Coluna Marie Bartz, escrita pela bióloga, Centro de Agricultura Regenerativa e Biológica e centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, em Portugal, e Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto (Febrapdp), Marie Bartz.
Título original: Personalidades que marcaram os 50 anos do SPD na América Latina: Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), atual Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná
Neste mês de setembro, será abordado aqui o homenageado pela Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto (Febrapdp), através da Medalha de Honra Herbert Bartz, pela significativa contribuição em pesquisa e desenvolvimento: o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), atual Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR Paraná Iapar-Emater).
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Para me auxiliar a relatar a história e o que essa entidade significou para o processo de adoção e expansão do sistema plantio direto, teremos o pesquisador Rafael Fuentes Llanillo, da Área de Socioeconomia do Instituto, e que lá atua, desde 1979, além de ser um membro assíduo nas atividades da diretoria da Febrapdp; eu, particularmente, o considero – de coração – meu “irmãozinho mais velho”.
Antes ainda de ser Iapar, a entidade era o Instituto de Pesquisa Agropecuária Meridional (Ipeame), o qual teve um papel fundamental no início do plantio direto. O Ipeame acolheu Rolf Derpsch, que era vinculado à Agência Alemã de Cooperação Técnica (GTZ) e que realizou os primeiros estudos com culturas de cobertura, primordiais para a evolução do plantio direto para sistema plantio direto. Em 1972, o Ipeame veio a fazer parte e integrar a criação do Iapar.
“Com a expansão da adoção do plantio direto por todo o Brasil, a partir dos anos 1990, o foco do Iapar passou a ser o incremento da qualidade do sistema“
O Iapar foi criado com uma estrutura matricial em que, de um lado, estavam as áreas de conhecimento, em que estavam alocados os pesquisadores; de outro, os programas de pesquisa, com os projetos que eram conduzidos por equipes multidisciplinares das diversas áreas. Um dos programas mais importantes dessa criação foi o Programa Conservação de Solos, no qual foram desenvolvidos projetos de suma importância para o controle da erosão que assombrava a todos naquele período de transformação da lavoura cafeeira predominante em agricultura mecanizada de grãos e que, pelo preparo intensivo do solo com arados e sucessivas gradagens, gerava perdas de até 100 toneladas por hectare ano de solo. Dentre as tecnologias desenvolvidas no período, havia as práticas mecânicas como terraços e plantio em nível, dentre outras, porém as mais importantes preconizavam novos manejos de culturas. Daí apareceu o foco no desenvolvimento do plantio direto. Foi uma conjunção de fatores.
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A presença do Rolf Derpsch, a proximidade e a influência de Herbert Bartz, como também de Franke Dijkstra e Nonô Pereira, e a equipe montada por Osmar Muzilli e Arcângelo Mondardo, no instituto, deflagraram, em 1976, a condução dos primeiros experimentos em Londrina e Carambeí, comparando plantio direto e preparo de solo convencional em diferentes sistemas de rotação de culturas. Para resumir, com base nesses experimentos e em outras pesquisas-satélite, pela primeira vez, foi conceituado o sistema plantio direto (plantio sem revolvimento, cobertura permanente e rotação de culturas) no Manual Agropecuário para o Paraná 1978 e surgiu, em 1981, o primeiro livro de plantio direto do Brasil.
Esses fatos foram muito emblemáticos; isso provocou a condução de diversos estudos nas mais diferentes áreas sobre o desenvolvimento do sistema plantio direto no Iapar, acompanhando uma tendência nacional nos anos 1980 que chamamos de época dos estudos do sistema plantio direto.
Mas como a temática de hoje da coluna é o Iapar, outro fato de grande destaque foi o desenvolvimento da semeadeira tração animal Gralha Azul pela equipe do Ruy Casão Júnior, precursora do desenvolvimento do sistema plantio direto para pequenos produtores do Brasil. Depois, possibilitou a expansão do sistema para muitos países da África, América Latina e Ásia. Com a expansão da adoção do plantio direto por todo o Brasil, a partir dos anos 1990, o foco do Iapar passou a ser o incremento da qualidade do sistema, ou seja, viabilizar tecnologias apropriadas para transformar plantio direto em sistema plantio direto. Esse foco foi feito junto com Itaipu Binacional nos municípios lindeiros da represa no Oeste do Paraná no período 1997 a 2006.
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O principal produto desse trabalho está concentrado no livro Sistema Plantio Direto com Qualidade, editado por Itaipu e Iapar. Esse trabalho foi também a base técnica do desenvolvimento de uma ferramenta pela Febrapdp e Itaipu, para avaliação da qualidade do plantio direto: o Índice de Qualidade Participativo do Sistema Plantio Direto (IQP) que tem sido utilizado em diversas regiões do país e que, atualmente, está servindo como base para um sistema de certificação para reconhecimento dos serviços ambientais prestados pelos produtores que fazem sistemas sustentáveis.
Outra característica de destaque do instituto foi a cessão de seus pesquisadores para participarem de missões internacionais da FAO das Nações Unidas para divulgação do sistema plantio direto e da agricultura conservacionista. Esse é o termo mundial para descrever SPD, ILP, SPDH e sistemas sustentáveis que seguem os três princípios em países da África, Ásia Central, América Central e Caribe, principalmente, onde poderiam ser destacados o Ademir Calegari e Ruy Casão Júnior – autoridades mundiais nas suas áreas de atuação. Esses movimentos geraram uma difusão massiva da tecnologia brasileira e de seus equipamentos e produtos.
Enfim, hoje, como IDR-Paraná, vive-se uma fase de transição institucional onde existe a sinergia da integração entre pesquisa e extensão que deve ser canalizada da forma mais produtiva possível não só no sistema plantio direto de grãos, mas também nos sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta, sistema plantio direto de hortaliças e sistemas de produção de frutas com cobertura permanente, utilizando a propulsão de políticas públicas como o Plano ABC+. O legado do instituto nos permite sonhar para o futuro!