O aumento das áreas com integração lavoura-pecuária (ILP) em Mato Grosso – 1,1 milhão em 2013 para 2,6 milhões de hectares em 2019 – está diretamente relacionado às ações de pesquisa e transferência de tecnologia conduzidas pela Embrapa em parceria com produtores no estado. É o que mostra o levantamento feito pela empresa com metodologia inovadora de sensoriamento remoto.
Tecnologia
Prova disso é que a maior concentração desses sistemas se encontra no entorno de Unidades de Referência Tecnológica (URTs). Ou seja, áreas usadas para validação de tecnologias, na maioria das vezes, em fazendas particulares.
As URTs são conduzidas pelos próprios produtores, com base em recomendações dos pesquisadores da Embrapa e profissionais parceiros. Essas áreas são apresentadas ao setor produtivo em dias de campo, visitas técnicas e capacitações de profissionais de assistência técnica e extensão rural, possibilitando a multiplicação do conhecimento.
De acordo com resultados obtidos no âmbito do Projeto GeoABC, a área de 2,6 milhões de hectares com sistemas ILP observada em 2019 equivale a 5% da área total sob uso agropecuário no estado. O estudo foi liderado por Margareth Simões, pesquisadora da Embrapa Solos (RJ) e especialista em sensoriamento remoto na agricultura.
Satélite
A partir de uma extensa série de imagens de satélite, os pesquisadores foram capazes de monitorar a expansão das áreas com sistemas lavoura-pecuária em Mato Grosso. Apresentaram resultados da crescente adoção e concentração dos sistemas ILP em diferentes períodos: 2008-2012; 2009-2013; 2010-2014; 2011-2015; 2012-2016; e 2013-2017.
Os dados geoespaciais mostram que, no início da série histórica, as áreas com ILP eram menos numerosas e se concentravam no entorno de Sinop. Ou seja, onde está a sede da Embrapa Agrossilvipastoril (MT) e três URTs de sistemas integrados; na região do Araguaia, onde também havia três URTs; e na região Sul do estado.
Crescimento
Com o passar dos anos, as regiões de Sinop e do Araguaia continuaram com grande concentração de áreas com ILP. No entanto, outras regiões cresceram de importância, como a de Colíder, no norte do estado, de Primavera do Leste e de Canarana.
O chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agrossilvipastoril, Flávio Wruck, enumera cinco fatores. Juntos contribuem para o aumento da adoção de sistemas de integração lavoura-pecuária em Mato Grosso.
Sustentabilidade
De acordo com ele, primeiramente, a ILP é uma tecnologia que viabiliza a utilização do solo de forma intensiva e sustentável. Sendo bem aplicada, traz retorno para o produtor. O segundo fator é o empreendedorismo do produtor mato-grossense, que costuma buscar e ser aberto à novas tecnologias.
O terceiro fator elencado é o avanço no desenvolvimento de tecnologias para esses sistemas, tanto aquelas desenvolvidas pela Embrapa quanto por universidades, outras instituições de pesquisa e pelos próprios produtores.
Outros dois fatores apontados por Wruck são as ações de transferência de tecnologia desenvolvidas com apoio de parceiros importantes no estado, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MT), Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) e sindicatos rurais, e as ações de comunicação e divulgação dos sistemas integrados. Entre as ações de transferência de tecnologia estão a instalação das URTs, realização de dias de campo, visitas técnicas e a capacitação de multiplicadores.
“Esse exitoso trabalho de transferência de tecnologias em sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) justifica a maior adoção da ILP nas regiões influenciadas pelas URTs nas quais ocorre um número maior de eventos, inclusive as capacitações nessa temática”, analisa o pesquisador.