A Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) alerta para a ameaça real de prejuízos à safra de soja do país decorrentes da falta de produto adequado para dessecação. Ou seja, a aplicação preparatória de herbicida a fim de deixar a lavoura uniforme para a colheita do grão.
Esse problema atormenta os produtores desde que a Anvisa baniu o uso e a comercialização do Paraquat, em setembro de 2020. A decisão obrigou agricultores a buscarem herbicidas similares no mercado. “Embora apenas o Diquat tenha a mesma função e a mesma qualidade”, alerta a nota da associação.
Disponibilidade
No entanto, a grande demanda pelo Diquat não é atendida pela indústria. A Syngenta, a titular do registro, emitiu nota em 23 de dezembro de 2021 informando não haver produto em quantidade disponível no mercado para atender à demanda brasileira.
Inclusive, a empresa não está cumprindo com as vendas já efetuadas e não tem o produto para entregar. Segundo a Aprosoja Brasil, há reclamações de produtores de todo o país que compraram e ainda não receberam o item.
Diante desse impasse, a Aprosoja Brasil solicita ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) a liberação emergencial do registro de herbicidas para a importação direta de Diquat. “De modo a permitir que os produtores de soja possam fazer a dessecação desta safra.”
Liberação
A entidade entende que seria importante lançar mão de produtos disponíveis em países do Mercosul. E tem conhecimento de que existem empresas no Brasil aguardando a liberação do registro de outros com o mesmo princípio ativo do Diquat. Assim como empresas no Paraguai e em outros países também possuem disponíveis produtos no mesmo percentual de princípio ativo. “Por isso, pedimos a liberação urgente.”
A Aprosoja Brasil solicita também a liberação emergencial do uso do Paraquat, seguida de revisão da decisão da Anvisa, que baniu o produto. A entidade acredita que esta é a única forma de resolver os problemas das safras futuras.
Impacto
A ausência de produto trouxe impacto no bolso do produtor rural, com uma elevação de mais de 300% do seu valor, cotado em dólar, devido à falta de um concorrente.
Atualmente um litro custa mais de R$ 100,00, enquanto na safra passada pagava-se em torno de R$ 30,00. Além do valor mais elevado ao sojicultor, o risco de perder a produção e a qualidade dos grãos também é do país, com diminuição de divisas nas exportações.
A Anvisa argumentou à época que o banimento do Paraquat era necessário pelo fato de ser altamente tóxico e com riscos desconhecidos à saúde do aplicador. No entanto, ao emitir a Resolução 177 (21.09.2017), a própria agência exigiu medidas restritivas para garantir a segurança dos profissionais.
Medidas
Entre elas, a aplicação apenas com veículo de cabine fechada, a proibição para pulverizações aéreas e o veto ao uso de bomba costal. Portanto, os problemas apontados estavam resolvidos com a obrigatoriedade de medidas de segurança para produtores e trabalhadores no campo.
O uso do Paraquat é permitido nos Estados Unidos e na Argentina. Ou seja, os principais concorrentes do Brasil em cultivo de soja.
Recentemente o Paraquat foi reavaliado e seu uso mantido no Canadá e na Austrália. Nesses países não foram comprovados danos à saúde quando a aplicação cumpre as exigências, as mesmas definidas para o Brasil.
“O banimento do Paraquat e a falta de Diquat obrigou produtores a usarem produtos que não são adequados para a dessecação de soja. Isto deixa claro que a agência ignorou em sua decisão o impacto regulatório para as boas práticas agronômicas e a elevação de riscos com o uso dos produtos alternativos.” A proibição ocorreu mesmo após a Aprosoja Brasil ter apresentado evidências de que não havia disponíveis substitutos à altura do Paraquat.
A entidade questiona: “A Anvisa vai arcar com os prejuízos que os produtores rurais estão tendo? E a conta da sociedade que amargará pressões inflacionárias cada vez maiores com a queda de produtividade da soja, quem vai pagar?”