Sim. Faltarão vacas para abate e abastecimento do mercado doméstico. Portanto, as indústrias buscarão bois. Ou seja, a demanda por machos vai ficar aquecida no mercado externo, valorizando a arroba.
Isto porque o preço do bezerro continua acima do valor médio nominal observado em 2020. O que levará à retenção de fêmeas, aumentando a produção de filhotes. Consequentemente, a disponibilidade de ofertas para os recriadores no médio prazo.
Perspectivas
As perspectivas são de especialistas da Embrapa. Eles projetaram como será o cenário da pecuária em 2022 e compilaram as informações no Boletim CiCarne, disponibilizado gratuitamente. O estudo traz informações como custos e margens, consumo, ciclo pecuário e o cenário macroeconômico futuro para o setor.
Segundo o boletim, como o atual ciclo pecuário se iniciou em 2019, os custos de reposição devem baixar somente a partir de 2023. Embora tenha tido aumento da oferta destes animais em 2022.
Em 2022 as exportações de carne bovina brasileira devem crescer, com a Ásia continuando a ser o principal mercado. Embora as exportações de proteína vermelha ainda tenham sofrido com a suspensão das importações pela China. Os embarques para os EUA, ganhando acesso à China proporcionarão competição adicional à carne bovina brasileira.
Oportunidades
Também espera-se que a produção de suínos volte a cair em muitos mercados asiáticos, incluindo a China, em 2022. Resultado dos preços descendentes e do alto custo com insumos, desestimulando assim a produção.
Tal evento criará oportunidades para as exportações brasileiras. A China deve se manter como o principal parceiro comercial da cadeia produtiva da carne bovina brasileira.
Para o câmbio, as expectativas em função das incertezas globais causadas pela Covid-19 são de preços firmes. O mercado projeta o dólar em R$ 5,50 ao fim de 2022, com alta volatilidade.
O avanço da vacinação e a retomada das economias globais, apesar da inflação mundial projetada, mantém uma perspectiva positiva para 2022. Entretanto, a inflação e o desemprego deverão pressionar o consumo de carne bovina no Brasil, que representa 75% do total da produção.
Crise
Em 2021 a pecuária assistiu à falta de animais para abastecer o mercado doméstico. Este ficou enfraquecido em virtude da crise econômica provocada pela pandemia.
A principal causa da falta de animais foi o ciclo pecuário e a escassez de chuvas nos principais polos produtores do país. O patamar elevado de preços da arroba do boi gordo manteve-se no primeiro semestre acima dos R$ 300,00.
China
Os problemas para os produtores se agravaram em setembro, quando a China suspendeu as importações do Brasil depois de dois casos atípicos de encefalopatia espongiforme bovina (EBB), conhecida como a doença da vaca louca. Para se ter uma ideia, o país asiático importara 50% de 1,27 milhão de tonelada exportadas pelo Brasil no período de janeiro a setembro.
Isso teve um forte impacto negativo nas exportações brasileiras de carne bovina. Nos últimos meses, os embarques ao exterior caíram 43% no volume e 31% na receita. Inclusive alguns produtores operaram em níveis bem abaixo da capacidade.
No acumulado do ano, até agora, as exportações brasileiras de carnes bovinas atingiram 1,6 milhão de toneladas. Isso representa uma queda de 2,4% em relação ao acumulado no mesmo período do ano passado. Entretanto, em receitas, houve crescimento no mesmo período de 16%, pois o produto está mais caro no mercado global.
Consumo interno
Já em relação ao consumo no mercado doméstico, a pandemia provocou mudanças na mesa dos brasileiros, que reduziram a ingesta de carne bovina para o menor nível em 25 anos. Entretanto, esse consumo se fortalecerá num futuro próximo.
Segundo o boletim, espera-se um crescimento constante à medida que a renda e as preferências alimentares se expandam. A tendência de premiumisation (percepção de mais saúde, qualidade e experiência) também será forte na carne bovina. Ou seja, vai gerar oportunidades para projetos de carne de qualidade e de marcas conceito.
Custos
Por fim, em relação aos custos, os especialistas acreditam na continuidade dos aumentos nos preços dos insumos, dos animais de reposição e uma menor disponibilidade de animais. O produtor rural conviverá com o alto custo dos fertilizantes. Isso impactará o custo de produção do milho e da soja, afetando o preço da ração para suplementação.
Em 2021, houve um aumento de mais de 100% nos custos com fertilizantes e defensivos para culturas como milho e soja. O custo com animais de reposição, em virtude da tendência de alta no ciclo pecuário, também deverá impactar o custo final da terminação. As margens devem continuar apertadas em 2022.
* Com informações da Embrapa