Em tempos de Expointer, evento providencial para a apresentação pela indústria e aquisição pelos produtores de máquinas e equipamentos agrícolas, o que esperar do apoio do Governo Federal?
A avaliação da realidade e eficiência do Plano Safra 2024/25 foi um dos assuntos da entrevista de Paulo Herrmann, ex-executivo da John Deere, que recentemente assumiu como CEO da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) ao programa A Granja na TV, veiculado pela Ulbra TV.
“O plano tem uma boa intenção, mas uma má execução”, esclarece.
“A intenção é boa, mas a execução não fica nas prioridades que realmente precisam ser atendidas”.
Conforme justifica o dirigente, o plano deveria ser mais efetivo em recursos para áreas de infraestrutura, como irrigação e armazenagem.
R$ 65 bilhões em perdas
Ele lembra que o Rio Grande do Sul perdeu nas últimas secas algo como R$ 65 bilhões.
“É um dinheiro que poderia ter entrado, que poderia estar circulando na economia, gerando emprego, gerando renda, gerando impostos e simplesmente evaporou por falta de água, enquanto estamos em cima do Aquífero Guarani que é o segundo maior aquífero do mundo”, adverte.
“Aqui falta uma estratégia determinada para se fazer irrigação. O Brasil irriga tão somente 10% da sua área plantada”, cita.
Déficit de armazenagem
E Herrmann apresenta como segundo exemplo do plano mal pensado os recursos insuficientes para a armazenagem, segmento do agro brasileiro que tem um déficit de 100 milhões a 110 milhões de toneladas de grãos.
“Neste sentido o Brasil é refém da sua própria competência, da sua eficiência. Nós colhemos 300 milhões de toneladas e temos silos, capacidade estática, para armazenar 200 milhões”, avalia.
“Esta diferença força o agricultor a vender o seu produto no pico da colheita, quando os preços estão mais baixos, quando o prêmio no porto é negativo e quando os fretes estão mais elevados”, alerta.
Herrmann lembra que o Brasil só armazena na propriedade 15% do que produz, enquanto os produtores americanos guardam 65% de suas produções dentro da propriedade.
Assim, na agricultura brasileira não tem como o produtor segurar o seu produto na propriedade, e o leva ao mercado imediatamente após a colheita, “e aí todo mundo tira proveito do agricultor”.
“A quantidade de recursos aportados no PCA (Programa para Construção e Ampliação de Armazéns) e no Proirriga são insuficientes para atender estas demandas estratégicas”, lamenta.
Expointer da retomada
“É a Expointer da retomada, a Expointer de olhar para a frente, a Expointer de levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima”.
“É emblemática, a gente vai reunir as forças para seguir em frente”.
Herrmann explica que os anos 2021, 2022, 2023 e primeiro semestre de 2024 tiveram “vendas deprimidas”, e a esperança é que uma boa carteira de pedidos na feira, já que o plantio da próxima safra de avizinha.
Para ele, os produtores precisam de equipamentos que não foram comprados nos anos anteriores, o que significa que terão que fazer uma renovação dos equipamentos da propriedade.
Mais sobre as máquinas na feira em Expointer: pela retomada, setor de máquinas e equipamentos apresenta inovações
“Vai ser uma feira bem debatida, temas não faltam, temas de curto prazo e temas de médio e longo prazos”, diz
Segundo ele, no curto prazo há “muita gente envolvida”, e espera-se o cumprimento de promessas, pois os agricultores gaúchos severamente atingidos pela hecatombe que se levantem novamente e se encorajem e sigam a sua caminhada, e que seja feito este debate, pois e “tem gente muito importante envolvida”.
“Precisamos entender que o problema das cheias foi muito sério e não dá para minimizar o problema. E neste sentido o que os agricultores estão buscando é exatamente o que lhes foi prometido nas diversas visitas que foram feitas para ver o tamanho da catástrofe. Então, eu sou solidário com estes movimentos”, destaca Herrmann, se referindo ao momento atual em que se encontra a agricultura.
Modernização da indústria
“Agora cabe a uma organização como a Fiergs e jogar luzes para a frente. Se usarmos a nossa indústria, e a indústria do Rio Grande do Sul cresceu em 20 anos apenas 2%. A sua produtividade estagnou ao longo de 20 anos. O equipamento que nós usamos dentro das fábricas tem de 15 a 20 anos de idade. É um equipamento antigo, obsoleto e que opera com baixo nível de qualidade. E além de tudo isso, temos uma fuga de talentos”, ressalta.
“Então em cima destes temas que são estruturantes, temas que precisam ser encarados concretamente e não apenas em narrativas e discursos, é que a Fiergs está colocando a sua energia e vai, nos próximos meses, apresentar planos bem concretos para que a gente possa investir neste campo da competitividade”, anuncia.
“Ficamos para traz de vários estados e Santa Catarina é um exemplo que tem mostrado grandes avanços em termos de eficiência e competitividade”.
Ele exemplifica a implementação, em 2000, do Moderfrota, que foi fundamental para modernizar as máquinas agrícolas em uso pelos produtores pelo Brasil, o que colaborou para a indústria gaúcha, responsável por 60% da produção deste segmento.
“Esta defasagem tecnológica de máquinas (agrícolas) usadas no Brasil e no Rio Grande do Sul usadas na Europa e nos Estados Unidos já não existe mais. E por isso estamos trabalhando para criar um programa semelhante que seja estendido também para a indústria metal-mecânica, da construção e todas as indústrias que estão debaixo do guarda-chuva da Fiergs”, revela.
Veja a entrevista completa no link abaixo. Assim como mais informações sobre o agro no programa A Granja na TV, na Ulbra TV (Canal 48.1 TV Digital e 521 da NET Porto Alegre), diariamente às 17h30min e com reprise às 7h30min do dia seguinte