O que uma ave do Velho Mundo veio fazer no Brasil? O estorninho-comum é originário do leste da Europa e Ásia e só pode ter chegado ao continente americano na bagagem de alguém. “As pessoas transportam aves por diferentes motivos: por que são predadoras de insetos, ou por que são belas de gaiolas”, explica o ornitólogo biólogo Ricardo Lau. Segundo ele, o comportamento dos pássaros é gregário, ou seja, vivem em bandos de dezenas ou até centenas de milhares de exemplares.
Aparência
Nos Estados Unidos, o estorninho-comum é um problema nas lavouras e causa muitos prejuízos aos produtores. “O pássaro come de tudo um pouco: insetos, sementes e grãos estão entre os alimentos preferidos”, afirma Lau.
De longe, os estorninhos são parecidos com o chupim, outra espécie de ave de penas escuras e bem conhecida nos campos do Rio Grande do Sul. Já o tamanho é semelhante ao de um sabiá.
Assim como são gregários em seus deslocamentos, as colônias de reprodução também são. Às vezes, dezenas de casais formam seus ninhos bem próximos uns dos outros. A preferência é por construí-los em ocos de árvores velhas, buracos em rochas ou sob telhas, em edificações.
Doenças
Para o especialista, que é mestre em diversidade, ainda é muito cedo para falar que essas aves são vetores de doenças ou uma preocupação para granjas comerciais de aves. “Como ela não é uma ave migradora de longa distância, não vem da América do Norte para o Rio Grande do Sul todo o ano, é um problema a menos que se tem”, diz, referindo-se a doenças.
Até mesmo na Argentina ou Uruguai que é de onde se tem notícias de bandos mais numerosos, não há o histórico de ida e volta dos pássaros. “Ele se distribui apenas, não fica migrando. Ele chega e se alastra”, explica.
Espera
A Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) divulgou nota informando que o controle de espécies em vida livre, como o estorninho, é de competência prioritária do Ibama, que é um órgão federal. O engenheiro agrônomo Ivo Lessa, conselheiro da Sociedade de Engenharia do RS e presidente da Câmara Técnica de Biodiversidade do CONSEMA fala da estratégia.
“O estorninho ainda não está sendo considerado um problema pelas autoridades ambientais do RS, pois não causou fortes impactos. Entretanto, se esperar muito, a ação pode ficar mais difícil.”
Ivo Lessa
Ele complementa lembrando o que ocorreu com o javali, que chegou a ter criatórios no estado. “Daqui a alguns anos estaremos debatendo isso dentro da Câmara Técnica de Biodiversidade do CONSEMA, ou em outros fóruns apropriados”, conclui.
O estorninho vulgar está na lista das cem piores espécies exóticas invasoras, da União Internacional para a Conservação da Natureza. Além dele, apenas outras duas aves estão presentes na lista. E, entre os mamíferos, o javali também está lá.
Saiba o que fazer ao avistar um estorninho
Os bandos avistados no Sul do estado gaúcho não têm sido tão numerosos quanto os registrados no entorno de Buenos Aires, por exemplo. “Eu tenho trabalhado diariamente em uma linha de mais de 200 quilômetros, de Livramento a Santa Maria e não avistei nenhum ainda. Nem ninguém da equipe,” conta o especialista que é consultor da ABG Engenharia e Meio Ambiente. “Mas já ouvimos relatos.”
O mais importante, explica o ornitólogo, é não tomar nenhuma atitude precipitada ao avistar as aves, como se aproximar de ninhos ou tentar eliminar os pássaros. “Caso o produtor veja algum exemplar semelhante em sua propriedade, deve informar imediatamente aos órgãos ambientais ou da agricultura, Assim, os técnicos habilitados podem identificar corretamente e tomar as devidas providências”, recomenda.
Nota da Secretaria do Meio Ambiente do RS (íntegra)
A Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) informa que o controle de espécies em vida livre, como o estorninho, é de competência prioritária do Ibama, órgão ambiental federal. Ainda assim, a Sema, por meio do Programa Estadual de Controle de Espécies Exóticas Invasoras – Invasoras RS -, criado em 2018, desenvolve ferramentas de monitoramento e detecção precoce para evitar que invasões se estabeleçam em território gaúcho.
Todas as espécies invasoras que são registradas no RS e reportadas para a Sema são acompanhadas pelo Programa Invasoras RS. A última lista de espécies invasoras (Portaria nº 79 de 2013) contém mais de 100 espécies invasoras presentes no Rio grande do Sul.