Entrar novembro sob o duro jogo de mercado chinês, definitivamente, não estava nos planos de ninguém. Quando os casos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EBB), ainda em 4 de setembro, levaram à suspensão – em tese, temporária -, das exportações de carne bovina para seu maior comprador, havia a certeza de que a situação logo seria contornada.
Também esperava-se que a interrupção, ocorrida em cumprimento ao protocolo sanitário assinado por ambos os países – e por iniciativa do próprio Ministério da Agricultura (Mapa) -, deveria, assim como os dois casos de vaca louca,- considerados atípicos pela Organização Internacional de Saúde Animal (OIE), trazer risco zero ao pecuarista. Afinal, como a China, responsável por praticamente metade das exportações brasileiras de carne bovina, arriscaria desabastecer uma população de 1,4 bilhão de habitantes?
Não, definitivamente, não contávamos com a astúcia chinesa em bancar a suspensão das importações além do tempo contratual previsto para barganhar preço. E, da pior forma, começamos a entender porque a sabedoria do seu povo – tão difundida em provérbios e citações no mundo dos negócios – é respeitada. E passamos a ler, sob outra ótica, famosas frases como “a persistência realiza o impossível”, “para cortar rapidamente uma árvore, gaste o dobro de tempo afiando o machado” ou “espere com paciência, mas ataque com rapidez”.
A oferta interna – que já aumentaria nesta época do ano-, agigantou-se. Tudo por conta da “forcinha” do gado terminado em confinamento e com o início da safra 2021/22, correndo o rebanho do pasto. E, por óbvio, impactou na desvalorização da arroba. Segundo a Scot Consultoria, acumula queda de 15,5% após dois meses de embargo, com valor cotado a R$ 258 (descontados impostos e a prazo) na última quarta-feira.
Para o indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/ESALQ) , no mesmo período, a baixa é de 15,9%, com arroba a R$ 256,65 em 3/11. Em sua série histórica, a arroba chegou ao recorde de R$ 322 em junho. Até agora, mais de 200 mil toneladas de proteína bovina foram represadas, fazendo com que a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, autorizasse plantas frigoríficas a estocar o “boi-China” em contêineres por até 60 dias.
Ao final de outubro, soubemos da primeira liberação de carne bovina brasileira em solo chinês. Contudo, a notícia não foi confirmada pelo Mapa, que, na figura da ministra, tenta contornar a situação. De qualquer forma, fica a lição, tão citada pelos consultores e especialistas em 2020, de que, sim, é preciso colocar os ovos em várias cestas. Assim como seguem fazendo os chineses: enquanto cozinham a carne brasileira, alimentam-se da uruguaia e da argentina.
Texto de Thaise Teixeira
Foto: Arquivo/AG