A Terminação Intensiva a Pasto (TIP) desafia criadores a atender à demanda nutricional do gado para obter acabamento de carcaça, especialmente em períodos secos. Em torno de 35% do peso da carcaça provém do período final do ciclo, que compreende a 16% da vida do animal. São dados do artigo de pesquisadores da Unesp e da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), publicado na Revista AG de outubro.
Porém, quanto mais próximo da maturidade, menor é sua deposição de proteína. Também é maior sua deposição proporcional de gordura acumulada na carcaça, exigindo grande mudança nutricional. Assim, para produzir uma carcaça com o mínimo de acabamento, os animais precisam ingerir uma dieta adensada energeticamente, conforme preconizam os cinco passos listados abaixo:
Passo 1 – Nível de suplementação
Ao mesmo tempo em que a demanda energética do animal é elevada durante a terminação, seu trato gastrointestinal reduz em proporção ao peso corporal (PC). Por isso, o pasto isoladamente não é capaz de oferecer os nutrientes necessários para altos ganhos em carcaça.
Deve-se levar em consideração ainda que a TIP predominantemente ocorre na estação da seca, período em que o pasto possui baixa qualidade. Desse modo, é necessário que o nível de suplementação esteja entre 1,5 e 2% do PC dos animais.
Passo 2 – Pasto disponível
O consumo de pasto pelos animais na TIP compreende menos de 10% das exigências de proteína bruta (PB) e nutrientes digestíveis totais (NDT) diárias. Variando entre 15% e 20% da ingestão total de matéria seca. No entanto, o pasto é fonte de fibra fisicamente efetiva.
Ele auxilia na motilidade ruminal, ruminação, controle de pH e, consequentemente, diminui o risco de acidose. Por isso, sua disponibilidade durante todo o período de terminação é fundamental para que os animais possuam bom desempenho.
Além da oferta, a qualidade do pasto também é importante para que os animais tenham bom desempenho. Usualmente, é recomendado o diferimento do pasto por períodos curtos (40 a 60 dias), precedidos de adubação nitrogenada (entre 50 e 100 kg ha-1 de N). Isso garante a oferta de um pasto com maior qualidade durante o período da TIP.
Passo 3 – Adaptação gradual
Assim como na terminação em confinamento convencional, na TIP, os animais necessitam ser adaptados à dieta com alta inclusão de concentrado. Inicialmente, ocorre uma série de mudanças comportamentais na composição da microbiota ruminal e fisiológicas no animal.
Por isso, é necessário adotar um protocolo de adaptação gradual. Isso garante o estabelecimento de uma microbiota ruminal adequada. Além de permitir adaptação das papilas ruminais e preparação das vísceras e órgãos para metabolizar a dieta.
Os animais necessitam “aprender” a regular a ingestão do suplemento e a quantidade de pasto necessária para manter a saúde ruminal. Assim, são recomendados protocolos em que os níveis de suplementação sejam aumentados em escada, 0,25% do PC animal a cada 3-4 dias seguidos de cocho sem sobras.
Para animais não suplementados durante a recria, a sugestão é iniciar com 0,5% do PC, subindo gradualmente até os 2% do PC. Em animais suplementados com níveis iguais ou superiores a 0,3% do PC, a suplementação pode iniciar com 1% do PC.
Uma boa adaptação no início da TIP irá evitar distúrbios metabólicos nos animais. Assim como variações no consumo de suplemento e no desempenho dos animais dentro do lote.
Passo 4 – Controle de processos
A TIP possui algumas vantagens quando comparada à terminação em confinamento convencional. Entre elas podemos citar:
- menor desembolso inicial em instalações;
- não necessita de estrutura e estocagem de volumoso para a seca;
- fornecimento de um trato diário, pois o animal regula o consumo de suplemento;
- manutenção de altas taxas de lotações nas pastagens diferidas (4 a 6 animais/ha);
- reposição de altas quantias de nutrientes ao solo via fezes e urina;
- maior bem-estar aos animais (Alves Neto et al., 2018; Siqueira et al., 2018).
Contudo, é necessário que o sistema seja bem dimensionado para aumentar a chance de sucesso na operação. Em geral, a recomendação para o tamanho dos piquetes é que possuam entre 15 e 20 hectares.
O número de animais no lote também é importante, devendo garantir lotes de 80 a 120 animais e variação de 30 kg de PC na apartação. Adicionalmente, o espaçamento de cocho deve estar entre 25 e 30 cm lineares. Essas dimensões reduzem o número de conflitos entre os animais. Portanto, garantindo melhor desempenho e menor variação dentro do lote, evitando a formação de fundo/refugos.
Um aspecto que também merece destaque é o local de instalação dos bebedouros. Estes devem possuir boa vazão e, de preferência, serem instalados a 100 metros de distância dos cochos para suplementação.
A medida faz com que não haja formação de barro pela água de lavagem e com que os animais sujem menos a água com resíduos de suplementos carregados pela boca. Os bebedouros devem ser lavados com frequência, sempre que estiverem sujos.
Além do dimensionamento, é fundamental ter ferramentas para controle de processos. Dentre elas podemos destacar o monitoramento do escore fecal. As fezes e como elas se apresentam (forma e consistência) podem indicar a ocorrência de alterações no trato gastrointestinal e suas implicações na saúde e no desempenho dos animais.
Desse modo, a avaliação do escore fecal proporciona entender a interação dieta e animal, fornecendo informações rápidas para tomada de decisão no manejo nutricional e/ou sobre falhas no dimensionamento, como espaçamento de cocho reduzido, uso inadequado de aditivos na dieta e desvios de mistura e de trato.
Passo 5: Ganho em carcaça e avaliação
A avaliação do desempenho dos animais é necessária para determinar o resultado financeiro da atividade. Porém, o uso isolado do ganho médio diário (GMD) como métrica pode acarretar conclusões errôneas na TIP. Nela o rendimento do ganho (RG) dos animais é superior quando comparado à terminação em confinamentos convencionais. Essas métricas devem ser utilizadas em conjunto para tomada de decisões e avaliação dos giros.
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