Marcelo Kozar, diretor do Grupo Via Máquinas, do qual o Usadão faz parte, afirma que sim. Pode-se trabalhar a cabine, a lataria, trocar estofamentos. “Entretanto, o vendedor sempre deve ser honesto com o comprador”, orienta.
Em entrevista exclusiva ao portal A Granja Total Agro, Kozar explica que a recuperação estética do trator, antes de colocá-lo à venda, é ação lícita e legal. “Você oferta no mercado um bom trator, por exemplo, com 12 mil horas de uso, quando é feito para 25 mil horas. Neste caso, o produtor compra um equipamento por um preço justo e que ainda vai servi-lo muito.”
Segundo o executivo, o problema é quando alguém engana propositadamente. “Há pessoas que usam ferramentas para voltar o horímetro (inclusive os digitais) e anunciam o bem como ‘seminovo’. É um trator usado, mas alguns os vendem como se tivesse trabalhado muitas horas a menos. Neste caso, o comprador está sendo lesado.”
Dicas
Kozar explica que o tempo de vida dessas máquinas é muito grande. “Mesmo quem adquire um usado está fazendo uma boa compra.” No entanto, para evitar ser ludibriado, orienta a dar preferência por máquinas no estado em que se encontram.
Ele cita o exemplo de tratores de 180CVs para cima, utilizados em lavouras de cana-de-açúcar em SP. “Quando é período de corte de cana, essas máquinas trabalham 24 horas ao dia, por vários meses.”
Pouco desgaste
No entanto, basicamente, enfrentam apenas o primeiro ano de trabalho pesado, por causa do plantio. “Mas isso faz parte da atividade do trator. Depois, passam cinco anos, praticamente puxando transbordo.” Kozar explica que, embora o volume de horas de uso seja alto, a máquina tem pouco desgaste.
“Você olha a lataria e não está boa. A cabine fica maltratada. Esteticamente, é feio. Entretanto, mecanicamente está muito bom.
Novo ou usado
Para Kozar, a pérola das pérolas no mercado é a expressão ‘seminovo’. Segundo ele, isso não existe. “Ou é novo ou usado. As pessoas acabam valendo-se desta descrição para colocar – de uma forma enganosa – ao comprador que ele está levando um produto novo por um preço um pouco melhor.”
Ao sair da concessionária, o produto novo perde de 15% a 20%. “Por isso, a venda de seminovo é a pérola. O produto é usado. Tem um preço menor, não à toa, porque já foi utilizado.”
Segundo ele, mesmo que tenha sido por poucas horas, o uso é abrasivo e desgasta o equipamento. “Tanto que o dono resolveu colocá-lo à venda. Seja porque aumentou a área e precisa de uma máquina maior, seja porque esta máquina não tem tecnologia que esteja de acordo com novos implementos do mercado, sementes, adubos ou fertilizantes.”
Utilidade
Portanto, Kozar ressalta que o bem deixou de ser útil para aquele produtor. “Não serve mais para ele, mas vai servir para outro. Dentro dessa dinâmicas, há produtos que têm uso mais acelerado em decorrência da atividade que exercem.”
O executivo acredita que novas tecnologias vão permitir às fábricas produzirem contadores de horas mais difíceis de adulteração. “No entanto, prudência e canja de galinha não fazem mal para ninguém. Se você vai pegar um trator com cavalagem alta, no qual houve trabalho de pintura, troca de rodas, renovação da lataria e de adesivos, precisa ter essa percepção para não ser enganado”, orienta.
Mas, alerta que quem se deixa enganar é a pessoa com a percepção de que vai ganhar em cima do outro. “É como o golpe do bilhete premiado. Máquinas muito arrumadas e perfeitas por um preço muito abaixo do valor de mercado não existem. Aquele que acha que está fazendo um bom negócio, às vezes, está sendo vítima de um golpe.”