A recente paralisação das operações do Big Boi, uma das maiores plantas de abate de bovinos no Norte do Paraná, no dia 10 de janeiro, por falta de matéria-prima, e que culminou na demissão de 800 funcionários, vem tirando o sono de pecuaristas, empresários, consumidores e autoridades paranaenses.
O frigorífico sozinho tinha capacidade de abater até 700 cabeças por dia, mas o fechamento de suas portas seria apenas o ápice de uma crise maior iniciada com o reconhecimento do estado do Paraná como área livre de febre aftosa sem vacinação. Isso porque também gerou a imposição de barreiras sanitárias.
“Antes de o Paraná ser declarado área livre de febre aftosa, grande parte dos animais abatidos no estado vinham do Mato Grosso do Sul. Agora, não podemos mais trazer de lá até que eles alcancem o mesmo status sanitário que o nosso”, explica Ângelo Setim, presidente do Sindicado da Indústria de carnes e Derivados do Estado do Paraná (Sindicarne-PR).
Somente em 2020, ano de início das restrições sanitárias, o êxodo de bovinos para outros estados (principalmente São Paulo) passou de 150.000 cabeças, impossibilitando aos frigoríficos paranaenses obterem as escalas de abate necessárias para rentabilizar minimamente suas operações. Esse patamar recuou ligeiramente em 2021, mas voltou a subir com ainda mais força em 2022.
Não bastasse esse quadro, há perspectiva de uma oneração ainda maior do setor, com o início da cobrança do Funrep, a partir de março de 2023. Se tal cobrança realmente vier a ocorrer, poderá significar um duro golpe para o abastecimento de carne bovina no estado. “Este é o reflexo da crise instalada no setor industrial da carne bovina paranaense nos últimos anos, gerada pela combinação de uma extensa lista de fatores negativos: aumento de custos, fuga de matéria-prima para outros estados, desidratação do consumo interno, além da perspectiva sombria de aumento da carga tributária”, aponta o líder do sindicato.
No setor, estima-se que o desestímulo derivado da elevação dos custos de produção no campo, atrelado à insuficiência de recursos direcionados ao fomento da pecuária de corte tenha causado uma redução do plantel bovino de corte paranaense em até 300.000 cabeças, desde 2019.
Muitas propriedades voltadas à terminação e/ou confinamento existentes no estado foram desativadas ou simplesmente desmanteladas, informa um dossiê enviado pelo Sindicarne-PR ao governador Ratinho Júnior, a fim de cobrar uma solução. O cenário tem prejudicado inclusive as empresas exportadoras, fazendo a participação do Paraná nas vendas externas de carne bovina e derivados cair de 1,8% em 2019 para 0,8% em 2022.
Big boi pagava frete absurdo para abater
Para garantir a formação de escalas de abate e cumprir seus compromissos contratuais, os frigoríficos paranaenses foram obrigados a assumir um ônus logístico adicional exorbitante na busca de animais para abate a milhares de quilômetros, nos estados de Rondônia e Acre, que possuem o mesmo status sanitário.
Mesmo assim, o volume de abates dos frigoríficos paranaenses com SIF recuou drasticamente, de 835 mil cabeças em 2019 para 795 mil cabeças em 2020 e 695 mil cabeças em 2021, uma queda de 17% em apenas dois anos. Vale dizer que até cinco anos atrás o abate com SIF de bovinos no Paraná passava rotineiramente de um milhão de cabeças/ano.
“É vergonhoso e inaceitável para a tradição centenária da cadeia industrial da carne bovina que o Paraná continue seguindo no rumo de converter-se em mero fornecedor de gado para outros estados”, conclui o Sindicarne-PR
Veja também as expectativas traçadas pela USDA para as exportações de carne do Brasil.