O ano de 2021 foi uma verdadeira guerra de nervos para o confinador brasileiro. Além de assistir aos custos de produção e da arroba engordada subir quase 60% com relação a 2020, sofreu um revés inesperado em setembro, quando a China suspendeu as importações de carne bovina brasileira devido a dois casos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), a chamada “doença da vaca louca”.
Guia do Produtor
Com a cotação do boi em queda livre, os que não se anteviram e negociaram preço no mercado futuro ficaram à mercê do mercado. Este desvalorizou – entre 3 de setembro e 3 de novembro – em 15,7% a arroba, segundo levantamento realizado pela Scot Consultoria. O Guia do Produtor da Revista AG, lançado neste mês, traz reportagem sobre esta importante pauta.
O final do ano acena com recuperação dos preços. Mas, mesmo assim, a tendência é de que a atividade de engorda intensiva fique cada vez mais a cargo dos grandes empreendimentos.
De acordo com o engenheiro agrônomo e diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres, o movimento já foi sinalizado durante a segunda edição do Confina Brasil, que visa mapear a atividade e subsidiar o criador na tomada de decisão, realizada este ano.
Baixa rentabilidade
“Em 30 anos, foi a primeira vez que vimos filas em boiteis e confinamentos vazios”, destacou durante evento de lançamento do Benchmarking 2021, um estudo de todos os dados coletados durante a expedição, apresentado em 25 de novembro, em São Paulo (SP). Torres também relata o fechamento de pequenos e médios confinamentos, que não conseguiram economia de escala suficiente para baratear a diária no cocho. “Não é que essas fazendas sejam menores, mas a atividade de engorda intensiva não estava rentável”, explica.
Segundo Geraldo Bueno Martha Junior, pesquisador na Embrapa Agricultura Digital, a linha de corte foi o custo de entrada do animal. “Em 2020, 97% dos confinamentos conseguiram nivelar os custos com arroba no patamar de R$320. Porém, em 2021, esse percentual despencou para 25%. Ou seja, somente um quarto dos confinamentos equilibrou a balança”, argumenta.
A pressão também ficou evidente nas diárias. Enquanto 96% dos confinamentos visitados em 2020 pagaram R$ 12,50/cab/dia, este ano, 80% pagaram acima disso.
Expectativas
Frente a este cenário, vai ter boi confinado em 2022? “Pensando em custos mais comedidos – ao que tudo indica, e de olho na safrinha -, e com uma relação de troca mais atrativa, em linhas gerais, esperamos um ano mais atrativo para o confinamento, principalmente frente ao aumento da necessidade de intensificar a pecuária”, responde o médico-veterinário e analista de Mercado da Scot Consultoria, Hyberville Neto.
A expectativa também leva em conta tendência de preços firmes e em patamares elevados. Com valores de alimentação mais acomodados, dada expectativa de produção e de estoque de grãos.
O uso da atividade para outras finalidades também deve crescer. A tendência é de que o aparte do gado se torne ainda mais estratégico ao manejo, seja em processos reprodutivos, sanitários ou nutricionais, especialmente com relação às pastagens. “Vamos ver uma mudança no perfil dos confinamentos, que serão mais ou menos estratégicos, com um ciclo emendando no outro, a depender das características de cada região e dos preços. O confinamento não sairá da agenda do pecuarista, mas a natureza da atividade tende a mudar”, projeta o coordenador do Confina Brasil, Felipe Dahas.
Estratégias
Uma das estratégias verificadas pela expedição deste ano foi o uso do confinamento para o sequestro de bezerros, principalmente na região Sul, como relata Dahas. “A decisão praticamente anula uma recria, terminando o bezerro direto, com dieta mais fria para evitar o boi bolinha”, explica.
Confinamentos estratégicos também foram vistos na produção das precocinhas, em regiões mais quentes. As fêmeas são confinadas desde a preparação para a inseminação artificial em tempo fixo (IATF). As que emprenham vão para o semiconfinamento. As vazias seguem apartadas para engorda e abate.
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