CARLOS OTOBONI

Para quem se recorda da série americana dos anos 1970, “O homem de seis milhões de dólares”, é a respeito desse tipo de conceito que discorreremos. Na série, Steve Austin (Lee Majors), um ex-astronauta, sofre um grave acidente de avião e tem as suas duas pernas, o braço direito e o olho esquerdo substituídos por partes biônicas, transformando-se em um ciborgue com força e habilidades aumentadas.
Bom, essa história da ficção não parece tão distante assim, visto que a medicina moderna já utiliza a tecnologia implantada para o tratamento ou correção de problemas de saúde no coração, cérebro e em outros órgãos ou funções do corpo humano. A utilização de chips para aumentar a performance cerebral de seres humanos está em franca elucidação.
Da mesma forma, essas tecnologias têm sido estudadas em plantas, nas quais, através de dispositivos tecnológicos, se busca aumentar o desempenho fisiológico para produção, adaptação ou controle de funções. Esse foi o resultado obtido por uma pesquisa conduzida no MIT (Massachusetts Institute of Technology) do Laboratório de Nanobiônica Vegetal. Com a instalação de nanotubos e de nanopartículas nas plantas, conseguiu-se ampliar a capacidade fotossintética delas em 30%.
Como sabemos, a fotossíntese é o processo de transformação da energia luminosa em energia bioquímica, tendo como ingredientes a água, o gás carbônico, a luz e a clorofila. Através desse processo,
Muitas outras funções fisiológicas das plantas podem ser amplificadas e/ou controladas nas plantas biônicas, como absorção e transporte de água e nutrientes, germinação das sementes, florescimento, respiração, transpiração e maturação de frutos
as plantas podem sintetizar seu próprio alimento (glicose) como seres autotróficos. Assim, a adição de nanotecnolgias que ajudem ou que catalisem essas reações bioquímicas pode aprimorar o processo fisiológico das plantas, tornando-as mais eficientes que o normal. Segundo os pesquisadores, é possível com a nanotecnologia induzir as plantas a absorverem outros comprimentos de onda, não só aqueles do azul e do vermelho, aumentando, então, a energia luminosa captada para a maquinaria fotossintética.
Muitas outras funções fisiológicas das plantas podem ser amplificadas e/ou controladas nas plantas biônicas, como absorção e transporte de água e nutrientes, germinação das sementes, florescimento, respiração, transpiração e maturação de frutos. Naturalmente, essas funções são governadas pelos hormônios vegetais e pelos estímulos ambientais, que podem ser induzidos, corrigidos e até inibidos por tecnologias embarcadas nas plantas.
Sabemos também que as plantas evoluíram e se adaptaram aos ambientes de domesticação. Portanto, não podemos fugir muito das questões do Zoneamento Edafoclimático para o cultivo das espécies, devido aos riscos do processo produtivo. Desta forma, características quase impossíveis de serem passadas para as plantas através do melhoramento genético, poderão ser desenvolvidas nelas pela tecnologia. Como exemplo, propiciar a característica de menores perdas da fotorrespiração do milho (planta C4) para a soja (planta C3) ou as habilidades fotossintéticas dos cactos (planta CAM de clima árido) para as nossas principais plantas cultivadas.
Plantas biônicas poderão trazer soluções não só para o aumento do potencial de produção, ficando acima da sua capacidade genética, como também para a sua exploração em áreas além dos seus limites edafoclimáticos ou, até mesmo, em ambientes totalmente inóspitos de cultivo.
Professor da Fatec e Pesquisador do
Laboratório de Monitoramento e Proteção
de Plantas – LMPP