O impacto do bloqueio das exportações russas de nitrato de amônio (NAM), por dois meses, no Brasil é imediato. Há grandes chances de desabastecimento de NAM. Isso porque os brasileiros importam, anualmente, 1,5 milhão de toneladas do insumo. De todo este volume, 98% vem da Rússia.
Ou seja, somos imenso consumidor mundial e precisaríamos comprar 70% da cota estabelecida pela Rússia para obter o volume importado necessário no primeiro semestre. O problema, que já era complexo, agravou-se.
Cana-de-açúcar e café
As lavouras de cana-de-açúcar e de café são as que mais utilizam o insumo e têm adubação longa. Os trabalhos na cultura de cana-de-açúcar começam exatamente com a proibição russa. As usinas grandes já estão preocupadas. A aplicação do NAM vai de março a dezembro. Então, agora é exatamente o período de compras do ativo. Portanto, será a mais prejudicada.

Já o período de adubação do café ocorre de junho a outubro. Ou seja, fora da janela de restrições russas. Mesmo assim é incerto, porque em abril, no fim da proibição, a exportação ainda estará restrita à cota.
Além disso, há outras dificuldades na cadeia de suprimento, como a logística. Possivelmente, em junho, quando for o período de maior uso em café, ainda haverá problemas no fornecimento.
O NAM pode ser substituído por outros ativos, especialmente pela ureia. Contudo, há maiores riscos de perdas de eficiência já que a ureia apresenta maior volatilidade em determinadas condições climáticas. O fato de ter alternativa de produto minimiza apenas em parte a situação.
Mercado interno
O Ministério da Agricultura russo anunciou a proibição das exportações do NAM a partir de 02/02/2022 até 1º/04/2022. O país alegou necessidade adicional do nutriente no mercado interno devido ao atraso na semeadura da safra de primavera.
A restrição permitirá o fornecimento adequado do NAM aos agricultores locais e impedirá o aumento dos preços do adubo em condições de demanda aquecida. Anteriormente, o país havia adotado cotas para limitar a comercialização externa do produto por seis meses – de dezembro do ano passado a maio deste ano.
A exportação de NAM estava restrita a 745 mil toneladas, redução de 58% sobre o exportado pelo país em igual período sem cota. A decisão da Rússia de suspender temporariamente as exportações surpreendeu o mercado, já que o país havia adotado as cotas-limite para vendas externas do produto até maio.
Alta de preços
A medida deve aumentar os preços do insumo. A oferta mundial ficará ainda mais restrita sem o fornecimento russo neste período. A situação é agravada pelo fato de haver poucas possibilidades de origens alternativas do adubo.
A China, por exemplo, é uma grande exportadora de sulfato de amônio, Mas não há conhecimento sobre produção e exportação de nitrato pelo país. Portanto, a Rússia é de fato o grande produtor do NAM.
Mesmo que se busque o produto em outras origens, todo volume não será reposto. Por isso, as chances de desabastecimento são muito altas.
Fonte: Broadcast Agro