal ou ilegal. “Enquanto não fizermos a regularização fundiária, como é que vamos identificar se o cidadão dentro da propriedade tem direito de fazer uma supressão, se ele não tem o título?” questiona.
Faesp cobra cumprimento de normas internacionais
A Federação da Agricultura de São Paulo também manifestou repúdio à proposta da União Europeia. O presidente da entidade, Fábio de Salles Meirelles pontua que o Brasil possui uma das mais avançadas legislações ambientais do mundo. “Essa proposta é injustificável, porque não diferencia as práticas legais, adotadas pela imensa maioria dos produtores, das práticas ilegais desenvolvidas por uma minoria”, pontua o dirigente.
A nota da Aprosoja é mais contundente e diz que o foco dos europeus sempre foi a Amazônia e suas riquezas. “No entanto, hoje se sabe que mais de 80% do bioma encontra-se preservado, da forma como os europeus encontraram quando colonizaram o País. Além disso, seja por outras leis ou pelo próprio Código Florestal, houve uma blindagem dos 80% preservados, de forma que a produção precisa ser feita nos 20% restantes.”
Código Florestal
O Brasil trabalha há décadas para que a indústria europeia e as tradings que atuam no mercado global de grãos aceitem o Código Florestal (Lei 12.651), aprovado de forma democrática pelo Congresso Nacional em 2012, como regra suficiente para a preservação ambiental. A entidade lembra que esta Lei é única no mundo. Ela coloca sob responsabilidade exclusiva dos produtores a preservação entre 20% e 80% de vegetação nativa em suas fazendas, além de topos de morros, cursos d’água e toda sua biodiversidade incluída.
“Há estados no bioma amazônico que têm mais de 60% de seu território destinado para Terras Indígenas e Unidades de Conservação, como é o caso do Amapá, que tem 71% da sua área preservada. E o Código Florestal obriga a preservar 80% da propriedade, ou nos casos de ocupação anterior, 50% dela. Não precisa ser nenhum gênio da matemática para concluir que legalmente não se pode expandir a produção nos 80% de floresta.”
Gestão e controle
Em relação ao desmatamento ambiental, as medidas de controle e melhoria da gestão já são implementadas pelo governo brasileiro. Inclusive, recentemente reduziu o prazo para zerar o desmatamento ilegal de 2030 para 2028.
Se isso não é suficiente, podemos concluir que as intenções da União Europeia não dizem respeito à preservação ambiental. Mas, sim, de uma tentativa de exercer barreiras comerciais contra produtores de alimentos do Brasil para proteger agricultores daqueles países.
A entidade reitera que, se a Amazônia e o Cerrado brasileiro já estão preservados, e o modelo produtivo no Brasil é apontado pela ONU como solução para a redução do aquecimento global, o que se pode concluir é que se trata de medida de caráter flagrantemente protecionista. “Isso terá graves consequências para a produção de comida para a sua população e para mais de um bilhão de pessoas que dependem dos alimentos produzidos de forma sustentável. Sugerimos que outros países despertem para isso e se posicionem.”