Expirou nesta segunda-feira (17) o acordo do Mar Negro entre Rússia, Ucrânia e Turquia e o Kremlin anunciou que não tem a intenção de renová-lo. O acordo foi firmado em julho de 2022 e teve fundamental importância para reduzir a alta nos preços dos alimentos em todo o mundo logo após o início da guerra na Europa, que se deu em fevereiro daquele mesmo ano, pois possibilitava a retomada das exportações de grãos através do Mar Negro por parte dos ucranianos.
A saída da Rússia do acordo se deu 10 dias após o governo Biden (EUA) autorizar o envio de bombas de fragmentação para a Ucrânia combater as tropas russas. Essa arma é proibida em mais de 100 países. Apesar disso, o presidente russo Vladmir Putin se dispôs a reatar o acordo, contanto que as suas exigências sejam atendidas, o que inclui a facilitação das exportações russas de fertilizantes, cujo maior exportador do mundo é a própria Rússia.
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Impactos no agro
E, para entender os possíveis impactos do fim desse acordo, A Granja conversou com o consultor em agronegócios Carlos Cogo, dono da Consultoria Cogo.
De acordo com Cogo, “a não renovação do acordo de grãos entre a Rússia e Ucrânia poderá provocar um novo pico nos preços dos alimentos. A duração desse pico dependerá de como os mercados responderão. A Iniciativa de Grãos do Mar Negro permitiu que 32,8 milhões de toneladas métricas (36,2 milhões de toneladas) de alimentos fossem exportados da Ucrânia desde agosto passado, mais da metade para países em desenvolvimento, incluindo aqueles que receberam ajuda do Programa Mundial de Alimentos”.
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Para ele, “os efeitos da suspensão do acordo são potencialmente maiores para o trigo do que para o milho. O mercado global de trigo está mais apertado do que de milho e, portanto, é mais sensível e propenso a aumentos de preços, a desenvolvimentos negativos na oferta. Com a incerteza que havia em torno da renovação do acordo, as operações no corredor marítimo do Mar Negro já estavam praticamente paralisadas, sem novos navios autorizados a entrar ou sair desde 27 de junho”.
Cogo também acredita que “o efeito da não renovação, caso persista, deverá ser maior no curto prazo. Nos médio e longo prazos, temos que considerar que os volumes exportados pela Ucrânia já vêm diminuindo, bem como a capacidade do país de produzir grãos, já que há problemas com infraestrutura de armazenagem e logística no país. Tudo isso segue significativamente prejudicado pelos danos causados pela guerra. Em junho, a Ucrânia exportou 2 milhões de toneladas de grãos, em comparação com um pico de 4,2 milhões de toneladas em outubro”.

Por fim, Cogo afirma que “a produção de grãos da Ucrânia caiu de uma média de 91,5 milhões de toneladas antes da guerra, para 69,2 milhões de toneladas (projeção para a safra 2023/2024). As exportações de trigo caíram de 21 milhões de toneladas, antes do início da guerra, para 10,5 milhões de toneladas (projeção para 2023/2024). Já as exportações de milho caíram de 30 milhões de toneladas antes do início da guerra, para 19 milhões de toneladas (projeção para 2023/2024). O Brasil ganhou espaços deixados pela Ucrânia no comércio global de milho e em carne de frango (a Ucrânia é uma supridora do mercado europeu)”.