A crise de logística instalada no mundo depois da pandemia de Covid-19 traz problemas para todos os setores do agronegócio. Portanto, a cafeicultura é afetada. O presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Silas Brasileiro fala das preocupações do setor.
Temos cerca de 3,5 milhões de sacas de café represadas, que poderiam estar no mercado consumidor. Além de falta de contêiner, enfrentamos a dificuldade da elevação do preço do transporte.
Silas Brasileiro
O governo dos EUA determinou trabalho ininterrupto nos portos para sanar um outro problema. “Se hoje conseguíssemos contêineres para exportar o que já foi contratado, não teria pátio nos portos para abrigar todo o nosso produto.”
Frete aéreo
O desespero levou alguns produtores de cafés especiais a mandar o produto via aérea. Mas isso foi exceção. “O produto precisa ter alto valor agregado para comportar custos do carregamento aéreo.” A informação é do diretor executivo da Associação Brasileira dos Terminais Retroportuários e das Transportadoras de Contêineres (ABTTC), Wagner Souza.
“Este foi excepcional, um caso isolado. O preço normalmente não permite utilizar esse tipo de frete. No caso, era um produto de qualidade superior. Não é qualquer café que se consegue colocar em avião.”
Wagner Souza
Do mesmo modo, Altair Baptista, CEO da TFA Cargo – empresa associada à Associação Brasileira de Logística (Abralog), enxerga a questão. Segundo ele, o preço do frete é por quilo e é alto. “No agronegócio, o aéreo só compensaria para componentes eletrônicos usados em equipamentos. E para frutas perecíveis.”
Demanda
Já Brasileiro relata que o Ministério da Economia trabalha com cafeicultores e entidades para dar prioridade ao produto. “Valorizamos muito a fidelização dos nossos compradores. Estamos empenhados em ter uma certa normalização na utilização dos contêineres. Mas, a demanda é muito grande em nível mundial.”
No entanto, afirma que a inquietação não é somente com o café em si. “Quando a economia americana foi ativada, começou a exportar em quantidade maior.” Isso afetou ainda mais a demanda por cotêineres.
Assim, a solução para alguns produtores foi dar um passo atrás. “O que está acontecendo é voltar a embarcar produtos como granel. Açúcar está sendo saindo sem contêiner mesmo, diretamente no navio”, exemplifica Souza.
Rodoviário
O transporte rodoviário também é bastante impactado pela falta de contêineres. As empresas têm demorado muito para embarcar seus produtos.
Dependendo da rota, a espera é de dois meses para conseguir reserva dentro do navio. “O transportador rodoviário é ligado à cadeia da exportação. O produto sai de caminhão até o porto onde será embarcado via marítima”, diz Baptista.
Foto: Wenderson Araújo/CNA
As fontes foram entrevistadas por Thais D’Avila.
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