* Por Lucas Aparecido Gaion1, Nilton C. Nascimento2 , Luciano R. F. Lamante2, Davi Cristian Del Hoyo Menezes1, Ronan Gualberto1
1Universidade de Marília 2Niragro – Eco Nutrição Vegetal
O agronegócio brasileiro deve o seu sucesso a alguns fatores, como investimento em tecnologias, emprego de sistemas produtivos adequados para o clima tropical, uso de defensivos e fertilizantes. Contudo, a nossa agricultura ainda é dependente da importação de grande parte dos insumos que fornecem os macronutrientes primários [nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K)].
Mais especificamente para o potássio, o Brasil possui apenas duas áreas para a exploração de rochas potássicas, o que agrava a nossa dependência da importação de insumos para a produção de fertilizantes potássicos. Dessa forma, tem crescido a busca por fontes nacionais de potássico com aptidão para o uso agrícola. Primeiramente vamos tratar da importância do K para o crescimento vegetal.
O K é um macronutriente, ou seja, absorvido em grande quantidade pelas plantas, e o cátion mais abundante nos vegetais. Embora o K não seja encontrado em nenhuma estrutura vegetal ou molécula química, ele está envolvido em uma variedade de funções fisiológicas essenciais para o desenvolvimento vegetal.
Por exemplo, o K é necessário para a atividade fotossintética, manutenção do turgor celular, regulação dos movimentos estomáticos, promoção da absorção de água, regulação da translocação de nutrientes na planta, estimulação do transporte e armazenamento de carboidratos, aumento da absorção de nitrogênio, promoção da síntese de proteínas e ainda participa da síntese de amido nas folhas.
As plantas absorvem K na sua forma catiônica de K+ monovalente, que é dissolvido na solução do solo. Além disso, o K+ na solução do solo está em equilíbrio com o K+ ligado às cargas negativas dos colóides do solo, atuando como um repositório para as plantas.
O K pode ser perdido devido à erosão das partículas minerais argilosas que retêm o nutriente no solo, bem como pela sua lixiviação em solos com baixa capacidade de troca catiônica (CTC). A lixiviação, por exemplo, pode transportar o K para camadas mais profundas do solo fora da zona de desenvolvimento radicular da planta.
Além disso, a disponibilidade de K é particularmente baixa em solos ácidos, como os encontrados no Cerrado brasileiro. De fato, a deficiência pela baixa disponibilidade de K é uma condição comum em solos agrícolas nacionais e responsável pela limitação da produção de diversos cultivos agrícolas.
Por isso, a fim de garantir o suprimento adequado de K para as plantas, os agricultores devem realizar aplicações frequentes de fertilizantes potássicos, destacadamente o cloreto de potássio (KCl). O KCl é uma fonte solúvel de potássio que possui o cloro como íon acompanhante.
Embora tradicionalmente o KCl seja a fonte de potássio mais amplamente utilizada pelos agricultores, o seu uso pode trazer consequências negativas aos sistemas agrícolas, como salinização e o acúmulo de cloro no solo. A salinização pode causar danos fisiológicos às sementes e raízes das plantas, o que dificulta a absorção de água e outros nutrientes, especialmente em períodos de estiagem.
Por sua vez, o cloro, além de prejudicar o desenvolvimento vegetal, exerce um forte impacto negativo sobre a microbiota do solo, o que dificulta o estabelecimento de uma agricultura mais sustentável. Mais recentemente, outro agravante ao uso do KCl tem surgido. Embora o Brasil seja um dos maiores consumidores mundiais de fertilizantes potássicos, a matéria prima utilizada no Brasil para a produção do KCl é quase que exclusivamente importada (~ 96,5%).
O Brasil importa o seu KCl principalmente do Canadá e da Rússia. Contudo, no ano de 2021 foi observada uma grande limitação nas importações desse elemento, o que levou a grande elevação dos preços internos e em muitos casos a escassez e desabastecimento do produto no mercado brasileiro. Essa situação coloca em risco a agricultura nacional e, consequentemente, a segurança alimentar do povo brasileiro e de outras partes do mundo, haja vista a vocação brasileira para a exportação de alimentos.
Dessa forma, fica evidenciada a importância de se investir na busca de fontes nacionais que possam, ao menos parcialmente, substituir o potássio importado. Diante deste cenário, as rochas silicáticas potássicas tem se mostrado viável quando realizados ensaios sobre eficiência agronômica, inclusive, apresentando as vantagens de ser uma fonte nacional, com menor custo por K2O equivalente, ausência de cloro, presença de outros elementos e grande quantidade de silício.
O silício, por sua vez, é um elemento benéfico que melhora a resposta das plantas a estresses abióticos e bióticos. Essas rochas podem inclusive atuar como condicionadores de solo, melhorando suas propriedades químicas. Na verdade, há várias rochas silicáticas abundantes no Brasil com potencial de uso como fonte de K em sua forma moída.
Por isso, nosso grupo de pesquisa tem desenvolvido alguns ensaios com o silicato de potássio (K6) da mineradora Embu S.A. O K6, como o próprio nome indica, apresenta cerca de 6% de K2O e 65,7% de óxido de silício. Teores de elementos presentes no silicato de potássio (K6) da empresa Embu S.A. Elementos Teor (%) K2O 6,07 SiO2 65,7 P2O5 0,36 MgO 1,12 CaO 2,62 MnO <0,10 TiO2 0,63 Em nosso experimento comparando o KCl (56% K2O) e o K6 em feijoeiro cv. Pérola, nós observamos uma produção superior de grãos em plantas tratadas com K6, quando comparado às plantas que receberam KCl.
Por outro lado, o tratamento com K6 não diferiu das plantas controle (sem K), isso se deve provavelmente ao teor relativamente elevado de K no solo utilizado neste experimento que era de 3 mmolc dm3 . Contudo, esse dado pode ser indicativo de possível efeito negativo da adição de KCl ao solo, possivelmente pela toxicidade causada pelo cloro presente nesta fonte de potássio. Produção de grãos de feijoeiro cv. Pérola cultivado com duas fontes de potássio (silicato de potássio – K6 e cloreto de potássio – KCl) em um argissolo da região de Marília-SP.
Além disso, foi observada uma clara redução da severidade de oídio (Erysiphe polygone) em plantas de feijoeiro tratadas com K6 (isolado ou em combinação com o KCl). Esse resultado é induzido, provavelmente, pela grande quantidade de silício presente em K6. De fato, o silício é um elemento benéfico conhecido por melhorar a resposta vegetal a estresses bióticos, como patógenos causadores de manchas foliares, lagartas e nematoides.
Notas de severidade de oídio (Erysiphe polygone) em folhas de feijoeiro cv. Pérola cultivado com duas fontes de potássio (silicato de potássio – K6 e cloreto de potássio – KCl) em um argissolo da região de Marília-SP. Notas:
- 0 a 25% do limbo foliar com sintomas do ataque de oídio;
- 26 a 50% do limbo foliar atacados;
- 51 a 75% do limbo foliar atacados;
- 76 a 100% do limbo foliar atacados.
Dessa forma, podemos concluir que o K6 é uma alternativa interessante para a cultura do feijoeiro. Além disso, nossos resultados indicam que o silicato de potássio é uma fonte de potássio promissora, podendo e devendo ser investigada em outras culturas, especialmente neste momento de crise no setor de fertilizantes.
O Brasil como um dos grandes produtores de alimento do mundo não pode ficar refém única e exclusivamente de fontes de fertilizantes do exterior que estão sujeitas a interferências do comércio global e até mesmo vontades político-ideológicas de outros países.