Não é apenas a entressafra que explica a inflação dos lácteos no Brasil, o produto já seguia em elevação, chegando a atingir o valor de até R$ 8,00 para o leite UHT em alguns estabelecimentos e, para o produtor não foi diferente, o custo de produção do leite subiu de forma desenfreada.
“A oferta de leite já vinha fraca desde de meados do ano passado. Além disso, a entressafra acentuou a escassez. Nos últimos anos, houve uma alta de 62% nos custos para o produtor, gerando uma elevação de 43% no preço ao consumidor”, explica Glauco Carvalho, pesquisador da Embrapa Gado de Leite.
Segundo Carvalho, o preço, mesmo em alta, não está sendo suficiente para cobrir os custos, o que piorou a rentabilidade nas fazendas e levou o produtor a diminuir a oferta, reduzindo a alimentação das vacas.
Em pesquisa referente à compra de leite pelos laticínios no primeiro trimestre do ano, os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelaram uma queda de 10,51% em comparação aos três primeiros meses de 2021.
Essa foi a quarta queda trimestral consecutiva e a maior em uma avaliação trimestral desde o início da pesquisa, em 1997. “O volume de leite adquirido no primeiro trimestre deste ano foi o equivalente ao observado em 2017, o que significa que a indústria regrediu cinco anos em termos de captação de leite”, explica.
A expectativa é que os números do segundo trimestre repitam o cenário de escassez do primeiro, mas a perspectiva é de algum crescimento, motivada pelo início do período de chuvas e também por uma recuperação nas margens de lucro do produtor.
“Os preços ao produtor estão em alta e isso vai dar um incentivo para melhorar a produção”, acredita Carvalho. No entanto, o pesquisador salienta que muitos produtores saíram da atividade e outros destinaram animais para o abate. “O impacto disso na recuperação da oferta é difícil quantificar”, conclui.
Escalada do custo de produção do leite
A escalada dos custos vem ocorrendo desde meados do ano passado, impactando a rentabilidade dos produtores. De janeiro a junho deste ano, o preço médio do leite pago ao produtor, deflacionado pelo custo de produção, recuou cerca de 3,8% comparado ao mesmo período de 2021.
Do rol dos insumos que mais subiram de preço estão os fertilizantes e os combustíveis, afetados pela guerra Rússia-Ucrânia. Até o frete marítimo internacional, também em alta, entram nessa conta.
Mas o insumo que mais tem pesado no caixa do produtor é o volumoso, que registrou elevação de 51% na comparação de maio deste ano com o mesmo mês de 2021.
O analista da Embrapa, José Luiz Bellini Leite, constata que a ureia passou de R$ 2,3 mil por tonelada, no início do ano passado, para cerca de R$ 6,3 mil em março de 2022. O cloreto de potássio saltou de R$ 2 mil/t para R$ 6 mil/t.
Acompanhe também nossa análise mensal dos preços ao produtor de leite na coluna Sala de Ordenha, da Revista AG.