Coluna Prosa com Teia Fava, escrita pela pecuarista, empresária e diretora da Acrimat na Região Médio Araguaia, Teia Fava.
Tirar férias deveria ser algo planejado, resolvido, detalhado e, sem sombra de dúvidas, uma forma de deixar a cabeça vazia de problemas e… bora se divertir! Sim, deveria ser assim, mas parece que o produtor rural não foi apresentado a esse tipo de férias. Só na vontade!
Planejamos uns dias nosso feriado de carnaval, junto com amigos que também são pecuaristas como eu. Estávamos em oito pessoas, sendo duas crianças, filhos de um casal, duas amigas, meu marido e eu, e fomos ao Guarujá. Saímos de carro até Goiânia, avião até São Paulo e acabamos de chegar ao nosso destino, de carro.
Chegamos em horários diferentes e aqui não cabe relatar os motivos e, claro, acordamos em horários diferentes também. Eu sou de “madrugar”! Então, café da manhã a postos, respirando o ar da folga e de um dia lindo de praia, cabeça vazia de pensamentos, marido acordado também, chega o amigo, saindo do quarto, cara de amanhecido e com a seguinte pergunta: você sabe de alguém que tenha uma calcareadeira para vender?
(Aqui cabe uma caretinha de emotions) Uai… Cadê o bom dia? Enfim, assim começaram nossos dias de praia, férias e descanso! Em meio a caipirinhas de maracujá e limão, churrasco no apartamento, um pouco de praia, chuva, muita chuva, nem preciso dizer que ali compartilhamos diversos assuntos: colaboradores, problemas com manutenções de implementos, preço do diesel, onde se compram insumos, marca de sementes, tempo, clima, preço do boi, temas variados… mas todos sobre o mesmo viés: agro, fazenda e suas variantes!
É muito difícil sair do agro para quem é do meio. Dizemos que as férias são o período onde mais produzimos. Essa troca de informações acaba sendo boa, de certa forma. Ali, entre amigos, acabamos trocando sacos de sementes de pastagens por novilha, o famoso escambo.
Alinhamos empréstimos de terraceador, trator, falamos de estradas mal conservadas, alugamos colheitadeiras para vizinhos que plantam soja, políticos comprometidos com o agro de fato, e outros assuntos… outros??? Sim, porém sempre relacionados ao agro.
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Não quero com isso dizer que não temos outras conversas. Temos sim, entretanto quem é do agro, o é com tanta paixão, que fala no assunto assim como mulheres que falam entre si, sobre moda, chefs de cozinha falam sobre sabores, amantes de viagem falam de suas experiências vivenciadas em lugares maravilhosos que já visitaram. Quem é do agro, ama o agro e todo o assunto que o cerca!
E não consegue sair dele em momento algum, nem nas tão sonhadas férias. A ponto de, em certo momento, meu marido solicitar que a nossa viagem de abril, já marcada há tempos, fosse revisada e que pudéssemos ficar menos tempo.
Pelo que pude perceber, esses longos dias – próximos a uma única “longa semana” – deram tanto trabalho a ele, por estar de longe, e tudo acontecendo na fazenda, que acha que 15 dias fora serão, literalmente, um caos!
E aí vem o tema do artigo desse mês. PLANEJAMENTO!
Mas, Téia, outra vez esse mesmo assunto? Sim, outra vez e quantas mais forem necessárias! Minha lição de casa não está bem feita como eu gostaria que estivesse. Haja vista ter saído para descansar a mente e acabamos tendo problemas enquanto estivemos fora. Problemas “resolvíveis”, claro, no entanto sempre tomando maior dimensão do que eram pra ter, de fato.
Às vezes, as pessoas que estão ao nosso redor ainda não estão prontas para liderar com tarefas sem nossa supervisão; então, sempre me pergunto de quem é a culpa nesses casos. Será que somos bons gestores? O mundo não tira uns dias de férias? Por que não conseguimos desligar por alguns poucos dias, afinal?
Pensemos nisso. Precisamos ter nossos dias de paz, de tranquilidade, olhando o belo que a vida proporciona em outros horizontes que não sejam os nossos. Hoje, foi no Guarujá; amanhã, será em outro lugar fora do nosso habitat natural. Tantos lugares com tanta beleza que os cercam.
E você, como faz suas férias? Consegue se desligar?