Conforme já era esperado pela maior parte dos especialistas, o caso de “mal da vaca louca” (encefalopatia espongiforme bovina) registrado no Pará no final de fevereiro era, de fato, atípico. O resultado do teste foi divulgado na noite desta quinta-feira, pelo Ministério da Agricultura. A amostra coletada no animal de nove anos foi enviado para o laboratório de referência da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), localizado em Alberta, no Canadá.
Por se tratar de caso atípico, o Ministério da Agricultura e Pecuária anunciou que já está adotando as providências, de acordo com os protocolos sanitários. O Mapa, conforme nota oficial, informou que já iniciou a inserção das informações no sistema para a comunicação oficial à OMSA e às autoridades chinesas. “Assim que concluído o processo, será marcada uma reunião virtual com o governo chinês para tratar do desembargo da exportação da carne bovina ao país”, diz o comunicado.
No último caso atípico registrado no Brasil, em 2021, a retomada das exportações demorou mais de três meses, o que atualmente poderia causar grande impacto ao setor de pecuária no País.
Em 2021, governo brasileiro foi acusado de moroso
Em matéria publicada no Beef Central, dia 27/02/2023, o portal australiano atribuía a demora para retomada das importações chinesas de carne bovina – que demoraram mais de três meses para serem retomadas – a um possível atraso no envio da documentação pelo Governo Brasileiro ao Chinês, informação essa desmentida pelo analista de mercado Alcices Moura Torres Júnior, proprietário da Scot Consultoria.
“Isso é papo furado. Brasil não atrasou nada. A gente enviou os documentos de acordo com o protocolo estabelecido. O Governo Chinês demorou uma montanha de tempo para retirar o embargo por questões de mercado. Em setembro de 2021, eles estavam posicionados para um maior consumo de carne que acontece nos festivais do Ano Novo Lunar. A carne estava cara naquela época, mais de 6 mil dólares a tonelada. Agora é diferente, estamos no pós Ano Novo Lunar e o preço da carne está muito mais baixo do que naquela época”, rebate Scot, nome por qual é mais conhecido no meio pecuário.
Por se tratar de caso atípico, ou seja, ocorrido por causas naturais, em um único animal de nove anos de idade e com todas as providências sanitárias adotadas prontamente, o Ministério da Agricultura e Pecuária está adotando imediatamente as providências, de acordo com os protocolos sanitários estabelecidos, para que as exportações da carne bovina brasileira sejam retomadas o mais breve possível.
“Agora ficamos por conta da boa vontade dos chineses. O boato no mercado é que isso pode ser resolvido ainda em março, mas qualquer estimativa a respeito é puro palpite”, entende Scot. Segundo o especialista, não há indícios de que os chineses utilizem de pretexto para baratear ainda mais o preço da carne bovina, o qual já caiu cerca de 10% no último ano.
Até a queda do embargo arroba permanece sob pressão
“Comparando-se com o último dia de mercado normal [antes do anúncio do caso], dia 17/02/2023, véspera de Carnaval, o preço da arroba do boi gordo caiu em todas as praças brasileiras e nesse período também não houve oferta de compra para o Boi-China”, informa Scot.
No varejo, o valor do quilo da carne bovina vinha caindo sensivelmente e o mercado tinha bastante liquidez com a exportação, mas o preço estava baixo, tanto é que os frigoríficos exportadores embarcavam os contêineres com intervalos curtos na expectativa de melhora. Mesmo com a sinalização de queda nos mercados e açougues, é fato que o preço do patinho e dos demais cortes bovinos subiram desenfreadamente, antes mesmo da pandemia de Covid-19 e nunca mais desceram, mesmo nos raros momentos em que houve sobra de carne no mercado.
Por que o preço da carne bovina não cai no varejo?
Scot explica o motivo: “A primeira informação que temos é que não cai porque está havendo consumo, então, as empresas não sentem a necessidade de abaixar preço. O que temos assistido no nosso levantamento semanal é que, quando a carne vai chegando no limite do prazo de validade, há grandes promoções de cortes com menor saída e parece que o público se acostumou a isso. Esta é uma das razões. Outra razão é que o varejo, por muito tempo, em função da pandemia, alta da inflação, queda de consumo e desemprego teve uma redução de margem. Não que tivesse prejuízo, a margem caiu. Agora, há resistência para baixar, com a intenção de recuperar o que foi perdido no período. A terceira explicação é que os feriados de fim de ano, de 20 de dezembro em diante, o consumo de carne bovina cai, assim como diminui a demanda pelo produto nas escolas, devido ao período de férias. Então o varejo tenta recuperar as margens”, relata. Soma-se ainda a capilaridade dos grandes frigoríficos, que podem reverter as exportações para outros países. Tailândia, Irã e Jordânia também embargaram a carne brasileira enquanto a situação não se resolve.
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*Da redação: Thaís D’Ávila e Adilson Rodrigues