A Assessoria Agropecuária FFVelloso & Dimas Rocha realiza, pelo quarto ano, um levantamento dos touros Angus e Brangus ativos nas centrais de inseminação, ou seja, dos touros que estão em coleta para comercialização de sêmen. Neste levantamento de 2022, incluímos dois itens novos: os reprodutores Ultrablack e a inclusão de touros importados em coleta no Brasil. Dessa forma, conseguimos ter uma visão panorâmica do tamanho do mercado para touros como doadores de sêmen. Esse trabalho, somado ao “Top 100 – Os Maiores Vendedores de Touros do Brasil” (que já chegou à sua sétima edição), está alinhado ao nosso propósito de compreender mais profundamente o mercado de reprodutores taurinos e de produzir informações não disponíveis no setor de touros.
O levantamento foi realizado por meio da consulta direta com as centrais de inseminação no Brasil a partir da solicitação da relação dos touros Angus, Brangus e Ultrablack em coleta (ativos) no país em 2022. Com a ampliação da presença de reprodutores importados em coleta, no Brasil, optamos por incluí-los também neste resumo, pois tínhamos expectativa de que a participação deste grupo de animais já não era tão irrisória. O levantamento confirmou esse fato, como veremos adiante e detalhadamente no quadro.
Por que quantificar somente touros Angus, Brangus e Ultrablack? Com base nas informações históricas dos Relatórios da ASBIA, podemos verificar que o mercado de inseminação em bovinos de corte está altamente concentrado nos grupos de genética Angus e Nelore. Essas raças ou grupos representam algo entre 90 a 95% do número de doses vendidas anualmente. O grupo Angus/Brangus/UB representa mais de 85% das vendas das taurinas (raças europeias e sintéticas). Sendo assim, entendemos que, mapeando a participação dessas raças com “influência Angus”, estamos mapeando a fatia mais representativa de raças taurinas. Esse grupo de raças participou com quase 8 milhões de doses do total de 20 milhões doses de corte vendidas em 2021.
Algumas considerações simples podem ser feitas em relação ao levantamento de 2020 e ao atual de 2022:
- Ocorreu uma pequena evolução no número de touros nacionais em coleta: de 283, em 2020, para 306 touros em 2022, avanço de 8% em doadores nacionais;
- A presença de touros importados em coleta ganhou grande importância, representando atualmente 26% do total de touros em coleta, ou seja, 107 touros importados num total de 411 touros;
- Na raça Angus, está a maior participação de touros importados, sendo 103 touros em um total de 295 touros Angus em coleta, ou seja, 35% dos touros em coleta;
Os 411 touros listados nesse levantamento participam de um mercado que comercializa as tais 8 milhões de doses/ano. Não podemos fazer uma conta simples de doses/touro e considerar cerca de 20 mil doses anuais por doador, pois, no total, estão também doses de sêmen importado e não somente sêmen produzido no Brasil. Logo, o total médio anual por touro é seguramente bem menor, pois tradicionalmente a venda de sêmen importado de Angus é superior a 70%. Entre mortos e feridos, noves fora e outras situações normais na produção de sêmen, ficaremos em um número próximo de 5 a 6 mil doses comercializadas, por ano, dos touros listados. Com toda ressalva necessária, quando falamos de média, lembrem-se do exemplo de um pé na geada e outro na brasa. Na média, é morninho. Até me lembra do causo dos amigos casados na piscina convidando os solteiros pra entrarem na água: “vem, vem, a água tá ótima. É só acostumar e não ficar parado.”
Na condição de um entusiasta da seleção de reprodutores, fico um pouco desanimado com a leitura do quadro aqui publicado. Por alguns momentos, imaginei que a hora do touro nacional tinha finalmente chegado. Nossos touros Angus e Brangus vinham concorrendo em condições de igualdade com os pais importados – avaliação genética, avaliação de carcaça, genômica – e sendo selecionados no nosso meio e sistema de produção. Esse é o touro! Mas, só que não (SQN)! O mercado nos deu um “drible da vaca” e trouxeram essa centena de touros importados da América. Estão aqui produzindo com o baixo custo Brasil e vendendo a imagem de touro importado (de fato, eles são). Dizem que o mercado é soberano (e não discordo). O apelo de produto importado ainda fala alto e os negócios vivem de vendas. Teremos de correr atrás da bola se quisermos mesmo ocupar este espaço com os nossos touros nacionais. Talvez a onda patriótica nos apoie nesse chamado. No momento ainda não, pois a camiseta que usamos é a da seleção canarinho, mas a marca preferida segue sendo Nike (Just Do It).
Está ocorrendo uma mudança na participação das raças usadas na inseminação no Brasil. A raça Nelore voltou a liderar este segmento que, por muitos anos, viveu predomínio de raças europeias (especialmente Angus) para programas de cruzamento. No texto “O que está acontecendo com o cruzamento no Brasil?”, publicado aqui neste espaço em abril/22, pode-se olhar mais a miúde algumas reflexões sobre esse assunto e seus possíveis motivos.
Em 2020, as raças taurinas representavam 55% do mercado de inseminação; as zebuínas, os demais 45%. Em 2021, ocorreu uma inversão quase exata dessa proporção: zebuínos com 55%; taurinos com 45% do mercado. Uso a expressão inversão quase exata porque esses dados levam em conta o total das Top 10 raças no mercado de inseminação, responsáveis por mais de 95% das vendas de corte no país. Logo, é uma estimativa bem próxima do total, mas não é o total exato. Preciosismo meu, mas que considero conveniente esclarecer ao leitor.
Em um próximo artigo, pretendo trazer uma série histórica da participação de taurinos e zebuínos no mercado de inseminação. Creio que segue valendo a ideia de olhar às vezes para o retrovisor, mesmo querendo dirigir sempre à frente. Parto amanhã para a ExpoGenética em Uberaba. Quero ver e ouvir o que a turma do Zebu tem feito de bom no mercado de reprodutores e genética. Alguns já me falaram que a ExpoGenética se tornou mais importante que a ExpoZebu, pois os sumários são mais fortes que as pistas de julgamento. Disso eu não tinha dúvidas.
Ficam os nossos agradecimentos a todas as centrais de inseminação que, novamente, nos disponibilizaram os seus dados para realizarmos este levantamento. O setor de genética vem trabalhando bastante unido para elevar, a cada ano, a régua da qualidade dos reprodutores e do número de matrizes inseminadas neste país. Ainda devem repetir por aí que a cada 10 vacas somente 1 é inseminada, mas já rompemos essa barreira faz bastante tempo; em 2021, a cada 10 vacas inseminamos 2,3. Pro alto e avante. E vamos por mais doses!