Coluna Santo Capim, escrita pelo zootecnista, professor de pós-graduação na REHAGRO e na FAZU, consultor associado da CONSUPEC e investidor na pecuária de corte e leite, Adilson de Paula Aguiar.
Toda a abordagem que fiz nas edições anteriores sobre o estabelecimento da pastagem foi baseada em fundamentos para o plantio por meio de sementes. Até o início da década de 70, praticamente toda a pastagem foi plantada por mudas, porque ainda não existiam fornecedoras de sementes de forrageiras. A partir daí, apenas aquelas espécies que não produzem sementes viáveis é que continuaram sendo plantadas por meio de mudas.
Destaco aqui Brachiaria arrecta (Braquiária do brejo ou Braquiária tóxica ou Braquiária Tanner-grass), Brachiariamutica (capim-angola ou capim-bengo), Brachiaria arrecta x Brachiariamutica (capim-tangola ou Gramão do Pará), Digitaria decumbens (capins Pangola e Transvala), Hermathria altíssima (capim-hermatria) e Pennisetumpurpureum (capim-elefante), e as dos gêneros Cynodonsp (gramas Coastcross, Estrelas, Jiggs, Tiftons, etc) e Echinochloasp (canaranas prostrada, a pilosa e a lisa). E ainda a espécie leguminosa Arachispintoicultivar Belmonte (Amendoim forrageiro).
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Mas aqui o pecuarista ou o técnico perguntam: o plantio por mudas não é muito mais demorado e caro? A resposta é: sim. Então, o que justifica a escolha pelo plantio por mudas e não por sementes? Vamos lá: até o final da década de noventa, os cultivares de capim-elefante foram os mais plantados para o manejo sob cortes em capineiras e para a produção de silagem de gramíneas. A partir do início dos anos 2000, os cultivares de porte alto e muito alto da espécie Panicummaximum, particularmente o capim-mombaça, têm sido os preferidos para a produção de silagem de gramíneas, com a vantagem de serem plantados por sementes. Por isso, os cultivares de capim-elefante para a exploração sob cortes foram caindo em desuso, até o início do “modismo” com o cultivar Capiaçu.
O capim-tifton 85 tem se apresentado tanto na pesquisa como nas fazendas comerciais como a melhor opção de forrageira para pastagens irrigadas em ambientes com maiores altitudes e latitudes
A maioria das espécies forrageiras que toleram a condição de solos com drenagem imperfeita (solos temporária ou permanentemente encharcados) não produz sementes viáveis. São elas as já citadas Braquiárias do brejo, o Angola, o Tangola, as Canaranas, as gramas Estrelas e o Amendoim forrageiro.
Para a produção de feno e pré-secado, para pastagens para equídeos e para animais jovens (bezerros mamando e recém-desmamados), as melhores opções forrageiras não produzem sementes viáveis. São elas os capins Pangola e Transvala, as gramas do gênero Cynodon, por serem de porte muito baixo, apresentarem maior relação folha/caule e serem de hábito de crescimento estolonífero, que proporciona maior tolerância a cortes (para fenação ou pré-secagem) e pastejos intensos e frequentes (hábito de pastejo dos equídeos). Essas gramas também são indicadas para o plantio em terrenos com relevos ondulados.
Desde meados da década de 90, o capim-tifton 85 tem se apresentado tanto na pesquisa como nas fazendas comerciais como a melhor opção de forrageira para pastagens irrigadas em ambientes com maiores altitudes e latitudes (regiões mais ao sul do Brasil). Outra razão para o plantio dessa forrageira deve-se à sua alta tolerância a uma grande variedade de ingredientes de herbicidas, o que a torna uma excelente alternativa para áreas altamente infestadas por plantas invasoras de folhas estreitas, tais como Digitaria insularis (capim-amargoso), Eragrostis plana (capim-annoni), Paspalumvirgatum(capim-navalha), Sporobolusindicus (capim-capeta), e mesmo para áreas antes cultivadas com forrageiras que produzem sementes viáveis dos gêneros Brachiariasp e Panicumsp, etc, mas que o produtor quer substituir.
Na próxima edição, descreverei as etapas e a sequência de procedimentos para o estabelecimento da pastagem por meio de mudas.