A pecuária brasileira tem evoluído muito nestes últimos anos, graças à utilização de novas tecnologias, como o touro Nelore melhorado, visando à eficiência, sustentabilidade e respeito ao meio ambiente. Parte importante e imprescindível desse processo está na escolha dos touros que são utilizados durante a estação de monta. Assim, adotar critérios que, geneticamente e fenotipicamente, obedeçam ao objetivo do negócio é fundamental para obter resultados, tanto individualmente quanto na evolução genética do rebanho como um todo.
Falamos aqui da raça Nelore, que representa mais de 80% do rebanho de corte do País que, num extremo, conta com pecuaristas profissionalizados e tecnificados, adeptos da Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF). Na outra ponta, temos a esmagadora maioria dos criadores, que utilizam a monta natural.
Neste grupo, estão pecuaristas que contam com assessoria técnica especializada, aqueles que optam por usar touros Puros de Origem (PO) ou CEIP (que portam o Certificado Especial de Identificação e Produção) e os que não fazem nem ideia de quais características avaliar em um touro melhorador. Especialmente para este grupo, a seguir, sugerimos importantes pontos a serem observados nas compras diretas em fazendas, em leilões ou, até mesmo, no momento da aquisição de doses de sêmen nas centrais de genética.
O touro ideal
Não existe o reprodutor perfeito, mas um bom touro Nelore precisa ser funcional, produtivo e precoce. Se vier acompanhado de ótimas Diferenças Esperadas na Progênie (DEPs) e expressão racial desejada, melhor ainda. O animal tem de ser capaz de caminhar longas distâncias e cobrir as vacas todos os anos. Deve repassar à progênie facilidade de parto, maior peso à desmama aos machos e boa habilidade paterna às fêmeas, além, claro, de maior peso adulto e qualidade de carcaça. É importante procurar reprodutores com uma régua de DEPs equilibrada para que se possa melhorar uma ou mais características sem prejudicar as outras. Então não faz sentido, por exemplo, produzir crias com peso à desmama acima da média se elas vão gerar problemas de parto ou novilhos abatidos acima de 18@ sem o devido acabamento de carcaça.
Mas não basta o animal ter bons números nos sumários de touros dos Programas de Melhoramento genético PO e CEIP ou ter padrão racial garantido pelo registro genealógico definitivo na Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). O animal deve ser um pacote completo. Um touro precisa ser harmônico, equilibrado, comprido, arqueado, profundo. Deve possuir bons aprumos e cascos fortes, bainha e umbigo bem posicionados. Precisa ter o escroto de bom tamanho, forma e posicionamento. A boca precisa ser larga e as narinas, amplas. O peito deve ser aberto, com costelas bem arqueadas, longas, espaçadas, garupa extensa e larga. Além disso, um bom reprodutor tem uma musculatura bem distribuída e concentrada na região dorso-lombar e garupa, onde se encontram os cortes mais valorizados e desejados pelos consumidores de carne bovina. Há touros Nelore PO ou CEIP capazes de imprimir carcaças com ótima qualidade frigorífica, aumentando o peso à desmama entre 30 e 60 kg ou gerando abates de 20@ antes dos 30 meses de idade.

Preparação e estudo
Para adquirir reprodutores Nelore o primeiro passo será procurar, via internet ou presencialmente, as melhores opções de empresas de sêmen ou de fazendas para adquirir o material genético desejado. Procure conhecer os diversos trabalhos de seleção existentes, quais as linhagens utilizadas, os critérios de seleção adotados e as características que melhor se encaixariam e trariam melhor resultado para o seu rebanho. E agende uma visita para conferir o trabalho de perto.
Caso opte por comprar touros em remates virtuais ou presenciais, verifique antecipadamente a data do leilão. Confira suas ofertas, analise-as por vídeos e fotos. Preste atenção em detalhes individuais de conformação e genealogia. Identifique também as DEPs que mais lhe interessam (peso ao nascer, peso ao
ano ou ao sobreano, fertilidade, habilidade materna, acabamento de carcaça, área de olho do lombo ou marmoreio, entre muitas outras). Se a oportunidade de compra na propriedade escolhida já ocorreu, verifique a disponibilidade de vendas diretas, pois algumas seguem comercializando sua genética após o
pregão.
Para realizar a compra, é importante conhecer os diversos programas de melhoramento genético para a raça existentes no Brasil, como o PMGZ, da ABCZ; ANCP, Embrapa- Geneplus, CFM, PAINT, Qualitas, DeltaGEN, Cia do Melhoramento, etc, para verificar as características genéticas que mais atendam às necessidades do seu plantel.
Perna de frango
Aprofundar os conhecimentos em morfologia será essencial para adquirir touros equilibrados, harmônicos e com aprumos corretos. Acertar nesse aspecto impactará diretamente no tempo de uso do touro, que deve seguir cobrindo entre oito e dez anos. Aprumos corretos darão sustentação ao animal durante a monta, possibilitando a flexão e, depois, a impulsão para realizar a passada. Os membros anteriores sem desvios também direcionam e facilitam a caminhada, principalmente sob condições ambientais adversas. Os melhores reprodutores têm aprumo posterior com angulação dos jarretes
em 160 graus. Um ângulo mais próximo a 180 graus indica que o animal tem um problema chamado de “Perna de frango”, e poderá ter dificuldades ao caminhar e ao montar a fêmea. Jarretes muito fechados (menores que 160 graus) também não são desejáveis porque forçarão a quartela.
Aparelho reprodutor
O aparelho reprodutor é fundamental para a fertilidade e sucesso da monta. Seu correto direcionamento facilitará a cobertura e aumentará a longevidade do animal, que deixará o maior número de filhos possível no rebanho. Por conta disso, é recomendado solicitar a realização de exames andrológicos (qualidade e viabilidade espermática) para atestar a fertilidade dos animais. É preciso também verificar o tamanho, a forma e o posicionamento do escroto, além da posição e o direcionamento do vergalho. Não pode haver excesso de umbigo e bainha. Se o touro tiver aprumos e aparelho reprodutor corretos, além de alta capacidade cardíaca e pulmonar, sua funcionalidade está garantida.
Conformação
Os touros da raça Nelore devem ser compridos, ter costelas longas, arqueadas e espaçadas. A garupa e o peito devem ser amplos e a musculatura, bem distribuída e mais volumosa na região dorso-lombar e garupa, onde encontramos os cortes mais valorizados (bife ancho, contra filé, filé mignon, picanha e outros). Os reprodutores têm de ser harmônicos, com passagem suaves entre pescoço e paleta, região da espádua, que deve apresentar inclinação correta e uma musculatura adequada para dar firmeza nesta importante região, que é responsável pela movimentação dos membros anteriores.
Também devem ter passagem harmônica para as primeiras costelas, depois para o costado e a garupa. Procure os que presentarem pescoço mais pregueado e grosso, como desejamos num macho, diferente das fêmeas, nas quais o pescoço é mais longo, fino e delicado. O cupim deve estar implantado sobre a cernelha e ter formato de castanha. A cabeça do animal precisa seguir o padrão racial do Nelore. Prefira touros com chanfro mais curto e largo em comparação ao das fêmeas e também boca larga, para, ao mesmo tempo, gastar menos energia e aumentar a eficiência na captura de alimento. Pigmentações da pele e pelos, narinas, pálpebras, cascos e cauda também devem ser observadas.
Alguns machos apresentam pigmentação mais escura (cinza), principalmente no pescoço, que são os hormônios masculinos atuando. Seria a barba e o bigode dos homens, que começam aparecer na puberdade, pela maior produção de testosterona, um hormônio diretamente relacionado com a fertilidade masculina. Essa mesma relação é vista nos touros.

Genealogia, DEPs e genômica
Após selecionar os reprodutores que mais lhe agradaram morfologicamente e por sua genealogia (pai,mãe e avós e bisavós), veja os resultados das DEPs e da avaliação genômica através dos sumários de touros existentes nos programas de melhoramento genético. Seria muito importante conhecer cada um deles e utilizar os que mais o pecuarista se identifique, mas, lembre-se: ao mesmo tempo, também é muito importante avaliar umbigo, aprumos e as demais características morfológicas importantes, pois o
touro precisa ser um “pacote completo”.
Uma dica é definir apenas duas ou três DEPs para focar no processo de melhoramento, inicialmente. Ao se escolher várias, ficará difícil checar se realmente houve incremento positivo em todas aquelas características. Por exemplo, se necessita aumentar o peso ao ano dos seus animais, verifique entre os touros selecionados morfologicamente, quais apresentam maior DEP para essa característica e defina os melhores que poderão adquirir, quer seja na fazenda ou em leilão.
Fala-se muito da régua de DEPs, que são os índices de desempenho relativos a cada característica listada nos sumários de melhoramento. Procure touros com maiores números para as características genéticas desejadas, com exceção do peso ao nascer e idade ao primeiro parto, que devem negativas.
Procure sempre touros com uma régua de DEPs equilibrada, pois dará um resultado médio ao seu rebanho, sem perdas em alguma outra característica de interesse.
Utilizando o exemplo anterior, se o pecuarista busca maior peso à desmama, não esqueça de verificar se a facilidade de parto também está dentro do desejado. Os trabalhos de melhoramento divulgam, anualmente, os seus sumários e através de uma fórmula matemática, que é específica para cada um deles, apresentam um ranking dos touros avaliados, do melhor para o pior. Esse ranqueamento pode ser apresentado por um índice TOP ou DECA. TOP 0,1% é o melhor e o TOP 100% o pior. Já DECA 1 significa que o touro está entre os 1% a 10% melhores, os DECA 2 estão entre os 11% e 20% melhores e assim, sucessivamente. Mas será que o TOP 0,1% e TOP 1% ou o DECA1 ou DECA 2 são o que o pecuarista realmente necessita no momento de optar por um touro provado? Pode acontecer de um TOP 10% ou 20% ou um DECA 3 já fornecer o melhoramento almejado.
Defina quais animais ou sêmen deseja adquirir ou até mesmo selecionar dentro do seu próprio rebanho para que os reprodutores sejam utilizados como melhoradores e transmitam superioridade morfológica, genética e funcional às futuras progênies, garantindo o melhor desempenho geral e o reconhecimento do mercado. O retorno vem através da maior valorização dos produtos comer civilizados e do aumento da eficiência produtiva do rebanho, mas desde que se valorize e capacite seus colaboradores e preserve o meio ambiente. Se possível, participe de dias de campo, faça cursos específicos de avaliação morfológica e genética e, ainda, obtenha acompanhamento técnico gabaritado, disponível nas diversas regiões brasileiras, para auxiliar na decisão. Sucesso!
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