A Fazenda Santa Nice, de Amaporã, no noroeste do Paraná, dedica-se à seleção de animais Nelore PO desde 1944, mas também destina parte do negócio à pecuária de corte, onde coloca os descartes das receptoras meio-sangue Angus X Nelore em pastejo ultraintensivo.
Há seis anos a propriedade realiza o manejo que hoje coloca 2.500 cabeças por hectare. “Buscamos replicar a forma como os herbívoros selvagens alimentam-se na natureza, sempre em grandes manadas, compactas e migratórias, pastejando rapidamente em uma área e logo se movendo para a próxima”, explica Marcelo Grisi, titular da Fazenda Santa Nice.
Segundo o criador, a alta densidade animal causa um grande impacto na melhoria da pastagem pela ação dos cascos, pois enterram as sementes, depositam uma grande quantidade de dejetos, promovendo uma adubação natural e transmitindo promotores naturais de crescimento para o capim, existentes na saliva dos animais.
“Então, quando esses animais pastejam e causam esse impacto, a fotossíntese da planta é potencializada, algo que acaba favorecendo a saúde do solo, a ciclagem de nutrientes e da água”, explica. É um manejo que busca harmonizar os princípios da fisiologia vegetal com as necessidades qualitativas dos animais.
A Fazenda Santa Nice trabalha com sete módulos de “ultra-alta” densidade: lotações estáticas que vão de 1.000 a 2.500 UA/ha, com piquetes móveis de 0,4 a 1 hectare, com quatro a cinco movimentações diárias.
“Quando falo em lotação estática, me refiro à quantidade de UAs (unidades animais) dividida pela área do piquete móvel oferecida em um determinado momento. Não confunda com a capacidade de suporte, que considera a área total na qual os animais estão rodando”, esclarece Grisi. Tratando-se de lotação de pastagem, seria o equivalente a 6 cabeças/ha/ano.
Em função dessa competição, por conta do adensamento, o produtor de Amaporã/PR revela que os animais mudaram os hábitos de pastejo, passaram a comer de uma forma não seletiva e com muito mais voracidade.
“Isso resulta numa altíssima eficiência de pastejo, uma vez que o animal come boa parte da forragem produzida. Além disso, a gente deseja que parte desse material produzido seja pisoteado e volte ao solo, formando uma camada de proteção e alimentando a biologia do solo”, diz o criador.
Vale salientar que a região do noroeste paranaense está sobre solo arenoso (Arenito Caiuá), com apenas 9% de argila e com baixos níveis de matéria orgânica, o que justifica a preocupação com a deposição de matéria orgânica.
Para tanto o titular da Fazenda Santa Nice utiliza um mix de cultivares de inverno e, há dois anos, vem tentando algo similar com as pastagens de verão. Claro que um manejo desta magnitude também necessita de uma ótima estrutura, uso da tecnologia de cerca elétrica e alinhamento entre a equipe.
Resultados do pastejo ultraintensivo
Quando se opta pela intensificação de pastagem, Grisi esclarece que se prioriza muito mais o ganho por área do que o ganho por cabeça. “Agora, quando o animal pode comer de forma seletiva, obviamente terá um desempenho individual melhor, contudo, quando o pecuarista adota o sistema de pastejo não seletivo e voraz, com essa densidade, ele terá uma taxa de lotação maior”, compara o criador.
Nos módulos de pastejo ultraintensivo, a Santa Nice obteve o GMD (ganho médio diário de peso por animal) de 695 gramas com as receptoras meio-sangue Angus X Nelore, que, conforme Grisi, é rentável para o sistema produtivo atual da fazenda.
“A gente fez um levantamento no último verão. A produção de arrobas, no sistema de alta densidade, foi o dobro da média das áreas de manejo menos intensivo. Já nas áreas irrigadas, a gente produziu 55@/ha/ano. Mas isso envolve outro conceito, porque adubando pesadamente, pode-se conseguir 70@/ha/ano ou até mais. Contudo, penso que cada vez mais não é quanto eu produzi, mas quanto foi meu lucro por hectare”, conclui.