Coluna Palavra de Produtor, escrita pelo engenheiro-agrônomo, produtor de soja, milho e gado em Nova Maringá/MT, especialista em administração de empresas, autor do livro Reflexões de um Alemão Cuiabano e presidente da Associação das Diversidades Intelectuais de Tangará da Serra/MT, Rui Alberto Wolfart.
O crescimento populacional do mundo até 2050 estará assentado em oito países, destacando-se Índia, Egito e Filipinas pela ótica de renda e população, mas também de modo significativo por outros países da África, com a presença de profundas desigualdades de toda ordem que cercam esse continente instável.
A classe média global de 5,3 bilhões de pessoas, logo consumidora, tem, na China e na Índia, cerca de 50% do total desse segmento nas projeções para 2030. Esse dado por si só dá a dimensão do planejamento estratégico, geopolítico e de ação comercial a ser feito pelo Brasil, como player para o fornecimento de alimentos.
Leia mais: Captura do Estado brasileiro
A marcha batida no crescimento da produção de grãos pelo Brasil é exuberante, saindo, em 1989/90, de 58 milhões de toneladas para, em 2022/23, atingir 319 milhões de toneladas, catapultando-o para a condição de maior exportador mundial, com 156,4 milhões de toneladas, à frente dos Estados Unidos, com 136,3 milhões de toneladas. Esse salto gigantesco da produção brasileira foi feito com conhecimento, gestão empresarial e ambiental, utilizando-se tão somente de 6,1% do território nacional, equivalente a 51,7 milhões de hectares.
Produzir 645 milhões de toneladas de grãos, em 2033/34, não é um delírio de quem a projeta com tamanhos gargalos?
As projeções de incremento futuro da produção de grãos pelo Brasil são significativas, podendo atingir 645 milhões de toneladas já na safra 2033/34.
Como referência quanto ao consumo de carnes per capita, derivado do fator renda, há na comparação entre países a demonstração do potencial de incremento de produção/consumo, o que propiciará agregação de valor aos grãos, logo necessitando de políticas públicas assertivas no tocante ao processo de agroindustrialização.
Veja também: A segurança no campo é fator primordial para o crescimento da safra
Fica evidente que empreendimentos como o da Frimesa, em Assis Chateaubriand/PR, de R$ 1 bilhão num frigorífico para abater 18 mil suínos/dia, devem ser a tônica, espraiando-se Brasil afora, principalmente no Centro-Oeste.
Consumo de carnes per capita
Brasil…………………………96 kg/ano
China………………………..57,1 kg/ano
Filipinas…………………….38,5 kg/ano
Indonési…………………….19 kg/ano
Índia……………………………4,7 kg/ano
Como citado acima, China e Índia representarão 50% da classe média mundial e a mudança de hábitos alimentares será a marca nas próximas décadas. Acrescenta-se que o Brasil na oferta global de carnes participa com 24% na de bovinos, 36% em frangos e 11% em suínos (dados de 2022).
Se de um lado há pontos fortes únicos que o habilitam a essa empreitada, há, em contrapartida, inúmeros pontos fracos, que cronicamente o afetam: insegurança jurídica fundiária e ambiental retratadas nos casos da Ferrogrão e da ampliação de reservas indígenas; armazenagem: déficit de 126,2 milhões de toneladas na safra 2022/23; financiamento da produção insuficiente e oneroso; produção de nitrogênio e potássio pífia, apesar do potencial interno; instabilidade crescente na questão da renda agrícola pela manipulação dos mercados globais.
Confira esta: PIB da agropecuária cresce quase 20 vezes mais que o PIB do país no segundo trimestre
Como se observa, os cenários são desafiadores para os produtores e também para o mercado consumidor. Mas aos governantes é reservada a responsabilidade por políticas públicas adequadas a evitar essa predação continuada da renda de quem trabalha e produz. Todos esses pontos fracos provocam reduções da margem de lucros dos produtores, por consequência da falta de armazenagem, dos preços de fretes elevados, da logística insuficiente e crescentemente precária.
Produzir 645 milhões de toneladas de grãos, em 2033/34, não é um delírio de quem a projeta com tamanhos gargalos?