Pesquisas em andamento na Embrapa buscam mostrar que uma dieta natural à base de óleo de mamona, extrato de tanino ou de rejeitos da produção de azeite de oliva, vinho e suco de uva pode melhorar o trato digestivo do gado e reduzir a geração do gás nos rebanhos. Com isso, é possível agregar valor a subprodutos e resíduos agroindustriais, incluí-los na suplementação alimentar dos bovinos e ainda ajudar os pecuaristas brasileiros a reduzirem a emissão de metano dos animais, uma das metas de sustentabilidade assumidas pelo país.
A inclusão desses ingredientes no cardápio dos bovinos, na fase de terminação dos animais, também pode melhorar a qualidade da carne e do leite. Cristina Genro, pesquisadora da Embrapa Pecuária Sul, de Mato Grosso do Sul, diz que a oliva, por exemplo, tem ácidos graxos que podem afetar a gordura da carne e ter efeitos potencialmente positivos para a saúde humana, contribuindo para a redução do colesterol.
A gordura presente em abundância no subproduto da azeitona tem efeito direto na redução da produção de metano, que está associada à eficiência do processo de alimentação dos ruminantes. A substância envolve as fibras ingeridas pelos bovinos e as bactérias que atuam sobre elas – principalmente as metanogênicas, que não conseguem atingir esse alimento.
“Com isso, ocorre uma transformação no rúmen dos animais, uma redução na população das bactérias responsáveis pelo processo de produção do gás”, diz Cristina. O uso dos subprodutos contribuiria, de quebra, para eliminar o passivo ambiental das indústrias produtoras de azeite, que estão em expansão no Sul do país.
Substituição e melhorias
Os ingredientes alternativos têm potencial para substituir fontes de energia mais tradicionais usadas nos suplementos concentrados, como o milho. Renata Suñé, pesquisadora da Embrapa Pecuária Sul, lembra, no entanto, que a utilização de espécies forrageiras com melhor digestibilidade e a oferta adequada de alimentos são os primeiros passos para reduzir o volume de metano que os bovinos produzem. A estratégia também envolve melhorias no manejo para diminuir o tempo dos animais a pasto.
A pesquisa com os subprodutos do azeite de oliva será feita com testes em laboratório, com animais e com avaliações a campo. No caso de bovinos de corte, a suplementação será oferecida por 120 dias na fase de terminação, em área de pastagem de inverno. Além de aspectos nutricionais e produtivos, será medida a emissão de metano em dois momentos durante a suplementação.
Uso de tanino
Outra linha de pesquisa mede o efeito do uso de taninos para reduzir as emissões. A pesquisadora Magda Benavides diz que a substância liga-se às proteínas ingeridas pelos bovinos e as protege no rúmen. “Assim, ela não é degradada e vai como proteína bruta para o estômago, possivelmente por causar menos fermentação no rúmen e produzindo menos metano”. Um dos desafios é avaliar a palatabilidade da substância.
Para o estudo será utilizado extrato de tanino de acácia-negra. As cientistas também querem avaliar o uso de compostos secundários presentes em rejeitos da indústria de vinho e suco de uva, como antioxidantes, na suplementação animal.
Na Paraíba, Liv Soares Severino, pesquisador da Embrapa Algodão, estuda o uso do farelo de mamona, um subproduto da indústria ricinoquímica, para substituir o farelo de soja na alimentação de bovinos de corte de raças europeias. “Uma das formas de reduzir a produção de metano é melhorar o teor de proteína do alimento. O farelo de mamona é rico em proteína e poderá ser misturado a outros alimentos”, diz. O estudo será feito até 2024.
Fonte: Valor Econômico