A atenção às pragas, manejo sustentável, otimização da atuação de inimigos naturais – através do uso mínimo de inseticidas químicos – e com redução nos custos. Estas são as etapas a serem seguidas no início do plantio do feijão, segundo o procedimento prático para a implementação do Manejo Integrado de Pragas (MIP) na cultura, divulgado pela Embrapa.
O processo é realizado com amostragens periódicas das pragas e de seus inimigos naturais. Juntamente com isso, a ficha de campo deve ser preenchida para comparação dos dados, conforme as orientações de uma tabela. Esta, por sua vez, informa quando o controle deve ser efetuado para que não haja perda de produção.
O MIP foi desenvolvido pela engenheira agrônoma, entomologista da Embrapa de Goiás, Eliane Quintela. De acordo com ela, é preciso seguir as seguintes etapas:
Caminhamento na lavoura e número de amostragens
O caminhamento precisa ser feito em ziguezague – representando, da melhor forma possível, a área total. Em lavouras de até 5 ha: são necessárias quatro amostragens; até 10 ha: seis amostragens; até 30 ha: oito amostragens; até 100 ha: dez amostragens. No caso de áreas maiores que 100 ha, as parcelas deverão ser subdivididas.
Antes da instalação da lavoura
É preciso fazer as amostragens no solo (1 m de largura x 1 m de comprimento x 5 cm de profundidade) para avaliar a presença de pragas. Havendo mais de uma lagarta com mais de 1,5 cm/m2 (elasmo, rosca, cartucho, corós ou gorgulhos do solo), deve-se esperar que estas tornem-se pupas (aproximadamente dez dias). Só então realizar o tratamento de sementes, além de aumentar o estande de plantas.
Da emergência até o estágio de 3-4 folhas trifolioladas
Deve-se fazer a marcação de 2 m na linha de plantio/ponto de amostragem e monitorar cada praga ou dano:
- Número de plantas mortas – para pragas de solo.
- Número de insetos nas plantas/ponto de amostragem. As faces superior e inferior da folha devem ser viradas lentamente, para não dispersar os insetos.
- Nível de desfolha (amostra visual), em área de raio igual a 5 m, centrada no ponto de amostragem.
- Número de larva-minadora viva/10 folhas trifolioladas/ponto de amostragem. Não considerar o ataque nas folhas primárias.
- Número de tripes em 1 m de linha/ponto de amostragem. Efetuar duas batidas/ponto de amostragem das plantas, em placa branca de poliondas (0,5 x 0,5 m).
- Número de lesmas/caracóis em 1 m2 de solo em cada ponto de amostragem.
Após o estágio de 3-4 folhas trifolioladas
As amostragens devem ser realizadas com o pano de batida branco, (1 m de comprimento X 0,5 m de largura}, com um suporte de cada lado. Este pano deve ser inserido cuidadosamente entre duas filas de feijão, de forma que não perturbe os insetos. As plantas devem ser batidas vigorosamente sobre o pano para deslocar os insetos e inimigos naturais.
Outras pragas:
- Lagartas (Omiodes indicata, Helicoverpa spp.) e broca das axilas (Epinotia aporema) – Na área do pano de batida, deve-se observar as lagartas nas axilas dos brotos terminais e nas folhas novas. Anotar o número de lagartas e plantas com a presença das lagartas.
- Nesta etapa, também devem ser anotados os níveis de desfolha, tripes, lesmas/caracóis, larvas minadoras, como descrito anteriormente.
No estágio de florescimento e de formação de vagens
Aqui, as amostragens têm de ser direcionadas principalmente para tripes nas flores, ácaros, percevejos e lagartas-das-vagens. Pode-se usar o pano de batida e a rede entomológica, na seguinte ordem de amostragem:
- Inserir o pano de batida entre duas fileiras de plantas e, sem batê-las sobre o pano, verificar o número de plantas com a presença de sintomas de ataque do ácaro branco nas folhas da parte superior na área do pano de batida.
- Bater vigorosamente as plantas sobre o pano de batida, para contagem de insetos e inimigos naturais.
- Verificar presença de lagartas e/ou seus danos em vagens na área do pano de batida.
- Avaliar o número de plantas com ataque do ácaro rajado.
- Próximo à área amostrada, verificar o número de tripes nas flores, coletando 25 flores por ponto de amostragem.
- Amostrar o percevejo-manchador-do-grão, passando-se dez vezes a rede entomológica sobre as plantas, próximo da área amostrada.
- Além disso, amostrar broca das axilas, Helicoverpa, lagarta das folhas, larvas minadoras e os níveis de desfolha, conforme descrito anteriormente.
Metodologia de amostragem para ninfas e adultos da mosca-branca
A amostragem de adultos de mosca-branca será realizada em dez folíolos do ponteiro por ponto de amostragem. A avaliação de adultos deve acontecer no período da manhã, virando-se as folhas lentamente para não dispersar os insetos e facilitar a visualização.
Para a amostragem de ninfas coletar dez folíolos da parte baixeira ou mediana da planta de feijão e estimar o número delas com o auxílio de uma lupa de bolso de 40 × de aumento. Em cada folha, estimar o número de ninfas presentes baseado na escala abaixo:
- 0 ninfa/folha;
- menos que 10 ninfas/folha;
- 11 – 30 ninfas/folha;
- 31 – 50 ninfas/folha;
- 51 – 70 ninfas/folha;
- 71 – 100 ninfas/folha;
- mais de 100 ninfas/folha.
Registro das amostragens e níveis de ação
Na planilha de levantamento deve-se registrar a data da amostragem, o tamanho da área, o responsável pela amostragem, a fase de desenvolvimento da cultura, a cultivar plantada, a data de semeadura, o número de pragas e os inimigos naturais, além dos danos (porcentagem de desfolha e de vagens danificadas).
Quando os níveis de ação (tabela abaixo) forem atingidos, deve-se utilizar os produtos registrados no Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários (Agrofit) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Verifique a lista clicando aqui. É importante dar preferência aos mais seletivos a inimigos naturais e que sejam menos tóxicos ao aplicador e ao meio ambiente.
Se a diversidade e a população de inimigos naturais forem elevadas e a população da praga estiver próxima do nível de controle, é aconselhável aguardar entre três e quatro dias e amostrar novamente o campo. Nesse caso, é possível que os inimigos naturais sozinhos mantenham a população da praga abaixo do nível de controle.
Tabela 1. Período de maior probabilidade de ocorrência e nível de ação para as pragas do feijoeiro.
Praga ou dano | Período de maior probabilidade de danos à planta* | Nível de ação |
Pragas das sementes, plântulas e raízes (redutoras de estande de plantas) | Germinação e emergência (V0 a V3) | Duas plantas cortadas ou com sintomas de murcha em 2 m de linha |
Lesmas e caracóis | Germinação, podendo ocorrer em todos os estágios (V0 a R8) | Uma lesma ou caracol por m2 |
Pragas das folhas | ||
Larva-minadora | Fase vegetativa (V2 a V4) | Uma a duas larvas vivas |
(Liriomyza | por folha trifoliolada, | |
huidobrensis) | desconsiderando as | |
primárias ma amostragem | ||
Vaquinhas (Diabrotica speciosa; Cerotoma arcuata) | Fase vegetativa (danos maiores) à formação das vagens (V2 a R8) | Vinte insetos por pano (2 m de linha) ou desfolha de: 50% de primárias; 30% antes da floração; e 15% após a floração |
Helicoverpa spp. | Fase reprodutiva (maiores danos) (V2 a R9) | Quatro lagartas por pano ou 30% de desfolha antes da floração Duas lagartas por pano ou 15% de desfolha ou 10% das vagens afetadas após a floração |
Lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens) | Fase vegetativa (V2 a V4) e fase reprodutiva (R5 a R8) | Dez lagartas por pano ou 30% de desfolha antes da floração |
Dez lagartas por pano ou 15% de desfolha ou 10% de vagens danificadas após a floração | ||
Lagarta-enroladeira- das-folhas (Omiodes indicata) | Todos os estágios | 30% de plantas com ponteiros atacados ou as folhas enroladas (30% antes da floração ou 15% depois) |
Praga ou dano | Período de maior probabilidade de danos à planta* | Nível de ação |
Broca-das-axilas (Epinotia aporema) | Todos os estágios | 30% de plantas com ponteiros atacados |
Cigarrinha-verde (Empoasca kraemeri) | Até a floração (V2 a R6) | Quarenta ninfas por pano ou em 2 m de linha |
Tripes (várias espécies) | Fase vegetativa (V2 a R6) e reprodutiva (R6 a R8) | Cinquenta tripes em 1 m, antes da floração ou três tripes por flor, após a floração |
Ácaro-branco e ácaro- rajado | Até a formação das vagens (V2 a R7) | Quatro plantas com sintomas e/ou presença dos ácaros em 2 m de linha |
Percevejos (várias espécies) | Formação das vagens até a maturação fisiológica (R7 a R9) | Dois percevejos por pano e/ ou cinco em dez redadas |
Imagens: Embrapa/Divulgação