O engenheiro agrônomo trabalha em todas as etapas do processo de produção agrícola. Sua atuação vai do planejamento até a comercialização dos produtos de origem animal e vegetal, respeitando o manejo e uso sustentável dos recursos naturais. Com um vasto campo prático, este profissional é cada vez mais valorizado. O professor de Agronomia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq)/USP, José Otávio Mentem, conversou, no Coffee Break, com o editor da Revista A Granja, Leandro Mariani Mittmann. Em pauta, as diversas possibilidades para quem quiser escolher a profissão.
Como o profissional da agronomia pode mostrar que ele trabalha pelo meio ambiente?
O agricultor, além de ser um produtor de alimentos, de fibras, de biomassa para energia, é um produtor de água. E ele mereceria ser remunerado por isso. Em muitas cidades, foram criados programas para pagamentos de serviços ambientas. O mais conhecido no Brasil é o de Extrema (MG). Mas hoje isso já está generalizado em quase todos os estados. Talvez algumas cidades ainda não o tenham, com o poder público remunerando. Mas, muitos dos agricultores, até por própria consciência, já cuidam muito mais dessa área de conservação do solo e da água.
Com isso nós damos uma contribuição muito grande. Isso é fundamental. A população urbana vai valorizar mais. Ela vai comprar um produto de uma região, de um produtor, de um país que preserva o ambiente e que também cuide das pessoas no trabalho. Aquela imagem antiga, do agricultor que era um “coronel”, que tinha trabalho escravo, empregava crianças, isso realmente a gente tem que riscar do mapa, porque não existe na maior parte dos casos. E se existir nós vamos corrigir através de uma orientação ou, em alguns casos, através de uma punição.
Como você vê o ensino da Engenharia Agronômica no Brasil hoje em dia?
Hoje, a tecnologia de ensino está disponível. O acesso ao material didático é muito mais fácil do que no passado, quando você tinha que ter uma biblioteca física. Atualmente, a maior parte dos textos, material de vídeo se encontra na internet. É uma questão de o professor responsável pela disciplina viabilizar ou dar aos alunos formas de buscar essas informações complementares, que vão além do que se fala na sala de aula. Assim busca-se uma formação muito sólida e que tenha toda essa vertente de ser um profissional capaz de exercer a sua atividade com muita responsabilidade – em qualquer uma das áreas para onde ele for
chamado.
Onde um agrônomo pode atuar em regiões urbanas?
Em grande parte dos municípios do Brasil, nós temos um setor na prefeitura que cuida do agro e do meio ambiente. Muitos dos profissionais que atuam na Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente são engenheiros agrônomos. Pois toda cidade tem o seu programa de corte de mato, de arborização e manutenção das árvores e, inclusive, toda a destinação racional dos resíduos. Uma parte importante dos resíduos sólidos são orgânicos, e uma das opções de destinação correta para eles é a compostagem. E aí, nós precisamos, logicamente, de profissionais que ajudem nessa parte de educação ambiental e de destinação adequada de
todos esses resíduos. E existe uma busca muito grande que todas as casas tenham o seu jardim, que tenham a sua produção própria de vegetais, que essa compostagem possa ser feita dentro da própria casa. Então, tem uma série de alternativas que abrem oportunidades para profissionais com esse conhecimento e essa sensibilidade.
É uma área de atuação muito grande para o engenheiro agrônomo, certo?
Hoje em dia, a preocupação com os parques nacionais é muito grande. Toda cidade se preocupa em ter uma boa praça, um parque. As pessoas vão em busca de um lazer mais próximo da natureza. E aí a participação do engenheiro agrônomo, criando ou mantendo um jardim botânico, uma área para as pessoas terem educação ambiental de qualidade, desenvolvendo mudas… É realmente uma área muito grande para a atuação do engenheiro agrônomo dentro das cidades.
Gostaria de deixar uma palavra final aos estudantes da área da agronomia ou aos que desejam estudar?
Primeiramente, quero agradecer a oportunidade de termos essa conversa, espero ter atendido às suas expectativas. Eu acho que temos centenas, ou até milhares, de técnicos que gostam de falar sobre a engenharia agronômica. Então, eu acho que poderiam convidar essas pessoas para bater um papo nas escolas, usar mais o conhecimento do engenheiro agrônomo, que sempre está disponível. Ele tem essa vocação de fazer um trabalho voluntário, um trabalho filantrópico, de atender às demandas. Então, as escolas, que tiverem alunos nessa fase de decisão de qual curso vão seguir, poderiam convidar um engenheiro
agrônomo para conversar com os alunos para contar um pouquinho da sua experiência e ajudar as pessoas a tomarem uma decisão. Além de estarem presentes nas escolas para ajudar a levar informações que tragam conteúdos válidos aos estudantes. Todo cidadão precisa ter uma educação sólida para que saiba o que é o agro, independentemente de serem trabalhadores do agro ou não. Mas que respeitem o agro brasileiro, todos os profissionais que atuam no agro e que criem esse espaço de um debate saudável. Onde tiver erro, vamos corrigir. Mas que se valorize aquilo que temos de positivo. O Brasil não deve nada a nenhum país no mundo. Só para dar um exemplo, talvez o melhor programa de destinação dos resíduos sólidos é o que a gente faz com os defensivos agrícolas. Pois 94% das embalagens vazias dos defensivos agrícolas são descontaminadas através de lavagens. Depois, destinadas para uma central com uma unidade de recolhimento. E, a partir daí, são encaminhadas para serem utilizadas na produção de outros produtos. É aquele negócio que se fala tanto hoje da bioeconomia, ou economia circular, que o agro já vem fazendo há muito tempo através de um trabalho muito bem articulado entre os fabricantes de defensivos, as distribuidoras de defensivos, o agricultor e o poder público.
“Então, acho que contar essas histórias nos diferentes ambientes que a gente vive é função do engenheiro agrônomo. Mas ele tem que ser convidado pelos líderes, pelos formadores de opinião que existem em todas as cidades.”