A Embrapa Suínos e Aves (SC) avança no desenvolvimento de um protótipo de biofármaco para controlar salmonelas avícolas. A bactéria causa contaminação da carne de frango e salmonelose em humanos. O produto é feito à base de bacteriófagos, que são vírus amplamente distribuídos na natureza e atuam especificamente sobre bactérias.
A ação bactericida representa uma alternativa ao uso de antibióticos. Pesquisadores isolaram e estudaram três desses vírus, que compõem a coleção de microrganismos da Unidade, e reúnem as características desejadas para controle de determinados sorotipos de salmonela.
A pesquisa atende a uma das prioridades da produção animal atualmente – a manutenção de rebanhos e planteis livres de patógenos que causam doenças transmitidas por alimentos, e assim garantir a inocuidade dos produtos.
Além disso, a resistência a antimicrobianos é um dos temas mais relevantes, pautado inclusive pela Organização Mundial da Saúde (OMS) já que faz interface com o conceito de saúde única, pela inter-relação com saúde humana, animal e meio ambiente. A disseminação de microrganismos multirresistentes aos antimicrobianos disponíveis e a falta de desenvolvimento de novas classes de antimicrobianos têm sido o alerta de especialistas para a dificuldade futura de enfrentamento de bactérias, mesmo em infecções simples.
Em alinhamento às ações nacionais e internacionais, os cientistas da Embrapa Suínos e Aves têm atuado em pesquisas e estudos para o enfrentamento da resistência aos antimicrobianos e auxílio à execução de políticas públicas. Além de participar de grupos como o da Força-Tarefa do Codex Alimentarius para Resistência Antimicrobiana (FTAMR) que se encerrou em 2021, a Unidade contribui também com o Plano de Ação Nacional de Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos no Âmbito da Agropecuária (PAN-BR Agro) com diversas pesquisas, tais como o desenvolvimento de insumos biológicos para o controle de bactérias relevantes na avicultura.
De acordo com a pesquisadora Clarissa Vaz, a disponibilidade de um ativo biológico, que evita ou reduz o uso de antimicrobianos e seja aplicável ao controle de salmonela na avicultura. Clarissa, que líder do projeto que resultou no desenvolvimento do protótipo de biofármaco afirma que é a medida é importante frente à relevância social e econômica da produção avícola para o País. “Também há a necessidade de uso prudente dos antimicrobianos para preservar a eficácia dos que estão disponíveis. Esse insumo não pretende substituir o uso terapêutico de antibióticos, mas é uma opção para reforçar o controle de salmoneloses reduzindo o uso desnecessário de antimicrobianos.”
Ainda segundo a pesquisadora, insumos biológicos à base de bacteriófagos não representam necessariamente uma inovação na indústria de saúde e alimentação animal, uma vez que sua ação bactericida é conhecida há muito tempo. “O diferencial é que, se desenvolvidos produtos escalonáveis, de custo acessível, e contendo bacteriófagos adequados, a fagoterapia (uso de bacteriófagos contra infecções bacterianas) é uma possibilidade de diversificar as estratégias de controle de salmonelas aviárias”, pontua. Outra vantagem apresentada pela pesquisadora é a de que bacteriófagos nativos são interessantes para o desenvolvimento de produtos voltados ao mercado nacional por não introduzirem cepas exóticas na biodiversidade brasileira e apresentarem maior probabilidade de ação frente às estirpes de campo locais.
Desafio é chegar a um produto com potencial de mercado
Os estudos levaram ao desenvolvimento do protótipo de um biofármaco que é fornecido aos frangos pela água de beber, capaz de reduzir o nível de salmonela no intestino de frangos de corte. “O desafio atual é avançar nas etapas de desenvolvimento até a fase de produção continuada, em condições de inserção no mercado. Esse é um processo que segue a lógica de inovação aberta e repartição de benefícios, por meio da qual a Embrapa e empresas interessadas desenvolvem a pesquisa juntas com o objetivo de desenvolver os seus produtos e aumentar o valor agregado”, observa a pesquisadora.
Os três bacteriófagos procedentes da coleção de microrganismos da Unidade são os principais componentes desse biofármaco, que melhora a estabilidade desses vírus na ave, após a ingestão pela água de beber, e é estável durante o período de armazenamento.