O Rio Grande do Sul já tem mais de cem municípios em situação de emergência por causa da estiagem. Neste domingo, foi registrada precipitação em algumas localidades, mas muito irregular e “com volumes pequenos onde mais é preciso”, destaca o produtor rural Marcelo Fortes.
Situação
Ele planta soja em Rosário do Sul e Pantano Grande. “Pantano, mais uma vez, é o epicentro da seca na região. Nós vemos algumas precipitações mais expressivas pontualmente no entorno. Mas aqui a situação muito grave”, lamenta.
Fortes visitou a plantação em Rosário do Sul no fim de semana. “Lá o solo é mais arenoso, e qualquer estiagem tem um impacto maior. Já vemos muitos pés de soja morrendo no meio da lavoura. Isso reduz densidade e compromete a produtividade”, destaca o produtor.
Também em Rosário do Sul, o produtor João Osório lamenta a queima de mato, campo e rede elétrica ocorrida na sua propriedade no fim de semana. “Estamos esperando a chuva, de olho na previsão que está mostrando alguma coisa para amanhã.” Ele destaca a irregularidade nas chuvas. “Na última precipitação, a divisa foi o Arroio do Salso: 4 mm de um lado e 35mm de outro”, pontua.
Negociações
Fortes alerta para uma questão fundamental para quem produz: a seca de 2021/2022 tem algumas regiões com situação quase normal, diferente da de 2019/2020, que foi generalizada. “Para os produtores, em termos de negociações, vai ser mais complicado, pois não é tão geral, já que algumas localidades pegaram algumas chuvas.”
Alguns agricultores, como ele próprio, ainda têm áreas por plantar, que estavam no aguardo de condições mais favoráveis para a semeadura. “Perdemos o zoneamento, que era até 31 de dezembro, esperando essa condição melhor. Com isso, o seguro já não ampara mais, e a despesa está feita. A semente está comprada, está tratada. Como fica o equacionamento da situação?”
Parcelamento
O produtor pontua ainda que muitos produtores já realizaram a renegociação da dívida da safra passada, e estão com parcelamentos de quatro a cinco anos. “Além do custo, temos que ter uma sobra para amparar as renegociações. É uma situação muito delicada a que temos pela frente.”
E não é só nas grandes regiões produtoras que a seca vem causando prejuízos e apreensões. De acordo com o comandante do Corpo de Bombeiros em Taquara, tenente David Dias, na Região Metropolitana de Porto Alegre, há muitas ocorrências de campo.
“Na zona rural de Taquara, típica de pequenas propriedades, estão mais de 80% dos incêndios florestais.”
David Dias
Prejuízos
Além do RS, Santa Catarina, Paraná, e parte do Mato Grosso do Sul já contabilizam prejuízos com a falta de chuvas e recorrem ao Governo Federal em busca de apoio na renegociação de dívidas. Além de agilidade no pagamento do seguro agrícola para os produtores rurais.
Nesta segunda-feira, 3, os secretários da Agricultura dos quatro estados participaram de reunião virtual com o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SPA/Mapa), Guilherme Soria Bastos Filho, para apresentar os cenários e as demandas.
“Essa reunião foi resultado de uma conversa que tivemos com a ministra Tereza Cristina na última semana, quando relatamos as dificuldades enfrentadas pelos produtores catarinenses. Nós estamos direcionando nossas ações para agilizar os decretos de emergência dos municípios e também a elaboração dos laudos para liberação do Proagro. A nossa solicitação principal para o Ministério da Agricultura é a criação de um crédito emergencial para aqueles produtores que perderam sua fonte de renda”, destaca o secretário da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural de Santa Catarina, Altair Silva.
Santa Catarina
No estado catarinense, as regiões Extremo Oeste, Oeste e Meio Oeste são as mais afetadas. A média atual de precipitações nesses locais é de, respectivamente, 20, 31 e 46 milímetros – sendo que o esperado seria uma média em torno de 150 mm. A principal preocupação do setor produtivo é a quebra na safra de milho – tanto milho grão quanto silagem – que deve impactar diretamente as cadeias produtivas de carne e leite.
O secretário Altair Silva explica que, no Extremo Oeste, a colheita de milho esperada deve ter uma redução de até 50% e a expectativa de safra estadual já está sendo reduzida. “Nós esperávamos uma safra voltando à normalidade com 2,7 milhões de toneladas colhidas, já estamos revendo esses números e talvez nossa colheita não passe de 1,9 milhão de toneladas. O que atinge diretamente o setor produtivo de carnes e leite, sem contar o prejuízo dos produtores de grãos”.
Até o momento o estado conta com 67 municípios com decretos de emergência publicados ou em vias de publicação e 1.500 famílias rurais que perderam sua fonte de renda devido à estiagem, principalmente produtores de grãos e silagem.
Paraná
Segundo o secretário da Agricultura e Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, os prejuízos calculados são bilionários, principalmente nos cultivos de soja, milho e feijão. “Nós trabalhávamos com uma colheita de 21 milhões de toneladas de soja, hoje já reduzimos a expectativa para 13 milhões de toneladas e esse quadro tende a ter uma evolução para pior.”
No milho, o cenário é ainda mais preocupante. O estado pretendia colher 4,2 milhões de toneladas e reduziu a estimativa para 2,4 milhões de toneladas. São 144 municípios paranaenses com decretos ou sinalizando fazer decretos de emergência. No Rio Grande do Sul, são 110 municípios afetados.
Ainda esta semana haverá uma nova reunião com a equipe técnica do Ministério da Agricultura para apresentar as ações disponíveis aos produtores rurais que tiveram prejuízos devido à falta de chuvas. O Governo Federal trabalha ainda com a possibilidade de uma visita da ministra Tereza Cristina aos estados do Sul.