A condição de elevada temperatura e restrição na disponibilidade hídrica representa um momento delicado para a atividade pecuária. Associada à elevação dos custos de produção, esta situação pode repercutir de forma acentuada na pecuária leiteira.
A ocorrência do déficit hídrico no período mais sensível para a safra do milho, um dos principais alimentos dos animais, afeta a produção de grãos e silagens, sendo esta última prática uma alternativa para armazenar o milho e minimizar danos. Para desenvolver capacidade competitiva neste cenário, a Epagri oferece algumas recomendações técnicas para os produtores de leite.
Dicas

- Realize o planejamento alimentar, tendo como base pastagens de alto potencial produtivo e com boa resistência ao estresse hídrico, como é o caso do Capim Pioneiro e do Tifton 85.
- Considere a possibilidade em implantar e/ou ampliar a capacidade de reserva de água na propriedade, tanto para abastecimento dos animais, quanto para irrigar pastagens, se for o caso.
- Melhore a disponibilidade de água de qualidade ofertada aos animais nos piquetes.
- Realize a orçamentação alimentar, ou seja, calcule a demanda diária de forragens para atender o rebanho, por período mínimo de 154 dias, em relação às reservas de alimento de que dispõe. Se este balanço entre demanda e disponibilidade forrageira for negativo, recomenda-se o descarte de animais, iniciando-se pelos que jamais vão produzir leite, seguindo pelas vacas com problemas sanitários, reprodutivos e/ou com idade avançada. Num segundo momento, descarte vacas com baixa produtividade.
- Promova o conforto térmico em vacas leiteiras. Quando as vacas são expostas à temperaturas extremas, acontece o estresse calórico, que é evidenciado pela respiração ofegante, aumento da frequência respiratória e salivação. Já em temperatura de 25 a 26°C o tempo de pastejo e de ruminação diminuem, bem como o consumo de alimentos. Nestas situações há o aumento no consumo de água, principalmente naqueles animais com alta produção do rebanho, que possuem maiores necessidades hídricas, por apresentarem faixas mais rápidas de desidratação.
- Ofereça sombra para as vacas quando a temperatura chegar a 24°C. Assim, se diminui as perdas na produção de leite. Sombra natural com árvores é uma excelente ferramenta para reduzir o excesso de calor, além de ser um método barato, favorece a biodiversidade local. As árvores são excelentes meios de proteção porque aumentam o resfriamento através da evaporação da água das folhas. Sombra artificial é uma alternativa para controlar e reduzir o aumento da temperatura em animais. Sua vantagem é que pode ser transportada e instalada em diferentes setores da propriedade, de acordo com a necessidade do rebanho. Existem cortinas portáteis ou permanentes, por meio de malhas, que bloqueiam a radiação solar em mais de 80%. Recomenda-se uma área de sombra de 4,0 m² por vaca presente no lote.
- Use ventiladores com aspersores. No caso de animais criados em sistemas de confinamento/estabulamento, os ventiladores, associados aos aspersores de água, promovem a redução da temperatura do ar e de perdas de calor por evaporação. Entretanto, sua eficiência é reduzida em condições de alta umidade do ar. Sua principal desvantagem está associada ao custo.
- Fornecimento de água. Água limpa e fresca (segura) e com temperatura abaixo de 20°C, deve estar sempre disponível na sombra ou em áreas protegidas da radiação solar. A água deve estar perto de onde as vacas ficam, preferencialmente dentro dos piquetes ou nos chamados piquetes de descanso, com espaço suficiente para todos os animais terem acesso.
- Horário de ordenha e uso das pastagens. Durante os quatro meses de verão, os horários de ordenha deverão ser ajustados visando oportunizar as melhores condições de temperatura para as vacas na ordenha e no consumo de pasto pós-ordenha. Recomenda-se que neste período a ordenhas se realizem entre às 5h e 6h pela manhã, e das 18h às 19h no período da tarde.
- Nutrição. Aumentar a densidade energética da dieta, utilizando ingredientes com alto teor de óleo ou gordura, que não produza calor de fermentação (não ultrapassar 5% do total da dieta), além de fazer uso de nutrientes protegidos. É importante balancear a dietas das vacas com menos de 65% de proteína degradável no rúmen, utilizando soja tostada ou soja extrusada na formulação das rações. Adicionar agentes tamponantes à dieta para estabilizar o pH ruminal (dietas com 0,5% de sódio e 0,3% de magnésio).
Em relação à estratégia alimentar, a Epagri sugere:
– Diminuir a participação de alimentos fibrosos e de baixo teor energético, como os fenos.
– Disponibilizar um piquete novo às vacas no início da manhã e no final da tarde após as ordenhas, e manter a disponibilidade de água de boa qualidade, são práticas nutricionais fundamentais para minimizar os efeitos do estresse calórico.
– Disponibilizar para as vacas em lactação, durante o período da tarde, uma pequena quantidade de silagem de milho (6kg a 8kg de MV) de alta qualidade, mais 1kg de alimento concentrado.
– Procure os técnicos no escritório da Epagri em seu município. Eles têm conhecimento e ferramentas para calcular a viabilidade técnica e econômica destes alimentos, em substituição ao milho e farelo de soja.
Avicultura e suinocultura
Aves e suínos criados em sistema de confinamento são animais bastante sensíveis às oscilações de temperatura, especialmente quando se trata da ocorrência de temperaturas elevadas. Dias quentes podem ocasionar redução da ingestão de alimentos, prejudicando o ganho de peso, e, em casos extremos, até mesmo causar a morte de animais.
Por isso, é fundamental que o produtor siga as orientações repassadas pelo assistente técnico da cooperativa ou agroindústria com a qual o mesmo possui vínculo. Ou, ainda, outros profissionais que façam o acompanhamento técnico da atividade.

Além do fornecimento de água em quantidade e qualidade adequados para o plantel, chama-se atenção para a importância de garantir a correta manutenção dos equipamentos de ventilação e resfriamento ambiental (ventiladores, exaustores, nebulizadores etc), de forma a garantir seu funcionamento quando necessário.
Também é importante que o produtor fique atento à disponibilidade de energia elétrica, especialmente nos dias mais quentes. Caso perceba alguma interrupção, deve imediatamente entrar em contato com a empresa responsável pelo fornecimento de energia na sua região.