A pecuária familiar leiteira foi ponto de destaque entre os desafios enfrentados pelos pequenos produtores em 2023. Além dos baixos preços pelo litro do leite, a alta nos valores da ração concentrada. “Chegamos a receber menos pelo litro de leite do que custava o quilo de ração”, afirmou o coordenador de Política Agrícola da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do RS, Kaliton Prestes (confira entrevista em vídeo abaixo).
Além disso, a concorrência com o leite que ingressou ao longo do ano do Mercosul, acabou intensificando a fuga de produtores da atividade. “Desregulou o mercado nacional, que produz apenas para consumo interno. Quando há essa entrada, a nossa oferta aumenta e baixa o preço ao produtor.” A importação este ano foi 280% maior do que no mesmo período de 2022, e conforme o Cepea/USP, a redução dos preços chegou a 25% ao longo de2023.
Toda essa realidade está provocando a fuga de produtores da atividade. Dados da Emater-RS apresentados no balanço anual da Fetag-RS nesta quarta-feira, apontam que o número de famílias que se dedicam à atividade no estado caiu de mais de 84 mil em 2015, para 33 mil em 2023, uma queda de mais de 60%.
“Quando um produtor abandona a atividade, isso é prejudicial para todos os setores da economia, pois aquela atividade econômica do município deixa de existir. Isso prejudica comércio, serviços e turismo. É necessário um olhar especial para essa cadeia produtiva”, finaliza. Atualmente, conforme Kaliton, 95% dos produtores gaúchos de leite estão enquadrados na agricultura familiar.
Agricultura familiar precisa de planejamento estratégico
Em um ano que começou com estiagem e está terminando com plantio atrasado por excesso de chuvas, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul propõe planejamento estratégico para o segmento no estado.
“Esperávamos uma safra de inverno cheia e tivemos problema de qualidade por causa da chuvarada. Tivemos 11 ciclones no estado. Não estávamos acostumados com essa profundidade dos problemas que aconteceram no Litoral e Vale do Taquari”, desabafa o presidente da entidade, Carlos Joel da Silva.
O planejamento necessário possui sete eixos principais:
Diagnóstico da vocação produtiva de cada região do estado
Crédito rural oficial
Manejo e conservação do solo e da água e irrigação
Agroindústria Familiar
Produção Artesanal da Agricultura e Pecuária Familiar
Pecuária de corte familiar
Assistência Técnica e Extensão Rural
Crítica às pastas dedicadas ao segmento
O presidente da Fetag, Carlos Joel da Silva, elogiou o olhar dos governos para a agricultura familiar em 2023. Citou a retomada da Secretaria do Desenvolvimento Rural do estado, e do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar no Governo Federal. Entretanto, cobra melhorias nos processos, no número de pessoas e no orçamento para as pastas.
“Os programas voltaram a existir, mas estão longe de estar na condição ideal. Falta estrutura e esperamos que corrija agora. Não adianta criar uma secretaria e um ministério e ter coisas espalhadas em outras pastas”, cobrou o dirigente. E completou afirmando que por ser o primeiro ano, o setor entendeu, mas “na virada já queremos um orçamento específico e mais estrutura”.
Leia também: Produtores de leite protestam contra importações