Coluna Palavra de Produtor, escrita pelo engenheiro-agrônomo, produtor de soja, milho e gado em Nova Maringá/MT, especialista em administração de empresas, autor do livro Reflexões de um Alemão Cuiabano, Rui Alberto Wolfart.
Max Weber com seus escritos ajudou a melhor definir a ética protestante e o espírito do capitalismo. Detalhou que a ética e os valores do protestantismo, somados com o ideário calvinista quanto ao ascetismo, deram origem ao capitalismo. A Constituição Federal do Brasil define claramente que a nossa economia é a de mercado. Essa conceituação é o retrato acabado do sucesso da agricultura capitalista brasileira e mundial que, no último século, tiveram resultados diferentes no confronto ideológico e das visões que os nortearam em confronto com o socialismo.
De um lado, ocorreu a explosão produtiva nos países qualificados como do Ocidente, em contraposição às ruinosas experiências nos países que envolviam a União Soviética e a China, os quais provocaram fome e destruição das suas estruturas físicas, laborais e de pesquisas. Recordamos Trofim Lysenko, nascido na Ucrânia, que manipulou o processo da produção científica para a agricultura soviética por décadas, assentada em viés ideológico e que levou a perdas e a sofrimento monumentais na União Soviética, por negar a genética de Mendel.
Recentemente, tivemos o caos instalado na produção agrícola do Sri Lanka, com graves consequências em sua economia e impactando forte e negativamente o país. A liberdade de agir e de produzir conhecimento permitiu que Norman Borlaug, com o desenvolvimento de suas pesquisas, gerasse a “Revolução Verde” a qual reduziu o número de famintos pelo mundo, tomando-se como exemplo o México, o Paquistão, a Índia e o próprio Brasil, que aumentaram as suas produções agrícolas. Essas localidades só tiveram chances de sucesso pela liberação do “espírito animal” dos empreendedores sem as amarras do Estado e de vieses ideológicos.
O caso brasileiro do trigo é emblemático quanto à intervenção estatal na comercialização e aos reveses em pesquisas que, por anos, levaram o país a declinar sua área plantada de 3 milhões de hectares para aproximados 1,5 milhão. Se, em 1915, a população mundial era estimada em 1,5 bilhão, hoje passa de 8 bilhões; como seria produzida essa montanha de comida para atender toda essa demanda com o emprego da ideologia de Lysenko? Quantas centenas de milhões de hectares não seriam necessárias acrescentar à produção se mantidas as produtividades de 1950, só como exemplo? O caso brasileiro do processo de “poupa terra” é magnífico em todas as produções, indo do arroz às carnes de aves, suínos e bovinos, levando o país a ser um player global de suprimentos alimentares.
Como seria possível fazer essa revolução produtiva sem pesquisa, gestão, inovação tecnológica e liberdade econômica para os milhões de proprietários rurais do Brasil? O que os move é o espírito capitalista de produzir e lucrar para poderem viver mais e melhor. Com as recentes alterações no comércio mundial, seja pelas consequências da pandemia da Covid, da Guerra na Ucrânia e das mudanças geopolíticas principalmente entre Estados Unidos, Rússia e China, o Brasil precisa preservar seus interesses e esforços em face da importância do setor primário para a economia doméstica e a balança comercial sob a ótica capitalista.
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