O mercado de usados, que teve um boom na pandemia, já está sentindo a diminuição da procura, sobretudo em pulverizadores autopropelidos e plantadeiras. E vai chegar a vez dos tratores e colheitadeiras
Marcelo Kozar, diretor do Grupo Via Máquinas
A pandemia do Covid-19 e suas consequências foram desastrosas para quase todos os mercados globais. Porém, o mercado de equipamentos agrícolas usados foi favorecido, muito em função da falta de máquinas e de equipamentos novos e pela impossibilidade dos consumidores irem até as concessionárias e revendas autorizadas para fazerem os pedidos programados.
Com as políticas de lockdowns, as concessionárias foram obrigadas a fechar suas portas em março de 2020, no meio da colheita e do plantio. Sem contar que, logo após a indústria retomar as suas atividades, outro problema apareceu: a falta de semicondutores e outros insumos necessários para a produção dos equipamentos novos. Isso acarretou atrasos e pedidos programados para a entrega de até 18 meses. Apesar de muitos modelos já estarem com sua entrega em rápido processo de normalização, ainda há equipamentos sem prazo para a entrega ou com datas que facilmente ultrapassam os seis meses.
Nessa situação inusitada em que os produtores se encontraram, diante da qual precisavam de máquinas e não tinham perspectivas para o recebimento delas a partir das concessionárias, a solução foi procurar o que era necessário no mercado de usados. Tal atitude acarretou uma verdadeira corrida pelos equipamentos. O caminho mais óbvio para aquisição desses bens foi através das plataformas online e sites de equipamentos usados.
Antes da pandemia, havia muitos sites especializados, porém a crescente busca por equipamentos nesses meios gerou uma explosão de novas empresas online, com novos sites surgindo diariamente. Essa grande oferta não passou despercebida por pessoas mal-intencionadas, que tinham o propósito de enganar e de aplicar golpes nos produtores menos atentos ou com pouca experiência nas compras virtuais.
Cuidado com os golpes online
O golpe do bilhete premiado não é novo para ninguém, mas, frequentemente, nos noticiários, identificam-se pessoas que caem nessas falsas promessas e perdem suas economias. No mercado online não é diferente. Há muitas empresas sérias, mas, mesmo assim, algumas medidas de segurança o comprador deve tomar. Consultar CNPJ, endereço, telefone fixo, pagamento em conta relacionada ao CNPJ, tempo da empresa no mercado são aspectos a serem pesquisados e de suma importância para evitar os aventureiros que se multiplicaram no período da pandemia.
A corrida dos clientes de máquinas novas para o mercado de usados fomentou uma supervalorização do preço dos usados, que, em janeiro de 2022, chegou a incríveis 450% de aumento para alguns modelos. E, na média, todos os equipamentos agrícolas subiram em torno de 250%. Em comparação ao mercado de novos, os preços subiram, em média, no mesmo período 98%.

Esta valorização rápida criou um efeito colateral no mercado, no qual proprietários de máquinas agrícolas começaram a vender seus usados, a fim de aproveitar os preços elevados que o mercado estava pagando. Um exemplo pode ser dado para o modelo de trator Valtra BH 180, ano 2010: em 2019, a máquina era comercializada em torno de R$ 95 mil, mas, atualmente, uma similar em bom estado de conservação não é vendida por menos de R$ 250 mil. Um aumento de 263%.
No entanto, como os mais sábios costumam dizer “árvore que cresce rápido fica com o tronco fino, e a mais leve brisa pode derrubar”. Agora, com a retomada da normalidade da indústria e com os pedidos programados de novos voltando aos patamares praticados em 2020, os clientes desse grupo estão voltando a negociar e a adquirir equipamentos atualizados. Esse retorno ficou explícito na Agrishow, que ocorreu em abril em Ribeirão Preto/SP. A estimativa era de que o volume financeiro fosse de R$ 9 bilhões, mas o realizado foi superior a R$ 11 bilhões.
Preços vão se ajustar à realidade
O mercado de usados já está sentindo a diminuição da procura, em especial para pulverizadores autopropelidos e plantadeiras. Essa tendência vai – invariavelmente – alcançar tratores e colheitadeiras. O mercado vai ter que se adequar à nova realidade; os preços dos usados vão se ajustar. Isso não aos patamares de 2019, mas em linha com o aumento dos preços dos equipamentos novos neste mesmo período.
Portanto, os preços dos usados devem desidratar nos próximos meses até chegarem a um valor de oportunidade novamente. Quanto tempo vai levar até esta equalização? Vai depender da capacidade de entrega da indústria dos novos. Quanto mais rápido for, menor o tempo para o mercado de usados recuar a patamares normais de preços, seguindo a lógica econômica de oferta e demanda.